Pornografia
"A política é bastante mais pornográfica do que qualquer arte", diz o lema que estampa a escultura de autoria de Peter Lenk, em exposição em Berlim. Na escultura, estão a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, o ex-chanceler Gerhard Schröder e mais três ministros do governo alemão, todos completamente nus.
O detalhe é que cada um dos esculpidos segura o sexo alheio (o gesto pode ser chamado galantemente de solidariedade sexual).
E a política pode ser, mesmo, teatral: vai do drama à comédia no mesmo ato, sem intervalos. Um matemático da Queen's University de Kingston, Ontário, Canadá, criou um software capaz de analisar o discurso dos políticos por meio da voz e das expressões faciais e revelar se há ou não manipulação da verdade.
Como você percebe, caro(a) bleader, eu, que me mantive afastado da política neste palpitante (de palpite mesmo) blog, agora volto minhas baterias para o assunto porque as circunstâncias me obrigam a fazê-lo.
Desta vez, o meu protesto é contra o governador José Serra (PSDB/SP). Serra tem no passado histórico o registro de exilado político. Portanto, reprimido pelo golpe militar de 1964, que o obrigou a viver fora do Brasil durante 14 anos.
Eis que eleito democraticamente, tomou posse como prefeito de São Paulo em 1º. de janeiro de 2005 e, um ano depois, deixou o cargo para o vice, Gilberto Kassab, para concorrer ao governo do Estado de São Paulo. Foi eleito. Se o software canadense existisse, Serra não passaria no teste: registrou compromisso em cartório de que não abandonaria a prefeitura de São Paulo para concorrer ao governo e, apenas um ano depois, o fez, peremptoriamente.
Há 30 dias, a Polícia Civil do Estado de São Paulo está em greve. O governador se recusa a receber o comando da greve para negociar. É intransigente: não negocia. Hoje, quinta-feira, 16, caravanas da Polícia Civil de todo o Estado vieram à capital para protestar na porta do governador, no Palácio dos Bandeirantes.
Serra simplesmente ordenou que a Polícia Militar reprimisse qualquer tentativa de aproximação dos manifestantes. Agora, são mais de 20 horas. A situação no entorno do Palácio dos Bandeirantes é delicada. São mais de 20 os feridos e os policiais - militares e civis - estão armados.
Tive notícias diretamente do local - há uma pessoa da minha família na manifestação - e o clima está tenso. Ninguém se move e, há pouco, no SPTV, assisti a uma entrevista com Serra que negou qualquer passo em direção a uma negociação. "Reivindicação se faz à mesa, conversando", disse à TV Globo. Contraditoriamente, o governador é irredutível quanto ao diálogo com os grevistas.
O governador, reprimido pela ditadura militar, militariza-se e reprime com armas de fogo uma corporação inteira e coloca as duas polícias em confronto.
O que tem a ver a escultura da Alemanha? Tem que ver que a pornografia registrada pelo escultor alemão é mundial: Serra é pornográfico ao usar os mesmos meios os quais combateu. Enterra o passado e age exatamente como os comandantes militares que o exilaram. A política, realmente, é pornográfica.
6 Comentários:
Estou longe de São Paulo, mas na espreita observando, já que o que acontece em aí repercute no país todo e os políticos que também passam por aí, fazem estágio para concorrer à presidencia. Vou ficar com esse refresh na memória para o futuro. Bom fim de semana! Beijus
Oi Luma, pois é! Todo cuidado é pouco, como se vê. Beijo e bom final de semanal também!
Foi uma verdadeira praça de guerra! Se as duas polícias, civil e militar, caminhavam para uma união, tiveram a sua relação definitivamente estremecida e abalada. A intransigência do governo falou alto mais uma vez e os trabalhadores sentiram o seu poder na própria pele. Foi desolador vivenciar os momentos de confronto entre duas instituições que deveriam caminhar juntas. Presenciar os policiais civis da ativa e aposentados, pais e mães de família, que muito fizeram e fazem pela Polícia serem escurraçados com bombas de efeito moral e balas de borracha foi humilhante. Atitude indigna para um chefe de estado!
e por sorte(?) do Serra,o drama da pobre Eloa para desviar a atenção da midia
Anônimo, atitude indigna de um governo pretensamente democrático, cujo princípio está inscrito na própria palavra - democracia é um regime político no qual o poder de tomar decisões é do cidadão por meio de representante legitimamente eleito. No caso, apenas a segunda metade do conceito é válida. A primeira - o poder de tomar decisões é do cidadão - ficou na vala, nas bombas e balas de borracha. Na minha democracia, mando eu, é o recado do governador. Abraço!
Dona Sra. Urtigão, e o governador continua errado até mesmo no caso Eloá: defende a atitude do comandante que foi o responsável pela morte da menina. Deve ser um caso inédito na polícia mundial: devolver um refém para o sequestrador. O Serra, que no episódio das polícias, perdeu a mão, agora, perdeu a compostura de vez. Beijo!
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