Deixa que eu se sirvo, dona
Ela foi abrir a porta. A pia a incomodava há uma semana e nada a entediava mais do que saber que a curva sinuosa do sifão se traduzia num ponto de interrogação na sua cabeça. O encanador a encarou, com pequenas gotas de suor na testa. Não era gordo nem magro. Era o tipo médio, comum. Grunhiu um cumprimento e entrou. Um cheiro de barro a envolveu. Ela, já submissa, fechou a porta e o seguiu, consciente da sua estatura inferior. Ele fez uns gestos, quase mímica, e entendeu tudo rapidinho. Ela cruzou os braços e ficou a fitar a evolução do trabalho. De olho nas imensas costas que bloqueavam a visão da pia inteira, imaginou pequenas cenas e fantasias. O início das nádegas dele aparecia, como devia ser. Ela não se incomodou. Perguntou se ele aceitava água, suco, café ou cerveja. E desejou que aceitasse cada uma das ofertas. Ele tomou a água na própria jarra. Inteira. Disse para ela não tocar em nada que voltaria no dia seguinte. Ela somente meneou a cabeça. Não conseguia falar. À porta, perguntou a que horas devia esperá-lo. Meio-dia, ele cuspiu. Ela perguntou se ele gostava de picadinho. Como tudo, trovejou. Ela se arrepiou. Fechou a porta atrás de si. No dia seguinte, 11:30 horas da manhã, o picadinho fumegava na panela. Ele chegou 10 minutos antes do previsto. Sentiu o cheiro. Murmurou algo como "bom" e terminou o trabalho do dia anterior. Ela pôs a mesa, trouxe cerveja e perguntou: "Quer que eu lhe sirva?". Ele olhou bem para os olhos dela e truncado, devolveu: "Deixa que eu se sirvo, dona!". Estão casados! (Não é ficção, é real. Somente editei).
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