Rastreio de Cozinha - 122
(Alexander)
Sei que tenho uma alta dose de ansiedade que, até há pouco, eu desconhecia ou procurava ignorar. Mas, para as coisas práticas, isso não funciona. E tenho visto que para assuntos mais complicados há momentos em que é preciso apenas parar e deixar acontecer. Ou não. Um primeiro passo deve ser dado, sim. Mas, não posso também fazer desse passo uma maratona. Até mesmo porque o único competidor seria eu mesmo. E pior: contra mim.
Esse preâmbulo autobiográfico tem um motivo: sempre que se espera algo, o que vem como resposta pode ser bastante diverso, se não totalmente o oposto. Não se irrite comigo. Estou a falar apenas de aulas mesmo, nada mais.
Às segundas-feiras, temos aulas de Eventos (as duas primeiras) e de Sala e Bar (as duas últimas). Ambas são ministradas pelo mesmo professor. Na cadência das aulas de Eventos que, como eu já disse antes, são, para mim, bastante aborrecidas, eu carrego a segunda-feira inteira: um dia chato porque nos coloca repentinamente em contato com a realidade que muitos de nós encobrem com os sábados e domingos.
(Batida de Coco)
E foi assim mesmo. Tivemos aulas teórica e prática de como se montar os diversos serviços à mesa: à russa, à francesa, à inglesa, à americana e até mesmo à brasileira. Aparentemente, basta colocar os talheres, os pratos, o pratinho e talheres de pão, os copos, o guardanapo, o saleiro e o pimenteiro. Mas, nada nunca é tão simples, pois não?
Sei que passamos duas aulas inteiras a apontar erros em fotos de mesas montadas, anotar quando vai ou não a colher, o garfo, a faca; onde fica o copo d'água, o de vinho tinto, o de vinho branco e, se houver, também o de champagne. Também fomos instruídos em aula prática. E como o garçom deve servir - agora, à direita; neste momento, à esquerda; agora, de novo à direita; se for assim, use o alicate (garfo e colher como apetrecho para distribuir a comida); se for assado, use o alicate também.
(Bloody Mary)
Foi uma sucessão de diversos tipos de serviços e, a certa altura, fosse eu um polvo, meus inúmeros braços não dariam conta de tantos lados relativos aos vários tipos de serviços. Daí que volto ao início do post para dizer que não adianta sofrer por antecipação. Quando eu imaginei que ficaria atabalhoado com tantas direções em torno de um único cliente numa singela mesa?
Por que todos os detalhes têm que ser tão complicados, tão cheios de pompa e circunstância se, ao se servirem os ovos, que frigem, o único e exclusivo objetivo é alimentar e, definitivamente, saciar o comensal? Queria ter a força de Escoffier para alterar as métricas tão bem detalhadas que consistem num aparente "serviço sofisticado". A mim me parece, cada vez mais, que se trava uma verdadeira batalha de braços ao redor do cliente, conforme o tipo de serviço que o restaurante oferece. Pensei um pouco mais e fui além: e se o garçom for tomado por um surto e começasse a abraçar o cliente?
(Caipirinha)
E usar, dessa forma, os braços para um fim mais afetivo? E se todos - garçons e clientes - se congraçassem, ao invés de, cada um, tomar posição e se preparar como se a refeição fosse quase uma missa, tão alto é o ritual que a cerca? Sei lá. Por um momento, penso que há que se quebrar protocolos, cerimônias e frescuras e ser mais rés-do-chão. Afinal, comer é apenas para matar a fome ou deve ser um ato encarado como se a um matadouro fossem o cliente e o garçom juntos? Definitivamente, o atual serviço de restaurante (qualquer que seja) não me agrada nem um pouco. Ou eu é que estou com um início de surto. Vou tentar, por ora, um ansiolítico.
(Dry Martini)
Mas, outro assunto, que me agrada sobremaneira, dominou as duas aulas seguintes. Infelizmente, de novo de volta ao início do post, não dá para se planejar nada mais além de poucos minutos que se nos precedem. Portanto, nada de sonhar com a aula que vem, na próxima semana, na expectativa de que as coisas que são interessantes continuarão a sê-lo.
