Quando o mais é menos e o menos é mais?
Antes, acreditava que podia abarcar o mundo em minhas mãos. Hoje, é o contrário. Em geral, estamos nas tuas mãos: sua, dele, do outro, de milhares de outros. Mal damos conta do que temos. Precisamos ter mais braços. E mais cabeças, mais cabelos, mais bunda, mais tamanho, menos peso, mais peito, mais pinto, menos barriga, menos culote, menos pescoço, mais cérebro, menos cérebro, mais coração, menos coração, mais estômago (muiiiiiitttooo mais!). Socoooooorrrrroooo!!!!!!!! Viramos Frankensteins. Precisaríamos nascer dez versões e concentrá-las para atender tanta demanda. Você está descaracterizado naquele momento? Vá ao guarda-roupa e use a cara de hoje, a fachada de cinza, a máscara beje, a carapuça de feio, de bonito, divertido, interessante, asno, débil, maluco, fino, grosseiríssimo, babaca, gentil, odioso, apaixonado. Tudo serve. Camaleões em peso. Vistos de Marte, de Vênus, de Plutão, de Júpiter, creio que somos lagartas verdes, marrons, viscosas, peludas. O que é isso????? Se você bebe muito, você é bêbado. Se não bebe, é um retardado. Se come feito uma jamanta, é glutão. Se não come, é aneroxia. Se se veste mal, é mal informado, coitado! Bem, é fashion victim. Não há meio-termo, já reparou? Tudo é lá ou cá, bem ou mal, céu ou inferno, bruto ou meigo. Que coisa! Você deve conhecer o mito do andrógino. É aquele que explica a nossa (homem e mulher) origem. No princípio, éramos um só (se assexuado, trissexuado ou pan sei lá o quê, já não sei). Enfim, éramos, homens e mulheres (e creio que homem e homem, mulher e mulher e assim por diante, até ad infinitum), um só, uno, único e indivisível. Deu-se o cisma, a queda, a separação, a dissociação, a divisão, o corte. Viramos dois. Complexos, desencontrados, descarnados de unidade. Ninguém mais sabe para que lado correr (nem o caranguejo). É um tropeço só. Confusão. Babel e Bebel juntas, duas putas! Uma, da dissolução. Outra, global, da tentativa de humanizar o que não existe. Somos, desde então, microcosmos de outros seres, não mais do único. Somos clones, montagens, clowns, preparados para dar show, para assistir ao show alheio, para rir e chorar. Todos loucos, incluso os deuses, mais loucos que os loucos daqui. Dá para parar? Eu quero descer.
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