La mala educación
Acabei de ter uma longa conversa com uma amiga e vou listar aqui o meu cansaço:
- Estou cansado da má educação das pessoas
- Estou cansado porque, nas calçadas, as pessoas me espetam guarda-chuvas nos olhos
- Estou cansado porque as pessoas não cedem espaço para ninguém passar na escada rolante
- Estou cansado de pessoas que furam filas
- Estou cansado das pequenas, grandes e gigantes corrupções
- Estou cansado de pagar R$ 15 no estacionamento e R$ 5 para deixar o carro na rua
- Estou cansado de ficar na fila do banco por 20, 30 minutos e pagar R$ 45 de mensalidade
- Estou cansado de ficar na fila do supermercado e pagar cada vez mais caro
- Estou cansado do meu elevador que está parado há mais de um mês
- Estou cansado das pessoas que aplaudem quando chega um trem vazio na plataforma
- Estou cansado da competição entre tudo e todos, por tudo e por nada
- Estou cansado do cachorro da vizinha que todo dia bate na minha porta
- Estou cansado de vizinhos que batem as portas com estrondo
- Estou cansado de alarmes de carros que disparam incessantemente
- Estou cansado das buzinas de motoristas impacientes que sobem a minha rua todos os dias
- Estou cansado das mulheres que passam à frente nas filas do metrô
- Estou cansado de pessoas que tomam o espaço público por privado
- Estou cansado de que pensem que ruas são mictórios e fossas
Estou farto de não haver cidadania, de não se viver a cidade, de ter a cidade mas tê-la com medo, de ser abordado por estranhos que não têm nada a dizer, de falar que estou cansado, de ainda me cansar com as pessoas, de ser também uma pessoa que deve cansar outras pessoas, de me sentir assim, de não estar bem aqui, mas estar pior ali, de querer, querer, querer e não ter, não ter, não ter. E nem pense em me relacionar ao "Cansei", por favor. É um desabafo pessoal, da dura constatação de que somos todos provisórios e, por isso, a urgência estampada nos nossos passos e atitudes não nos levará tão longe assim. Há um limite, um fim. Pena que os meios tenham que ser usurpados e corrompidos de forma tão gritante para que se chegue a um único fim. Não quero fórmulas, mas, quero saber por onde começar, por onde ir, com que meios, com que pressa ou lentidão. Como nos dissemos, minha amiga e eu, para nos sabermos, sabermos o ponto que nos faz bem, aquilo que nos convém, a mais ninguém. Porque, ao fim e ao cabo, somos ilhas perdidas nesse mar insano, à deriva, feito a jangada de pedra do Saramago. Bússola? Não, não preciso de direções. O meu norte, o meu sul, meu nascente e poente, minha rosa dos ventos, estão todos aqui mesmo, dentro de mim. Preciso encontrar minha latitude e altitude, minha melhor condição de temperatura e pressão, meu equador, meu equinócio. Quando o sol que me aquece não gerar uma sombra de mim mesmo, é nesse ponto que estarei, equilíbrio enfim.
2 Comentários:
somos dois cansados e tal equilibrio é o adequado mas muito dificil de ser alcançado!
que prazer que tenho ao ler-te.
Minha cara, o prazer é meu ao me ver espelhado numa alma quiçá gêmea. Beijo!
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