O que não pode faltar em casa
Sabe aquelas perguntas do tipo "O que não pode faltar na sua geladeira?" Na minha, nunca falta água, a despeito de eu ser um signo do fogo. Sede, sempre tenho. Seja da forma convencional, líquida, ou outras, digamos, mais etéreas e inconfessáveis. Beber pressupõe um evento social, boa companhia e bebida de qualidade. Acho que dá para contar numa mão o momento em que eu pensei em beber sozinho. Contudo, tem dias que você deseja mergulhar na fonte e aí seria muito bom se a torneira estivesse ali, numa disponibilidade quase infinita. Imagina então quando você está com vários sinais cruzados, disparados para tudo quanto é lado e sem canais de retorno. É o que chamo de invisibilidade. Você pode plantar bananeira pelado e ninguém vai perceber. Se for notado, é para ser reduzido à condição de palhaço. E aí o ridículo se firma como marca de expressão bem na tua cara. A invisibilidade, entretanto, tem certas regras e condições: você a adquiriu porque passou a viver num mundo idealizado, sem espelhos. Você se esgueirou pelos cantos como um gato na madrugada, à espreita de ratos que se mostraram falsos. Você se comprometeu tanto que chegou a vazar, compulsivo. Você acendeu uma vela para um santo e apagou a luz cerebral. Você agiu feito uma Amélia que nunca foi mulher de verdade, só fingiu tudo aquilo. Você se derreteu na hora errada e virou uma tocha quando percebeu. Você engatou a marcha a ré e se deu conta quando o muro te retribuiu. E agora, José? Vai para o calabouço. Vai para o underworld. Deita e espera passar. Há de!
Seja o primeiro a comentar
Postar um comentário