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domingo, 24 de outubro de 2010

Meu rugido dominical



"In God we trust" (Em Deus nós confiamos) é a inscrição que está na moeda norte-americana, o dólar. Sem dúvida, o dinheiro mais conhecido e desejado do mundo. A mim me soa particularmente cínica essa associação entre o capitalismo e o divino, como se o segundo fosse garantir o lastro do primeiro ao nele estar colado. Esse princípio 'cristão' impresso naquela que é a moeda mais corrompida do mundo, ainda que eu não seja, por natureza, um assecla religioso, a mim me parece, no mínimo, primitivo unir os mundos sagrado e profano como se isso fosse materializar a redenção do humano ante os portões do julgamento final.


Sou cético e agnóstico. Tudo o que começa aqui acaba aqui mesmo. Sou, como humano, apenas parte da cadeia e, guardada a pecha intelectual que me faz e a todos pensarmos e articularmos sob os mais variados artifícios, no final somos, ainda assim, apenas início, meio e fim.


Portanto, e sem qualquer laivo de ira ou de conformismo, quero criticar essa estranha guerra santa que invadiu um terreno que deveria ser predominantemente laico. Me refiro à disputa presidencial brasileira que tomou proporções de cruzada: um lado empunha bebês assassinados como se bandeiras fossem e o outro toca cornetas como se os portões de Jericó estivessem sendo colocados abaixo.


Vimos, no feriado da padroeira do Brasil, dois contritos candidatos - José Serra e Dilma Rousseff - a orar e entoar cânticos como se coroinhas fossem desde criancinhas. Ambos me passam a impressão de que, no íntimo, pouco se lhes dá se o mundo é muçulmano ou budista, conquanto conquistem seus objetivos.


Empunharam, pois, bandeiras de alta coloração religiosa porque se dobraram às cobranças que vieram por todos os lados. Você é a favor do aborto? Não, sou a favor da vida! Óbvio que somos todos a favor da vida. Porque somos, antes de tudo, pela sobrevivência, ainda que isso signifique deixar o outro para trás. Não, não duvide disso. Asseguro que você e eu, em hipotético risco iminente de perda dessa tão preciosa vida, não hesitaremos, caso caiba a apenas um o direito de ficar, em nos debater feito gladiadores.


Então, absolutamente não entendo porque um é chamado de assassino de crianças enquanto o outro tem no passado exatamente um aborto.


Não entendo porque os respectivos programas abortaram, eles sim, os programas, abortaram debates muito mais importantes. Ao contrário, focaram holofotes em banhos de sangue, orgias entre gays e, olhe só, até mesmo atentados praticamente terroristas, com um a ser atingido por uma bola de papel e a outra por um saco d'água. Parece brincadeira de papel, pedra e tesoura. Aquele que levar a tesoura corta o avanço do outro.


Engraçado que um e outro partidos, o PT e o PSDB, têm, em suas hostes, pessoas absolutamente qualificadas para tirar da pauta esse debate fundamentalista. Ao contrário, foram justamente essas pessoas que relegaram o debate a temas como esses. Fizeram de fetos publicidade negativa para o outro lado. Fizeram da proposta de união civil entre pessoas do mesmo sexo uma verdadeira bacanal. 


Chegamos ao cúmulo de representantes da tão pura igreja católica - que ama criancinhas - sair a público com panfletos. Laicismo? Sabe o que é? Estado laico: separado da religião, de qualquer religião. O contrário do Estado laico é o Estado teocrático. E estados teocráticos, geralmente, são fundamentalistas porque guiados por pedaços de papel seculares. Que, olha só que divertido: não caíram do Éden, e sim foram confeccionados, os santos textos, por homens. Muito provavelmente, por homens politizados que foram, admito, visionários que juntaram Estado e divino para conter a sociedade. Espertos os políticos da Antiguidade, não?


Pois, cinco mil anos depois (minha contagem parte da era da China, e não da cristão, já que estou aqui a defender a opinião laica), estamos, no Brasil, numa disputa salomônica na qual, ao invés de se esquartejar um bebê, esquarteja-se o avanço. Coloca-se a religião, o direito individual e as liberdades para engrossar um caldo que não chegará para aplacar a fome de ninguém. Sairemos, nós, eleitores, mais empobrecidos do que entramos. Numa disputa que, de fato, não é nossa, da sociedade. E sim de dois partidos, duas pessoas.


Que pobreza. Temo que vou começar a dizer quem em Deus nós confiamos porque aqui, na terra, não há a menor possibilidade de confiar nos humanos. Céus!

2 Comentários:

João Roque disse...

Isso por aí esta mesmo quentinho...

Redneck disse...

E, felizmente, chegou ao fim neste domingo. Quer dizer, da competição sem compostura em que se transformou essa disputa presidencial. Creio que ainda teremos mais falta de decoro. O que é lastimável. Mas, tem tudo a ver com a contemporaneidade, que não preza, exatamente, pela polidez. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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