Meu rugido dominical
A caixa de Pandora é o seu computador. A privacidade acabou. A tecnologia, tão cara à contemporaneidade, libera todos os monstros de Pandora e nos coloca nus, a todos. Estamos expostos à visitação e execração pública. Se a internet trouxe a comunicação e a troca de informações a níveis nunca antes vistos, trouxe também incertezas de quem sabe o quê sobre cada um de nós. Em matéria publicada no "The New York Times", há várias estórias de como o computador entrega os fatos ante os atos das pessoas. Era isso que Timothy John Berners-Lee (TimBL ou TBL), inventor da World Wide Web (popular internet ou web), tinha em mente? Duvido! Assim como Santos Dumont não imaginou que os aviões jogariam bombas e que o norte-americano J. Robert Oppenheimer (líder do primeiro projeto da bomba atômica) não sabia que Hiroshima e Nagasaki virariam pó, o criador da internet não pôde prever o fim da privacidade mundial. Às estórias. No início deste ano, um norte-americano suspeitou que sua mulher tinha um caso e instalou um programa, chamado PC Pandora, no computador dela. O programa gravava secretamente imagens da tela a cada 15 segundos e as enviava para ele. Com isso, o marido teve uma visão total dos sites que ela visitava e das mensagens instantâneas que enviava. Como o programa capturava suas senhas, o marido também pôde acessar e imprimir todas as mensagens de e-mail que sua mulher recebera e enviara durante um ano. O que ele descobriu pôs fim ao casamento. Ela estava com outro homem há 11 meses. Em outro caso, uma mulher descreveu que sentiu que seu marido estava distante e muito obcecado com seu BlackBerry (smartphone ou celular inteligente). No dia do seu aniversário, ela preparou-lhe um banho de espuma e depois explorou o aparelho, enquanto ele estava na banheira. Em suas mensagens de e-mail, ela encontrou evidências de que ele tinha um caso. Poucas semanas depois, a esposa entrou na conta da América Online do marido e encontrou mensagens de uma empresa de hipoteca. Ele havia comprado um apartamento de US$ 3 milhões, onde pretendia continuar seu caso. Uma outra mulher foi informada pela AOL e pelo Google no mesmo dia de que suas senhas haviam sido mudadas em duas contas de e-mail. No passado, ela havia descoberto um GPS, aparelho que registra a posição do carro, escondido na roda do carro da família. Ela suspeitou de seu marido de 24 anos, de quem está em processo de divórcio. Espiar, bisbilhotar e montar quebra-cabeças com a vida alheia sempre foram atos praticados pelo homem, em geral, em todas as culturas. A sofisticação da tecnologia só aprimorou o prosaico boato que, de fuxico, transforma-se em fato e até tragédia. Agora, a imensa aldeia global está vigiada, registrada e gravada. É possível acompanhar online um carro ou uma pessoa pela tela do seu computador. Você gosta desse admirável mundo novo?
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