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domingo, 3 de outubro de 2010

Meu rugido dominical (*)



São 23:55 de domingo, 3 de outubro de 2010 e, depois de pouco mais de 7 horas, está encerrada a apuração dos 136.004.825 votos de cidadãos brasileiros neste primeiro turno das eleições 2010, na qual votamos para presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual entre as 8 da manhã e 17 horas deste dia frio e chuvoso que, durante a manhã e parte da tarde, houve por bem manter-se estável, tanto no clima metereológico quanto no clima emocional. Ao menos na cidade de São Paulo. Demorei 25 minutos para votar: foi o tempo de espera na fila. Voto na 9ª. seção da zona 001 da cidade de São Paulo. Tradicional, essa seção nunca tem filas. Hoje, 15 pessoas estavam à minha frente. Conforme o processo eleitoral se sofistica, com a digitalização do sistema, as pessoas mais idosas se atrapalham. E foi o que aconteceu: os eleitores acima da faixa dos 70 anos perguntavam aos mesários - o que é proibido - o que deveriam fazer. O engraçado é que eleitores acima dos 70 anos estão completamente dispensados do voto obrigatório. Ou seja, lhes é facultado o direito de votar ou não. E eles votam. Gosto disso.


Teremos o segundo turno para a escolha do próximo presidente, dentro de 28 dias, entre a candidata Dilma Rousseff, do PT, e o candidato José Serra, do PSDB. Dilma teve 46,87% do total dos votos válidos (exceto as abstenções, brancos e nulos), com 47.532.695 votos ante os 32,63% de votos de Serra, que teve 33.086.757 dos votos válidos. A terceira candidata, Marina Silva, do PV, teve 19,35% dos votos válidos, com 19.624.124 votos. Os demais votos foram para outros seis candidatos. 


Do total de votos, a abstenção foi alta: 18,16% do total, o que significa 24.657.476 votos. Outros 6.110.297 milhões de votos foram anulados pelos eleitores. E mais 3.478.614 foram votados em branco. De forma que os votos válidos foram 101.505.337. Isso significa que 31 milhões de eleitores lavaram as mãos e abstiveram-se de tomar qualquer decisão quanto ao futuro chefe do Estado deste País. É um percentual alto, de quase 25% sobre o total dos votos - 136.004.825.


Como já é histórico no Brasil, o fato de um presidente ser querido pelas massas - como é Lula, que tem mais de 80% de aprovação popular - não significa uma transferência automática de votos para a candidata por ele indicada, Dilma. Desse percentual de aprovação de Lula, ao menos 30% não foram nem um pouco influenciados pelo atual presidente. De forma que Dilma e Serra disputam o segundo turno. Como se sabe, é quase como partir do zero. Os dois candidatos terão 28 dias para provar ao eleitor que podem governar o Brasil. Como antes, fico com Dilma Rousseff.


No Estado de São Paulo, o mais alto cargo executivo será exercido por Geraldo Alckmin, do PSDB. Alckmin teve 50,64% dos votos válidos. Foram 11.512.745 eleitores que o escolheram. Há ainda alguns resmungos por conta dos candidatos anões que tentam levar o pleito para o segundo turno e, portanto, veremos os desdobramentos durante esta semana. De qualquer forma, votei no candidato Fábio Feldmann, do PV, que ficou em 5º. lugar na disputa, com 939.727 votos válidos, ou 4,13% do total. 


Portanto, não elegi o governador de São Paulo. Tenho verdadeira ojeriza ao PSDB - partido de José Serra, Alckmin e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Esse partido, surgido a partir de cisão do PMDB, nunca foi oposição ao PT de Lula e tem uma postura muito conhecida aqui no Brasil que é ficar em cima do muro. O símbolo do PSDB é um pássaro, tucano, e costuma-se usar o neologismo "tucanar" para dizer que se está a ficar sobre o muro, sem se decidir a ir à esquerda ou à direita e, sendo assim, sem sair do lugar. De Serra, FHC e companhia tenho paúra pela forma como lidam com o poder público e, principalmente, sou totalmente contrário aos modos totalitaristas de José Serra, um ex-exilado político que se esqueceu do passado. FHC, por sua vez, esqueceu-se de textos que publicou enquanto sociólogo. Que fiquem nos ricos escritórios que mantêm em SP e permaneçam em aveludados muros.


