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domingo, 4 de novembro de 2007

Sedentários, porém, nômades

Assisti um programa no Discovery Civilization muito esclarecedor sobre os homens. O programa retratava duas tribos mongóis, que vivem na Sibéria, exatamente como seus ancestrais o faziam há milhares de anos. Em ambas as tribos, o momento era de sucessão de liderança. Uma das tribos era a nenet (a outra não consegui descobrir). Os nenets são criadores de renas e a outra tribo cria camelos. A primeira vive no gelo; a segunda, no deserto. Ambas são nômades e dependem dessa condição nomádica para sobreviver. Montam e levantam acampamentos conforme a chuva ou a neve se precipitam ou não. Os nenets têm um rebanho de 4 mil renas. A outra tribo, um rebanho de 80 camelos. Quando comecei a assistir, o programa estava mais ou menos pela metade. Na tribo dos nenets, o pai tinha que decidir se o filho voltaria para a escola ou trilharia o secular caminho dos ancestrais. Para tanto, o filho deveria passar por uma prova. Na outra tribo, o avô tinha que escolher, com a ajuda dos espíritos da montanha, qual dos dois netos herdaria metade do rebanho de camelos para dar início a uma nova tribo. O menino dos nenets deveria ter entre 13 e 14 anos. Numa determinada noite, foi colocado para vigiar o rebanho de 4 mil renas contra o ataque dos lobos. Num frio de 50º. negativos, o menino cochilou e, de manhã, 3 renas estavam mortas e pelo menos uma centena havia se dispersado do rebanho. A prova estava colocada: o menino teria que ir atrás das renas e conduzi-las de volta ao rebanho. O problema é que, como nômades, os nenets levantariam acampamento e seguiriam para outra direção, com neve mais fraca. O menino foi atrás das renas, seguiu seus rastros (pelos excrementos) e, três dias depois, retornou à tribo, com as renas. O detalhe é que a tribo havia se mudado e, mesmo assim, o senso de direção, reconhecido na região, prevaleceu, o que fez com que o adolescente voltasse para casa e fosse considerado adulto pelos demais homens. Segundo o programa, no próximo ano o menino volta a estudar. Por enquanto, saboreia seu feito. Na outra tribo, a dos camelos, os dois netos tinham que encontrar pastagens novas para os animais. Dois dias depois, o neto mais novo voltou com uma boa notícia. O avô levantou acampamento e a caravana seguiu rumo às pastagens. No meio do caminho, encontraram-se com o neto mais velho, que não havia encontrado os pastos, mas, aparentemente, estava por ali, à espera dos demais. A tribo foi até os espíritos das montanhas e o veridicto saiu: o direito a 40 camelos era do neto mais velho que, conforme a tradição, seguiu, com a esposa, para formar nova tribo, assim como o fazem seus ancestrais desde tempo imemoriais. Nos dois casos, homens foram colocados à prova para decidir seus futuros. Dois conseguiram e um não. O neto mais novo espera pelo próximo desafio. E assim seguem ambas as tribos, nômades. Por que o sedentário do nome da postagem? Porque, eu, na cidade, me sinto um nômade. Não no sentido literal. Mas, no sentido metafísico, parece que eu e uma multidão caminhamos todos os dias em busca de pastagens, de renas perdidas e, ao fim do dia, depois de muito frio, fome e desconforto, obtemos sucesso ou não. E somos celebrados pelas nossas tribos pelo sucesso ou consolados porque não conseguimos. No nosso sedentarismo urbano, não percorremos trilhas inóspitas como as da Sibéria. Me parece que nossos caminhos podem ser tão arriscados quanto o são para as duas tribos. Que temos que levantar acampamentos conforme as pressões. Que, de alguma forma, o nosso sedentarismo é artificial e provisório. Ao final, somos todos nômades, mesmo que seja para andar em círculos (a terra é redonda, afinal!). Será que, ao fim da jornada, teremos 40 camelos ou pastagens novas?

1 Comentário:

Patty Diphusa disse...

Red, o ser humano não é muito estranho? O moleque tem de perseguir renas extraviadas para provar que é macho e que merece respeito? Não sei não, mas tem algo estranho nisso, vc não acha? Mas concordo, somos todos nômades, de posições, inclusive. Hoje vc está na pole, amanhã seu carro quebra e vc está fora. Hoje como estou me sentindo fora da race, melhor ficar quieta. Sei lá, mil coisas.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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