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sábado, 12 de março de 2011

Plano Nacional de Bunda Larga

O governo federal tem um plano: de estruturar uma rede de backbones (que conectam as residências aos provedores de acesso à internet) para baratear o preço dos links para o varejo e, com isso, possibilitar que 40 milhões de domicílios acessem a rede até 2014 a preços que oscilam entre R$ 15 a R$ 35 mensais.




Se isso se concretizar (por ora, o Plano Nacional de Banda Larga - PNBL está em fase de licitações para a compra de equipamentos e outras contratações), significa que metade das casas brasileiras, que abrigam mais de 90 milhões de pessoas, terá acesso à internet. Ou seja, 50% da população do País seriam incluídos na web.


Os acessos, no entanto, estão longe do que se considera alta velocidade. O PNBL prevê duas categorias de preços (ainda que o próprio PNBL não forneça o acesso final ao usuário): de R$ 15 mensais para velocidade de conexão (de download) até 512 Kbps e de R$ 35 mensais para velocidade entre 512 Kbps e 784 Kbps. A largura de banda não chega, portanto, nem a 1 Mbps, enquanto em alguns países, como EUA, Finlândia e Coréia do Sul, já se estabeleceu que as conexões devem ser de, pelo menos, 100 Mbps!


Sou usuário antigo da internet. Pelo menos desde 1996, antes mesmo de se criar a atual internet como a conhecessemos, eu acessava da sala de casa, via Macintosh, uma BBS (Buletin Board System), um sistema que permitia, nos primórdios da internet comercial, a conexão entre um computador, o telefone e um provedor de conteúdo (os BBSs).


A internet comercial, sob o padrão TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol), que sustenta toda a estrutura da world wide web (WWW), se estabeleceu exatamente em 1996 e, a partir daí, se estendeu das empresas às residências.


Ainda em 1996, formalizei contrato com o meu primeiro (e único, até o momento) provedor de acesso, ainda com a conexão discada (ou dial-up), via cabo do telefone (o telefone ficava ocupado e não era possível usar simultaneamente o serviço de voz e o serviço de conexão de internet). A velocidade máxima era de 56 Kbps.


Não me recordo quando migrei para a banda larga. Mas, sou heavy user e devo tê-lo feito assim que a Telefônica, no Estado de São Paulo, começou a oferecer o serviço. Fiquei muitos anos conectado ao serviço da operadora espanhola. Até porque não havia opção. Quando a NET, operadora de TV paga, começou a oferecer o acesso de banda larga, migrei para a empresa. Eu já era assinante de TV paga da empresa. Migrei também para o serviço de voz, já que o combo (voz + TV paga + banda larga) era bastante atraente financeiramente.


No início, acho que a conexão era de 512 Kbps (a mesma que o governo federal considera "banda larga" segundo o PNBL). Depois, migrei para 1 Mbps e, mais tarde, para 3 Mbps. Bem, não sei se você sabe, mas, para as empresas, existe um conceito chamado Service Level Agreement - SLA (ou acordo por nível de serviço), pelo qual o fornecedor de banda larga se compromete, contratualmente, a oferecer uma qualidade de conexão que chega a 99,99%. Por exemplo, se a empresa contrata 10 Mbps, o fornecedor tem que entregar, pelo menos, 9,99 Mbps. Se isso não acontecer, o fornecedor terá que pagar multa.


Mas, para manter um contrato desse tipo, é necessário ter poder de fogo. Ao qual costumamos chamar vulgarmente de "dinheiro". Empresas têm esse poder. Usuários domésticos, comprometidos com coisas mais prosaicas como alimentação, vestuário e habitação, não o têm.




A banda larga brasileira é uma das mais caras do mundo. Estudo feito pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 154 países mostra o Brasil em 114o. lugar, atrás de países como Argentina, Índia e China. Isso vale tanto para o acesso móvel (telefonia celular) quanto para o fixo (telefonia convencional).


Alega-se (as empresas de telecomunicações) que esse preço é por conta dos impostos (em média, de 45% sobre os serviços de telefonia), da infraestrutura precária (que as concessionárias privadas detêm desde 1998, ou seja, há 13 anos, prazo suficiente para modernizar completamente as redes) e por conta do famigerado custo Brasil (no qual são lançados todo e qualquer valor que não cabe em outras planilhas).