Quanto ao Senado Federal, votei na Marta Suplicy, do PT, e em Ricardo Young, do PV. Marta foi eleita para senadora pelo Estado de São Paulo e vai para o Congresso Federal. A agora senadora teve 8.301.713 votos, ou 22,60% da totalidade. Young ficou em 4º. lugar, com 11,22% dos votos válidos, ou 4.114.479 votos. Como são apenas dois senadores no Estado, Young perdeu a vaga.


Para deputado federal, a palhaçada se confirmou: Tiririca, um analfabeto ou um alfabetizado funcional, foi o recordista de votação no Estado de São Paulo: foram 1.352.726 votos, o que o deixa distante na liderança pelo cargo, com 6,35% do total dos votos, longe do segundo colocado, com apenas 2,63% do total. O Estado de São Paulo tem direito a eleger 70 deputados federais. No Congresso Nacional, são 513 deputados federais e mais 81 senadores. O meu próprio candidato, Sargento Fernando, infelizmente, ficou na longínqua 356ª. posição, entre 1.169 candidatos, com apenas 0,02% dos votos válidos, ou minguados 3.356 votos. Para um Estado que tem uma base de 30.289.723 eleitores, dos quais, se 2% fossem gays, equivaleriam a 600 mil votos, me pergunto: onde estão os gays desse que é o maior colégio eleitoral do País? O gay power serve para reunir quase 2 milhões de pessoas na Parada Gay de São Paulo e não tem power para colocar um gay no Congresso Nacional! Gays do Estado de São Paulo: política é chata, mas, a continuar assim, os direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros continuarão no limbo. Adeus direitos civis! É hora de fazer valer o pink power!


Por fim, a propósito de gays, a minha candidata a deputada estadual, a Salete Campari, ficou na minguada 409ª. posição, num ranking de 1.787 candidatos. Com 0,03% dos votos válidos (os mais de 30 milhões do Estado), teve apenas 5.402 votos. Ainda assim, foi um desempenho melhor do que o candidato a deputado federal, Sargento Fernando, mas não o suficiente para conduzi-la à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, que comporta 94 deputados estaduais. Note que apenas o eleitorado da cidade de São Paulo passa dos 8,3 milhões de eleitores. E a candidata teve apenas 5,4 mil votos! Incrível! Uma danceteria grande da cidade, em dia de festa, junta mais gente que a quantidade de votos. Ah, os gays só querem saber de balada mesmo. Uó!


De forma que, da totalidade dos meus seis votos, apenas um se converteu, definitivamente, em voto válido: a única candidata que posso afirmar, com certeza, que elegi, foi a senadora Marta Suplicy. De resto, de Dilma a Salete, não elegi mais ninguém nessas eleições. Isso não quer dizer que me arrependo, de forma alguma. Escolhi conscientemente meus votos e acredito que fiz o certo. Não acredito em voto útil, aquele pelo qual uso o meu voto para prestigiar candidatos que têm chances de serem eleitos. Votei conforme os meus princípios e, de novo, ainda que o voto seja obrigatório, ainda assim é um exercício de cidadania democrático. Com a informatização do sistema eleitoral brasileiro, o certo é que as fraudes são praticamente inexistentes e somos, o Brasil, no mundo, o único caso que consegue apurar mais de 136 milhões de votos em pouco mais de 7 horas. Parabéns a todos e vamos ao segundo turno! Eu vou com Dilma.


