Adeus, Amy Winehouse!
Alguns (muitos) de nós não vivem, exatamente. Sobrevivem, de sobressalto em sobressalto, assaltados por dúvidas, incertezas, desvarios, descarrilamentos. Vagões que vagam sobre os próprios pesos. Almas perturbadas, vivem como se tomassem de empréstimo a vida. E vivem de sopros, como se a súbita falta de ar fosse o fim. Uma angústia sem fim, regada a bebida, temperada com farinhas tóxicas, mantida a injeções artificiais de ânimo, suprida por artificiais pílulas com datas de vencimento já prescritas.
Foi assim com Amy desde o momento em que pusemos os olhos (e ouvidos) nela. A diva soul que, rouca, com perucas gigantes e vestido rodado, trazia de volta aquelas velhas ladies do jazz norte-americano. Pela primeira que vi um show, em DVD, fui completamente envolto pela aura de Amy.
Depois, em janeiro deste ano, a vi ao vivo. Não viva. Se posicionava inerte no palco. O vagão não tinha peso para animá-la. Era apenas uma boneca: rígida, insegura, amedrontada. Parecia não estar ali e talvez não estivesse mesmo. Magérrima, era incapaz de movimentos. Ficou o tempo todo petrificada, quase a ponto de debandar. A impressão era que se perguntava por que, afinal, estava ali, na frente de toda aquela gente.
Acabou como o previsto, inúmeras vezes. Se machucou, por certo, outras inúmeras vezes. Quando em São Paulo esteve, relataram, na festa que deu após o show, que ela estava com marcas roxas pelo corpo. Auto-destrutiva, chegou a gravar uma tatuagem com restos de vidros de garrafas de vodca. Bebia com mendigos em Londres e os acolhia em casa. Talvez por se ver mendiga da vida.
Sinto muito por toda a dor de Amy Winesouse. Que precisou de uma overdose para acabar com tudo. Alguns de nós não vivem. E tampouco sobrevivem.
Abaixo, o vídeo (uma vez mais, mal feito, sorry) que fiz de "You Know I'm No Good". Não Amy, ninguém é bom. E todos sabemos disso.
2 Comentários:
Apesar de "tudo", invadiu-me uma profunda tristeza...
João, eu lamento, pelo tudo e a despeito do tudo. Era uma pessoa angustiada que não aguentou a vida. De certa forma, eu a compreendo. Beijo!
Postar um comentário