Isso é uma bobagem sem tamanho. Todos os 154 países pesquisados pela ONU pagam impostos sobre telefonia. Todos (ou quase) têm redes antigas (o telefone data de 1849, quando o italiano Antonio Meucci fez a primeira transmissão de voz, e não quando Graham Bell o patenteou, em 1876; Bell comprou a patente de Meucci em meados de 1870). A primeira rede comercial telefônica foi justamente a da Bell Telephone Company, fundada pelo sogro de Graham Bell em 1877.


Portanto, as redes telefônicas fixas têm 134 anos de existência a partir da primeira instalação comercial. São centenárias no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos e não há porque se contestar sua infraestrutura já que, com intervalos de poucos anos, se modernizaram igualmente em quase todas as partes do mundo.


No Brasil, operam a telefonia fixa e a internet grandes players de telecomunicações - Telefónica/Vivo, da Espanha, Claro/Embratel/NET, do México, Oi, do Brasil, GVT, da França, e TIM, da Itália. Todas oferecem banda larga e são proprietárias dos maiores backbones desse País. Portanto, são essas empresas que nos cobram um dos mais caros acessos à internet do mundo.


Sou assinante da NET, controlada pelo mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, em banda larga justamente porque o mesmo serviço que a Telefônica me oferecia era sofrível. No jargão de telecomunicações, cometi o "churn", que vem a ser a migração voluntária de uma operadora para outra. Fiquei satisfeito no início. Hoje, alguns anos depois do churn, estou churl (rude, mesquinho). Me sinto medieval, rústico, pronto para ser rude com essa operadora assim como ela me trata: como um cidadão medieval que está a anos-luz das luzes do Renascimento. O que dirá da idade do telefone. E o que dizer da banda larga, criada apenas a partir de 1997, apenas uma adolescente de quase 15 anos?


Pago R$ 59,90/mês por um acesso de 1 Mbps. São R$ 2/dia. Ligo o computador de casa por poucas horas. Em geral, depois das 22 horas. Ou durante o dia nos finais de semana. Regredi do acesso de 3 Mbps para 1 Mbps porque tinha convicção de que dava na mesma. A diferença não estava na qualidade, precária em ambos os casos, e sim apenas no preço, maior pelos 3 Mbps aos quais eu nunca tive acesso. Nas poucas horas que uso a internet, duvido que eu tenha uma conexão melhor do que os 56 Kbps da pré-história da banda larga.


O acesso móvel é proibitivo, de tão caro. O acesso fixo é uma vergonha. Não tenho um programa que acompanha a qualidade de conexão no meu computador e nem preciso tê-lo para saber que, a cada hora, a minha conexão deve falhar, no mínimo, umas 45 vezes. Portanto, a cada 60 minutos, devo ter uma internet (de 100 Kbps, no máximo), de 15 minutos. Se tiver.




Portanto, isso é o que temos, empresas e cidadãos, no Brasil: um Plano Nacional de Bunda Larga. A bunda, ou nádegas, se o preferirem, fica larga e plana de tanto se achatar à espera de uma conexão que não vem. É uma espera por Godot que, assim como acontece com o personagem, não se concretiza.


Perdi a conta de quantas vezes apenas desliguei o computador irritado por não ter o serviço (enquanto escrevia este post, o serviço oscilava e as luzes do modem foram mais intermitentes do que nunca e permaneceram mais apagadas do que acesas e, por isso, demorei quase 2 horas para escrevê-lo).


Deveríamos, todos os usuários (somos quase 40 milhões de pagantes), promover o Dia da Bunda Larga. Porque se essa é a parte do corpo pela qual o Brasil mais se contorce, deve haver uma iniciativa para preservar as famosas bundas brasileiras e não deixá-las perder o contorno curvado pelo qual são conhecidas e passarem a ser planas, de tanto esperar achatadas que estão pela inércia da banda larga.


Proprietários e proprietárias de bundas (e de bandas) largas: uni-vos! Coloquemos em marcha o Plano Nacional de Bunda Larga pela preservação de nossos bumbuns. Os bumbuns, unidos, deverão ser suficientes para alargar a mentalidade dessas porcarias de empresas que ganham sem o menor esforço. Ao invés de mostrar dedos em riste para o péssimo serviço, mostremos nossas bundas para as faces de quem não tem vergonha na cara e, muito menos, na bunda. Quer dizer, na banda.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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