P.S. Houve um uso intensivo das redes sociais pelos candidatos nessas eleições. E o Facebook colocou um gadget para que cada usuário assinalasse que havia votado. Até as 23:55 deste domingo, haviam confirmado o voto (no Brasil e no exterior) 450.664 facers.


(*) Este post foi editado às 23:55, quando estavam apurados 99,83% dos votos e, portanto, os números diferirão com pequenas variações. Nada que mude nada.

6 Comentários:

João Roque disse...

Como imaginas, daqui só posso comentar, e mal os resultados para a Presidência da República; acho que a Marina foi a grande vencedora desta primeira volta e tem na sua mão, de certa forma a decisão final.
A Dilma seria para mim uma boa aposta, se não fossem as suas declarações em relação ao mundo LGBT.
A eleição, pelo número de votos de Tiririca é perfeitamente demente; será que há assim tanta gente responsável a brincar com a política?

Anônimo disse...

Red,

Veja resultado das eleicoes no Canada. A informacao eh da Radio Canada Internacional - secao brasileira.


Serra leva primeiro turno nas principais cidades canadenses

por Hector Vilar (Montréal)
04 outubro 2010, 15h43

Se a eleição para presidente fosse decidida pelos brasileiros que vivem no Canadá, o candidato do PSDB, José Serra, iria para o segundo turno com uma boa vontagem sobre a candidata do PT, Dilma Rousseff.

José Serra teve em Toronto, Montréal, Ottawa e Vancouver 43% do votos. Dilma ficou com 25%, um pouco à frente de Marina Silva, do PV, que teve 23% dos votos válidos entre os eleitores do Canadá.
A votação foi tranquila nas três principais cidades do Canadá. O índice de abstenção, entretanto, foi grande, principalmente em Toronto, onde 44% dos eleitores não foram votar no domingo. Em Montréal, 34% dos eleitores não apareceram para votar.
O candidato do PSDB ganhou em Toronto, Vancouver, Ottawa e Montréal, conseguindo sempre mais de 40% dos votos válidos. A surpresa ficou com a "onda verde" de Marina Silva. Em Toronto e Montréal, a candidata do PV ficou apenas alguns pontos atrás de Dilma Rousseff. Em Vancouver e Ottawa, Marina Silva chegou em segundo lugar.
Os brasileiros que vivem no Canadá devem agora se preparar para o segundo turno das eleições, marcado para o dia 31 de outubro.

Canadá

Serra: 1827 (43%)
Dilma: 1067 (25%)
Marina: 983 (23%)

Montréal
Serra: 673 (40%)
Dilma: 471 (28%)
Marina: 400 (23%)

Toronto
Serra: 800 (46%)
Dilma: 415 (24%)
Marina: 390 (22%)

Vancouver
Serra: 162 (44%)
Marina: 91 (25%)
Dilma: 85 (23%)

Ottawa
Serra: 194 (45%)
Marina: 102 (23%)
Dilma: 96 (22%)


Bjo
La V.

Redneck disse...

João, o buraco é mais embaixo: Marina fica entre a cruz e a espada. A verde declarou voto nulo para o segundo turno porque seria muita incoerência ela optar por Serra, cuja ideologia (se existe) é completamente oposta à Dela. Não pode optar por Dilma porque a saída dela própria, Marina, do PT, foi bastante traumática. Mas, a incoerência grassa na política e o PV deve se dividir entre Dilma e Serra. Quanto à força que ela amealhou com os quase 20 milhões de votos, o PV fará com que isso se desfaça em poeira. Tenho certeza. Quanto ao Tiririca, no Brasil, pode se considerar isso um voto de protesto. Já tivemos até macacos eleitos. É isso que dá nos obrigar a votar. Quanto aos direitos LGBT, aborto e outras questões, como somos provincianos, é melhor nem abordar esses temas ou, se abordá-los, fazê-lo de forma obtusa. Beijo!

Redneck disse...

