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domingo, 2 de setembro de 2007

A miscigenação do espaço público

As fronteiras entre o público e o privado caíram de vez. As toilletes foram liberadas e nenhum pudor deve ser encoberto mais. Explico. Estava com uns amigos no Conjunto Nacional, na nova (e horrorosa) livraria Cultura e nos deparamos com cenas explícitas de confusão entre ficar à vontade em casa e usar os ambientes lounge da livraria como se fosse uma chaise longue particular. As pessoas pegam os livros (pegam, isto é, não compram), começam a ler e deitam, sem sapatos, como se estivessem na poltrona do quarto ou mesmo na cama. Gente! Eu entendo o conceito de lounge e tudo o mais, mas, na Cultura, são uns dez confortáveis sofás que passaram a servir de camas para os sem-sofás em casa. É ridículo. A Cultura sempre se preservou como fonte única. Depois, com a abertura dessa megastore, está totalmente descaracterizada a ponto de eu não reconhecer nenhum atendente dos antigos. E eu frequento a livraria há uns 17, 18 anos. É horrível ver aquela penca de gente esfalfar-se e ronronar feito gatos satisfeitos. Eu vou lá para comprar livros, não para assistir uma performance do Instituto do Sono. E isso se espalha pela cidade feito praga. Pessoas com chinelos nos lugares mais impróprios, a coçar um pé com o outro; pés descalços apoiados nas poltronas dos cinemas; pés na sua cara! Na FNAC, que parece até intimista depois da nova Cultura, outro dia o segurança acordou uma garota que babava num cantinho, num sono completamente livre de pesadelos. Me poupe! Essa transformação do espaço público em privado pode ser bonitinha até, soar como uma apropriação da cidade por seus moradores. Mas, havemos de convir, tem que ter um limite. É uma exposição despudorada (e eu não sou nada conservador!) que me cheira a má educação. Depois do Big Brother (da Endemol, não do George Orwell), ficou difícil delimitar os espaços. Mas, espera aí! Não quero sair de casa para ver a baba do sono alheio, namorada a espremer a barriguinha do namorado (é fato, segundo testemunha) no cinema, sujeito a coçar o pé como se fosse um Jeca Tatu ou as banhas da mocinha que acha que pode. Contenham-se. Guardem os excessos (e como os há!). Aquilo que não se revela, adivinha-se com muito mais prazer.

2 Comentários:

Anônimo disse...

Concordo plenamente com o autor do texto. Está faltando educação, boas maneiras, e isso se revela nos espaços públicos. Como é bom conviver e dividir a cidade com pessoas educadas, que lembram que vivem em grupo, que o direito delas vai só até onde começa o direito dos outros! Foi bom encontrar esse desabafo!

Renata Cazarini de Freitas disse...

Acho que não dá pra concordar com vc, não, meu caro. Mas dei boas risadas. Antes um parque de diversões literários do que livro nenhum... Pra nós, ratos de livraria, sempre vai haver aquele sebo simpático e uma book shop ou outra, quase butique. O futuro será esse na indústria livreira. Tem jeito não!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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