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terça-feira, 29 de março de 2011

A cidade dos homens?

De Redmond, Seattle, EUA - As cidades pertencem aos homens. Não? Pois supõe-se que a urbe o é porque compõe-se do coletivo, do ajuntamento de seres. Ayuntamientos, em espanhol, significam as pequenas microrregiões que derivam as cidades. Na França, se diz ayuntamientos, também, salvo engano, ou qualquer coisa parecida, que quer dizer o mesmo: pessoas ao redor de si mesmas que se juntam para, teoricamente, definir algo em comum.




As cidades modernas também se definem como metropolitanas. Temos, no Brasil, a Grande São Paulo, que extrapola o município de São Paulo e engloba nada menos do que 39 municípios/cidades que gravitam em torno do astro de todas, a própria cidade de São Paulo.


Estou agora mesmo, neste momento, numa região metropolitana. A cidade é Redmond. Mas, pertence à Grande Seattle. Aqui na fronteira com o Canadá, nessa pequena e gelada Redmond, dá para, em 15 minutos, chegar a Seattle, que é a grande fronteira que separa o Norte dos Estados Unidos do Sul do Canadá.


Assim que cheguei, tentei caminhar nas ruas circunvizinhas ao hotel. Digo que tentei porque não passou disso o meu ato: tentativas. Foram duas. Na primeira, desanimei com o tempo úmido e frio e voltei, depois de circular em três quadras. Na segunda, fui mais longe e andei umas cinco quadras.


Nessas duas tentativas, encontrei apenas dois pedestres e um ciclista. Os demais homens da cidade eram motorizados. As calçadas me comprovaram que poucos são os que se dão ao trabalho de palmilhar aqueles chãos. Musgos crescem à vontade, sinal nítido de que não se caminha nesta cidade.




No final de janeiro deste ano, estive em Orlando, também nos Estados Unidos, e fiquei estarrecido com o fato de que, para atravessar uma longa quadra e ir para o outro lado, eu não podia fazê-lo a pé: para surpresa do taxista, disse que não entendia porque, com tanto espaço (exceto pelas calçadas, que não as havia), as pessoas preferem caminhar uma ou duas quadras dentro de seus confortáveis automóveis.




Aqui, hoje, nessa pequena (mas não pacata) cidade-satélite de Seattle, que abriga uma das maiores companhias de tecnologia do mundo, as pessoas com as quais cruzei em seus carros se estranharam de me ver. Digo que as estranhei mais porque perderam o hábito de caminhar pelas ruas. Os sinais de pedestres, obedientemente, não são capazes de ficar acesos por 20 segundos: as ruas foram feitas para os carros, não para pedestres desavisados que teimam em atravessar largas avenidas.




Temi que por detrás de mim apitassem e me mandassem parar. Que eu estava a desviar a atenção do trânsito a andar como se fosse uma coisa natural. Temi que me tirassem das ruas e me obrigassem ao abrigo de um motor. Por fim, desanimado com as distâncias (uma quadra é uma grande quadra, e não uma quadra razoável como as de São Paulo), voltei ao hotel e me quedei, órfão de ruas.


Uma cidade, que, teoricamente, é dos homens, se conhece pelas ruas, calçadas, pequenas vielas e passagens. Mas, não nos Estados Unidos. As ruas pertencem aos carros e somente a eles. Os motores são os verdadeiros reis da rua. A cidade é do veículo. Os homens? São apenas condutores.




As imagens e o filme deste post foram feitos através da janela do meu apartamento em tarde fria, chuvosa e, claro, absolutamente motorizada. Porque os Estados Unidos se movem por motores. Acho que, finalmente, entendi no que veio dar a Revolução Industrial da Inglaterra. Se era para chegar a isso, melhor seria ficarmos a fiar os fios na roca mesmo.

2 Comentários:

João Roque disse...

Faz-me lembrar o "Blade Runner"...

Redneck disse...

João, por ser real, e não ficção, como o filme, creio que é pior do que Blade. O filme rompeu com aquilo tudo. Na vida real, assim, as pessoas dificilmente quebram o establishement. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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