Meu rugido dominical
Noite dessas, saí e me deparei com uma situação bastante comum. Era um bar conhecido de São Paulo, bastante movimentado, com música ao vivo. As pessoas, quando vão a bares, restaurantes, cinemas e às baladas estão predispostas a se divertir. Bem, eram seis mulheres e cinco homens à mesa. As mulheres estavam num canto e os homens, noutro. Me pareceu (depois confirmei) que não eram de São Paulo. Mais, me pareceu que eram do interior de São Paulo (acertei de novo). Conforme a noite se estendia, as mulheres ficavam mais e mais animadas, loucas para dançar. Os homens estavam na terceira garrafa de uísque e estavam mais e mais bêbados. Uma das mulheres tomou a iniciativa, levantou-se e começou a dançar. Logo, foi seguida por mais duas da mesa. Os maridos e namorados somente olhavam. As mulheres, animadas, começaram a tomar a pequena pista. De repente, uma delas deu um beijo no marido ou namorado e foi arrastada pelo passista mais animado do local (tocava samba). Ela fez o gesto quase que para se desculpar por querer dançar. À determinada altura, todas as mulheres, exceto uma, carrancuda, dançavam. Começaram a arrastar atrás de si os maridos/namorados que, a princípio, foram, tímidos, lentos e constrangidos. Depois, conforme bebiam, também soltaram-se. Ao final, todos, exceto um carrancudo (que não era marido ou namorado da carrancuda) dançavam. Num determinado momento, a banda encerrou a apresentação. Antes, houve intervenções e uma mulher de Santa Catarina tomou o microfone e cantou, muito bem. Eu a cumprimentei depois. Garanto que ela ficou muito feliz com seu pequeno show porque tinha voz e todos a aplaudiram. Nessa turma de casais, havia uma espécie de líder, que me pareceu (de novo, na mosca!) o comandante do grupo, das garrafas e da mesa. Vou chamá-lo de patriarca. Esse patriarca pagou uma garrafa de uísque para a banda que, imediatamente, voltou ao palco para tocar. E mais: ele nos conclamou a todos a dançar. Me serviu uísque, disse que eram de Mogi das Cruzes. Era aniversário da esposa que, a determinada altura, perguntou se eu era o "filho". Não sei bem porque, mas tive a sensação de que ela queria a presença dos filhos. Eu disse que era. Tive a impressão também de que era um grupo que estava em algum evento em São Paulo e aproveitou o final de semana para se divertir. Lá pelo final, a esposa teve um ataque de depressão (ou de bebedeira mesmo) e começou a chorar, com vigor. Dois dos homens da mesa se estranharam e ameaçaram se estapear, com as respectivas esposas/namoradas pelo meio, numa tentativa de contê-los. Fomos embora e eu não soube o que aconteceu. Soube apenas que muitos garçons e seguranças subiram (era no piso superior do local). As minhas conclusões desses eventos são um puxão de orelha em maridos e namorados canhestros: levem suas esposas e namoradas para se divertir e dancem com elas. Não é de hoje que vejo maridos e namorados que se encharcam de bebida e esquecem que foram lá para se divertir e divertir às acompanhantes. Que hábito é esse que os homens têm de se esquivar de uma dança. Dancem com elas. Falem com elas. Divirtam-se com elas. Tenho certeza que elas não querem muito mais do que isso. Apenas a diversão compartilhada. É preciso rir a dois. Para não ir embora para casa e dormir feito duas pessoas estranhas. Depois, que mania que os homens, principalmente do interior, têm de se estranhar, e, num segundo, se armar de socos e pancadaria. Provavelmente, a noite terminou de forma desagradável para quase todos. E a esposa que chorava? O que é isso? Foram em busca de prazer e somente encontraram o desprazer. No dia seguinte, além da imensa ressaca etílica, garanto que houve a ressaca moral. E os dois carrancudos, o que dizer disso? Por que saíram de casa? Por que fecharam suas caras? Falta felicidade no mundo. Falta riso. Falta compreensão recíproca. O patriarca foi o único que entendeu isso. Ah! E também o passista e a cantora de Santa Catarina. Eu, pelo menos, saí com todas essas coisas na cabeça e não fui acertado por sopapos. Fiquei feliz porque fui designado simbolicamente como filho do casal (e ainda me despedi da mãe chorosa no fim), tomei uísque com o patriarca e me diverti. E, de quebra, observei, mais uma vez, a condição humana.
1 Comentário:
Concordo plenamente! Fui a um jantar, patrocinado pelo meu chefe, com meu marido. Tudo muito legal,a comida, ótima, a música também, anos 70, 80, tudo de bom...Só que fiquei sentada o tempo todo! Meu digníssimo marido não dança, eu não quis dançar com estranhos, pois estava com meu marido e, puxa vida, deveria dançar com ele, mas não...resultado: voltei pra casa com um bico quilométrico e ele com cara de "ué"! Devia ter ido sozinha!
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