La V, aí como aqui as pesquisas falharam. E é engraçado ver que o Serra ganhou em todas as regiões. Sou radicalmente contra ele por algumas razões: atirou a polícia contra a polícia aqui em SP quando governador, ligou para proprietários da Folha, do Estado de S.Paulo, para a Isto É e para a Globo e pediu algumas cabeças de jornalistas, tem uma atitude completamente totalitária quando está no poder e, como eu já participei de algumas coletivas com ele, não gostei do que (não) vi em seus olhos. Vi os olhos também da Marina e da Dilma e a sensação foi bastante diversa. Veremos o que nos reserva o segundo turno. Beijo!

Lena disse...

Oi. Escrevo neste minuto um tanto espantada. Ou chocada. Ou enojada (pode ser em espanhol nesse caso). Meu pai, o velho Ricardo, que em idos tempos foi comunista e hoje é um sr. esquerdista que vai a uma igreja com regularidade (é messiânico), ligou-me entre surpreso e enraivecido. Creio que ele não imaginava que o jogo sujo pudesse chegar a sua igreja. Ora, um dos preceitos dessa igreja é que o belo é bom, e que a verdade é o belo. Ou algo assim. Então, está lá o velho Ricardo, que chegará aos 80 em fevereiro de 2011, andando por uma sala qdo se depara c/ um aglomerado de gente. Entre eles, um senhor que sempre respeitou. Um senhor que meu pai disse ser um tanto fraco de saúde e de físico (não é como ele, ainda um homem forte). Pois esse senhor frágil pela idade e a quem meu pai considerava íntegro estava com um folheto apócrifo em que se lia: "procura-se". Tratava-se de um texto que dizia que Dilma havia roubado uma loja de armas durante a ditadura e que, durante o roubo, matara um homem em Santa Cecília. Meu pai viu aquilo e arregalou os olhos: "mas como o sr. se presta a esse tipo de jogo sujo, a essa infâmia?". O sujeito saiu rápido de cena, ele e seus folhetos. Deixou p/ trás meu pai, que desejava falar mais. Queria dizer "deixe o jogo sujo para os homens mais fortes. Com eles eu posso brigar e bater. Não no senhor, que é fraco e doente". O velho Ricardo, que no passado praticou boxe e tem o sangue quente como todo latino, não consegue atinar que essa patifaria esteja se alastrando entre as igrejas. Considera uma das armadilhas mais sujas de tudo que já viu - e o velho Ricardo já viu muita coisa. Ligou pra mim p/ dizer: algo tem de ser feito. Isso não é discussão de ideias. Não é discussão política, na qual ele entraria com gosto. Virou baixaria.
É isso. Vim compartilhar minha indignação - nem sei se isso é bom.
bjs

Redneck disse...

Lena, nós já vimos esse tipo de campanha antes e não é a primeira nem última vez que se tenta desacreditar o oponente com informações falsas. Assim como na guerra a primeira vítima é a verdade, também na política isso ocorre. Com a internet, esse movimento de desacreditar o outro ganha ainda mais impulso. Ainda ontem vi na TV, na propaganda eleitoral, um chamado da campanha da Dilma para a corrente do bem contra a corrente do mal. Devo te dizer que, pior do que o folheto apócrifo que você mencionou, o maniqueísmo do bem contra o mal me soa um tanto quanto piegas. Assim como a tentativa de ambos os lados de levar o debate a um tipo de guerra santa em que ambos são santos desde criancinhas. Já declarei aqui o meu voto e não o mudarei por causa de opiniões falsas ou verdadeiras. De novo, nem Serra nem Dilma nasceram antes. Fico com a opinião de Fernanda Torres na coluna deste domingo da Folha: somos todos Hamlets nessa encenação. Creio que o fato de sabermos, você, eu e seu pai, discernirmos o que é fato do que é bobagem, já é o bastante. Se o leitor médio captará essas nuances, as urnas dirão. Se à noite todos os gatos são pardos, para mim, os políticos são pardos 24 horas por dia. Beijo!