Isto não é para você - IV
(previously, leia "Isto não é para você - III") Na babel que era Heathrow, olharam-se longamente. Olívia calculara mal o tempo de viagem, já que o fuso estava meio confuso por conta do horário de verão. Na verdade, passara 12 horas dentro do avião. Todo o peso da viagem e a imagem de Marcelo se fundiram. Ele nem havia perguntado como ela estava, e sim onde, como se tivessem se visto há algumas horas. Aproximaram-se, receosos e excitados. Tudo o que haviam passado resumia-se a nada quando se reencontravam. Não falaram. Beijaram-se. Sem dúvidas. Helena estava próxima, mas não ali. Jamais! Marcelo e Helena estavam juntos há três anos e Olívia odiava tudo aquilo. Mas, fôra sua a decisão. Não quisera se comprometer e Marcelo a respeitara. Não sem antes haver uma série de pontes aéreas Londres-São Paulo de ambos. Em vão. Olívia cometera o erro fatal de hesitar. Agora, lhes restavam apenas breves três dias. Helena estava em Liverpool para uma convenção da cadeia de hotéis que gerenciava na Inglaterra. A linda, doce e compreensiva Helena. Olívia podia vê-la ao lado de Marcelo, cheia de energia e cativante. Com a respiração entrecortada, ambos se distanciaram. Vamos tomar algo?, convidou Marcelo. Ela só meneou a cabeça, como um protesto frágil. Foram. Havia muito para ser dito. Mas, estavam ambos desolados. Por que razão tinha que ir a Dubai? Por que se comprometera a morar nos Emirados Árabes pelo próximo ano? Queria fugir. Mas, ir ao deserto? Sabia que Dubai era a nova meca mundial: o prédio mais alto do mundo, três imensas ilhas artificiais em construção, com terrenos feitos de areia, o metro quadrado mais caro do mundo. Em Dubai, não se pára aos domingos. Não existe domingo. Trabalha-se a semana toda, sem descanso. Era isso que procurava? Ter uma estafa para esquecer-se dos maus atos? Olívia se torturaria muito até o próximo embarque. Era contratual, não podia voltar atrás. Agora, isso não tinha importância. Saíram do tráfego pesado da babel pós-moderna. Haveria três dias só para eles. Não podia gastar sua energia com o que deixara em São Paulo e com o que seria Dubai. Sabia que havia muitas interrogações. Pesavam na sua cabeça mais do que as falsas Louis Vuitton que comprara na 25 de Março. Será que tudo era assim, precário e falso? O café chegou. Conversaram, tímidos, recatados. Tinham que sair dali. Ir ao ninho. Já. Agora! (post script, leia "Isto não é para você - V" em O Quem).
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