Rastreio de Cozinha - 107
Eu não gosto da aula de Eventos e Banquetes que temos às segundas-feiras. Acho que se perde muito tempo em sugestões de cardápios para coffee break e café da manhã (são diferentes, sob a ótica de eventos), brunch, jantares de gala, festas de queijos e vinhos.
Tem um monte de regras a serem seguidas, uma montanha de medidas a serem observadas. Eu sei que muitos colegas de gastronomia seguirão este ramo. Alguns já trabalham com isso. Mas, decididamente, eu não tenho nada a ver com a organização desse tipo de evento.
Hoje, particularmente, tivemos aula sobre cerimonial, protocolo e etiqueta: quem senta onde e porquê. Sabe aquelas cerimônias cheias de pompa e circunstância? O presidente do Brasil recebe o príncipe do Japão: um ficará à direita do outro e todos os demais numa rígida estrutura hierárquica determinada pelo cerimonial de ambos os países. É tudo muito burocrático e chato.
Nada pode sair do protocolo. Muitos o quebram - o presidente Lula é mestre em quebrar protocolos. Mas, em geral, todos seguem um script previamente estabelecido que dita quem sentará ao lado de quem, do presidente ao secretário de assuntos governamentais e protocolares etc. etc.
Não me imagino no controle desse tipo de recepção: um café da manhã, um jantar de gala, uma cerimônia para um empresário, um jogador de futebol ou uma cantora famosa. Acho que esse tipo de evento tende a limitar toda e qualquer criatividade, já que há um roteiro estabelecido do qual você não pode fugir. E hoje ficou ainda mais claro para mim que todos os cerimoniais e protocolos são totalmente engessados. Não dão a menor possibilidade de se inventar algo, fora do lugar-comum.
Em compensação, as duas últimas aulas foram refrescantes, literalmente. Foram sobre coquetéis. Eu não sabia, mas, a palavra cocktail significa rabo-de-galo. A origem do nome é controversa, com várias versões:
1. O nome teria sido criado pelo escritor londrino dr. Johnson, que comparou a mistura de vinhos com destilados fortes a cavalos de sangue misturado, sem raça definida, os quais, no interior da Inglaterra, tinham a ponta do rabo cortada (cocked tail, em inglês).
2. Durante a guerra da independência norte-americana, uma taberneira, Betsy Flanagan, viúva de um soldado revolucionário, teria roubado as penas do rabo de um galo (cock tail) do inimigo para decorar os drinks que servia na taberna.
3. O nome seria uma referência às rinhas de galo que ocorriam no Mississipi, nos EUA, nas quais as penas do galo vencedor eram usadas para mexer os drinks dos apostadores vencedores.
4. Outra versão dá conta de que os frequentadores das brigas de galo usavam as penas para massagear a garganta, o que permitia a ingestão de mais alguns goles das intragáveis bebidas da época.
5. Finalmente, o nome poderia ter surgido por causa de um drink espetacular feito e batizado por uma mulher mexicana chamada Coctel.
Seja qual for a versão correta, o fato é que os coquetéis são famosos no mundo inteiro. Esses drinks são classificados em três categorias: short drinks (servidos em copos pequenos - exemplos: dry martini, margarita, Manhattan, Alexander e Rusty Nail); long drinks (servidos em copos longos como o Horses Neck, Tom Collins, Screw Diver e gim tônica - o meu favorito!!!!); e hot drinks (servidos em copos especiais como o irish coffee, rong grog, hot egg nog).
As modalidades dos coquetéis variam conforme os diversos utensílios utilizados para o preparo, a forma de preparação e a densidade dos ingredientes. Assim, os coquetéis podem ser batidos (precisam ser batidos para ser misturados, como o whisky sour, o daiquiri e a piña colada); mexidos (basta mexê-los para misturá-los, como o dry martini, o Manhattan e o Rob Roy); e, finalmente, os montados (preparados nos próprios copos onde serão servidos, como negroni, Old Fashioned, Tequila Sunrise e Black Russian).
Conforme a maior ou menor presença de álcool, os coquetéis são classificados como estimulantes de apetite (preparados com bebidas destiladas, suco de frutas ácidas e pequenas quantidades de açúcar); digestivos (ajudam na digestão e são feitos com destilados, açúcar, licores e cremes); refrescantes (feitos com destilados, suco de frutas, licores, refrigerantes, águas gaseificadas e gelo); nutritivos (usam ingredientes de alto teor calórico como ovos, cremes, açúcar, mel, leite, chocolate, xaropes e vinhos fortificantes); e estimulantes físicos (preparados com ingredientes que aquecem o corpo, feitos com destilados, chá, café, chocolate, mel, leite quente, canela, noz-moscada e cravo-da-índia).
Não importa o coquetel. Escolha o seu e seja feliz. Depois, não reclama do aumento da massa corpórea, do longo e custoso braço punitivo da lei seca e da ressaca que te acometerá, em maior ou menor grau, no day after.
Fizemos alguns coquetéis em classe (temos aula em sala-bar), dos quais não me recordo os nomes (infelizmente, não anotei e, desafortunadamente, não tirei fotos de todos). Portanto, estampo apenas dois coquetéis preparados em classe (foram feitos seis ou sete, ao todo). Também, o que é uma falha, não tenho comigo as receitas desses coquetéis. Mas, não é difícil fazê-los. Basta ter os ingredientes certos e escolher o que mais lhe agradar.
Para compensar o marasmo com os trocentos tipos de cerimoniais, protocolos e etiquetas a serem observados nos eventos e banquetes, ao menos fomos brindados com diversos e deliciosos coquetéis. Saúde!
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