Rastreio de Cozinha - 128
Adoraria ouvir que "do vinho viestes, ao vinho voltarás", ao invés daquele outro, mais comum, do pó. É estranho saber que vim do barro e voltarei a ficar fragmentado, em poeira de ossos. Não sei. O líquido me soa (me coa, ecoa), de qualquer forma, mais confortável do que o pó. Afinal, o primeiro invólucro de todos nós é o líquido amniótico, não?
Não sou um expert em medicina legal, mas, creio que também ao final somos mais líquido primeiro do que poeira. Assim, minha teoria de começar e terminar no líquido tem até uma certa coerência. Exceto pelo fato de que falo de vinho, e não de H2O.
Os dados históricos são esparsos, mas, há uma grande probabilidade de que o vinho tenha sido inventado pelas mãos humanas no sul da Ásia. Dessa região, espalhou-se (esparramou-se é mais correto) pela Europa e pelo Extremo Oriente. O Japão, a China e os países muçulmanos, por motivos religiosos e sociais, não desenvolveram o cultivo das videiras. Mas, ao contrário, a uva encontrou um campo fértil tanto na Grécia quanto na Roma antigas.
Os romanos foram os responsáveis pela difusão (também cabe infusão) do vinho, a começar pelas colônias do antigo império, Hispânia (Espanha atual) e Gália (França atual). Nessas colônias se usou, pela primeira vez, um tonel para armazenar e conservar o vinho.
Na Grécia, o vinho era escuro e adicionava-se água para bebê-lo. Puro, era considerado devasso (como se os gregos não o fossem, então tá!). Na Idade Média, o vinho era medíocre. E somente se desenvolveu quando os eclesiásticos passaram a usá-lo nos serviços religiosos. Os vinhos e vinhedos de boa qualidade provêm, portanto, da iniciativa de monges e clérigos.
É atribuído a Carlos Magno (747-814), rei dos francos, dos lombardos e imperador do Sacro Império Romano, o plantio dos vinhedos do Reno e da Borgonha (França). A partir do século XII (1100-1200), as videiras e, consequentemente, o vinho, passaram por grandes ampliações. Como nessa época os transportes eram precários, o cultivo dos parreirais se dava às margens dos rios, notadamente das regiões vizinhas ao Reno, ao Garonne e ao Loire.
A partir do século XVII, adotou-se o uso de garrafas e rolhas para o acondicionamento do vinho. Segundo os dados históricos, isso se deve a Dom Pierre Pérignon, da Abadia de Hautvillers (sim, é o criador da champagne homônima). Em 1775, acidentalmente, descobriu-se que as uvas apodrecidas produziam um aroma doce e um buquê inebriante. De lá para cá, teremos, sucessivamente, maravilhosos vinhos franceses, espanhóis, portugueses, alemães e por todo o mundo há uma corrida para dar, cada vez mais, qualidade às videiras e aos vinhos.
Toda essa longa introdução é para dizer que fizemos nesta terça-feira, 7, a prova de Enologia e Enogastronomia. Foram dez questões, todas abordadas por aqui, de uma forma ou de outra. Creio que não acertei 100% das questões porque havia muita coisa a ser dita e não me recordo de tudo. Sei que escrevi na folha de prova e em mais três páginas (pequenas) de caderno.
Uma das questões que achei mais relevante: qual é a importância do vinho para a gastronomia? E, por isso, escrevi esse imenso preâmbulo acima. Não sei quanto a você, mas, se o vinho não fosse, de fato, altamente imbricado com a alimentação, haveria de sê-lo, mais cedo ou mais tarde. Pela história evolutiva - do homem e do vinho - me ocorre que o casamento do vinho e da gastronomia é inexorável.
Gostei da prova e de comentar fartamente sobre o pouco que aprendi nesses quase dois meses de aulas de enologia e enogastronomia. Eu, que nunca me liguei seriamente na intersecção de vinho e alimento, começo a prestar muita atenção nas garrafas que me circundam. Nas de vinho, claro, porque às demais já lhes dou o devido atendimento.
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