Imbuído desse espírito (talvez em função do ansilítico tomado ainda há pouco, logo no parágrafo acima), não foi surpresa saber que hoje, segunda-feira, 29, tivemos nossas últimas experiências de bartender. Acabam, aqui, neste post, os experimentos com os mais variados e glamurosos coquetéis.
(Havana Sunrise)
OK. Posso até carregar na tinta e soar hiperbólico, mas, como assim? Como tirar o doce da boca da criança? Já? Sem aviso prévio? Foi exatamente assim. Fomos (colegas e eu) confrontados com a mísera realidade: não haverá mais drink, nem coquetéis bonitos, nem as maravilhosas experimentações ao final das segundas-feiras.
Você pode achar que faço de coquetéis verdadeiras tempestades em copos longos. Por favor, não me veja apenas como um quase delinquente bebedor de boteco. OK, há um pouco de verdade nisso, mas, a verdade está lá fora também (só usei a expressão porque era fã de Arquivo X).
(Piña Colada)
Para mim, a verdade está no vinho e, até hoje, estava nos coquetéis também, de forma complementar. Pois que agora tenho apenas meia-verdade: os vinhos, não os degustamos há algumas semanas. Parece que entre a adega da faculdade e a nossa sala de degustação de vinhos há algum tipo de decantador gigantesco (forma de um balde gigante, lembra?) que impede que o vinho chegue, soberano, até nós.
Agora, cessam os coquetéis. Ficarão apenas o serviço de mesa, pratos, talheres e os copos e taças. Esses recipientes, naturalmente aptos a receber líquidos atraentes, terão que se contentar em ficar cheios de ar.
(Sex On The Beach)
Para não fazer desse post um adeus, e depois, até um dia, quem sabe, vou somente citar os derradeiros coquetéis mui bem servidos e devidamente absorvidos: Dry Martini, Caipirinha, Bloody Mary, Alexander, Whisky Sour, Piña Colada, Havana Sunrise, Batida de Coco Brasileira e Sex On The Beach. Foram ao todo 9 coquetéis e, num rasgo de generosidade, o professor fez mais 3 livres, de criação própria, que, prontamente, giraram feito perus bêbados em véspera de Natal entre nossas mãos e bocas e foram direto para as profundas das gargantas secas.
Dada a minha incapacidade neurônica (neologismo, obviamente), não consigo me definir entre um coquetel e outro para eleger o preferido (não sou imperador romano, afinal). Assim, para não fazer prevalecer um sobre o outro e ainda ter dúvidas, posto as fotos em prosaica ordem alfabética, o que mantém um certo distanciamento crítico. Mas, não o suficiente para que, ao estender meu braço, eu consiga tocar num dos preferidos (OK, algo meio romano, enfim).
(Whisky Sour)
De tudo isso, tomo de empréstimo a frase de Marx (tudo o que é sólido desmancha no ar) para refazer a construção: Tudo o que é líquido evapora e deixa um gosto amargo no ar. Protesto, individualmente, pela perda da mais-valia que adicionava um sabor amargo, doce, ácido, envolvente, sedoso, viscoso às segundas-feiras e retomo vivamente a prática de não sonhar com o amanhã porque o hoje, desengonçado, talvez não se converta num amanhã aprazível.
P.S. Só para constar: quando escrevi o post, não estava sob o efeito do álcool, ainda que pelas minhas mãos tenham passado mais de uma dezena de copos (dos mais variados feitios e conteúdos) e, pela minha boca, segundo a memória de minhas papilas gustativas, um ou outro líquido encontrou a devida guarida.
3 Comentários:
Ola...
That is so much I can understand of your language...I even tried the translator but it get even worse...so I just enjoy your picture and they are great... ;)
Meu caro, vai sumir?
Um dia de cada vez é muito bom.
Lindas fotos dos coquetéis.
bjs.
Fancy, thanks to visiting me. I'm sorry about language but the translator service really dosn't works. Unfortunatelly. So, mi casa és tu casa! Come back soon!
Andarilha, como assim, sumir? A não ser que ... E um dia de cada vez é bom, sim. Como vai o seu TCC? Beijo!
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