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sábado, 2 de agosto de 2008

Simone (ou aquela que tudo ouve)

17:15 horas. O lugar estava cheio. Como sempre, aos sábados. Fui o primeiro a chegar. Fiz o egípcio e escaneei o ambiente. Norte, sul, leste e oeste, latitude, longitude. GPS ligadíssimo. Identifiquei, ao longe, um clown: botas e uma cueca/fralda branca. Um homem branco, de cabelos curtos. Uma performance, pensei.

Liguei para P. Disse que ainda demoraria. Me passou o telefone de A. Liguei para A. Não atendeu. Esperei. Liguei novamente. A atendeu e me disse que estava do outro lado. Esperei. Uns dez ou 15 minutos depois, nos vimos, A e eu. Nos cumprimentamos e A, ativa, andarilha e reativa, sumiu lá dentro e voltou com uma garrafa e copos.

Sentamos sob a árvore, testemunha de cenas semelhantes há um ano. Conversamos e esperamos por P. O clown descia, lentamente. Registrei vagamente quando ele chegaria a nós. P chegou. A mesa do lado acertava a conta. Mais um pouquinho e migramos da mureta para a mesa. Ocupada, nos disseram. Liberada, nos disseram. Entre risos, agradecimentos e mesuras, ficamos, os que ocuparam e os que desocuparam, sentados e em pé. Juntos e não-juntos. Porque hoje é sábado e estamos todos amenos, em pé ou sentados (ou pensei que estivéssemos).

Havia, à nossa direita, um casal de gays e, depois, uma mesa de umas cinco ou seis mulheres. À esquerda, muitos gays, mulheres, lésbicas. Até um cachorro, creio. Assentados, em paz e feliz de conquistar a mesa, queríamos pedir.

De repente, um barulho. Algo que quebra. Em efeito dominó, um amontoado de gente. Queda, queda e queda, até chegar à nossa mesa. Caí uma meia-queda. Por três vezes, fui ao chão e não o toquei. As cadeiras e a mesa me seguraram. Copos caíram. Mais copos. Garrafas quebradas. O clown veio para cima de mim, empurrado vigorosamente.


Um clamor, gritos, correria. Uma gigante bradava. Queria bater no clown. Colérica, cresceu diante de todos nós. Seu nome acendeu-se em letreiro para a praça: SIMONE! e piscou fortemente. Possuída pelas Fúrias, Simone tentou atacar o clown. Foi contida. Foram necessárias cinco ou seis para deter a possessa.

Um dos gays da mesa ao lado elevou a voz e bradou gritos de guerra contra o clown. Uniu sua fúria à de Simone. As amigas de Simone, em coro grego, silenciaram a guerreira. Contiveram a força bruta que emanava daquela mulher que seguraria touros à unha naquele momento. Sentamo-nos. Em três minutos, levantamo-nos.


O clown voltara, as Fúrias voltaram juntas, o gay vociferou, levantou o braço e bateu no clown. P correu de lado. A e eu nos levantamos e A sugeriu que entrássemos no restaurante. Chamamos P que, hipnotizada, por segundos, não nos viu. A chamou de novo e P uniu-se a nós. Sabíamos que o clown voltaria e que o gay brigaria e que Simone arrebentaria as amarras e cobriria o clown de hematomas.

Lá dentro, a salvo de Simone, do clown e do gay, repassamos a cena. P disse que Simone chorava. Compreendi imediatamente que Simone chorava porque fôra contida em sua fúria, não pudera concretizar a imensa corrente elétrica que lhe atravessava as entranhas. Simone estava plena de adrenalina e sua represa estava fechada, sem vazão. Ondas lhe batiam no cérebro e imploravam para virar maremotos.


O clown apanhou do gay. Avaliamos, P, A e eu, que aquilo tinha sido grotesco e infundado. Que os responsáveis pelo restaurante deveriam ter intervido. E não que houvesse sopapos, violência física. De minha parte, admirei Simone. Uma mulher de óculos, calça jeans e camiseta branca, em segundos, sofreu metamorfose de Hulk.

Cresceu e deu à luz uma amazona. Uma lenhadora. Virou energia em estado puro. Contida por dez braços, enfim. Lamentei, mais uma vez, que Simone não pudesse ser aproveitada em toda a sua glória para outras atividades. Simone que, em hebraico, significa "aquela que tudo ouve", foi grande neste sábado. Nos apequenou, a mim, a P, a A e a grande massa, formada na maioria por gays, que, em três segundos, de massa compacta, transformaram-se em dezenas de pontinhos perdidos. Os gays fugiram. As mulheres ficaram. Foram machas. Lideradas por Simone, foram vitoriosas.


O terceiro ato aconteceu quando estávamos no interior do restaurante. Não vimos a cena, mas, a soubemos pela trilha incidental - garrafas e copos quebrados. Sabíamos que o pau comia solto de novo. Se Simone estava lá? Creio que sim. Que Simone não se furta à luta. Elegi Simone como meio de conduta. Simone, és a minha heroína do dia. O que deu origem à grandiosidade de Simone? Segundo o garçom, o clown apontou para as nádegas de Simone e disse que (direi de forma polida) dava para ver a linha que separa a nádega da esquerda da nádega da direita. Não sei se foi só isso. Creio que existiram mais palavras e gestos ditos e feitos entre o clown, Simone e o gay que os levaram, todos, ao conflito e à luta corporal. Não importa. Para mim, Simone bastou. 

(Os fatos aqui relatados são reais e ocorreram neste sábado, 2, na Calixta - vulgo Praça Benedito Calixto, em Pinheiros -, bem em frente ao restaurante "Consulado Mineiro", cujos responsáveis não moveram uma palha para colocar fim à briga. A "P" é a Patty Diphusa, a "A" é a Andarilha e eu sou eu mesmo. O exato local a que me referi foi palco, por uma feliz coincidência, há quase um ano - 4 de agosto, especificamente -, da gestação do blog da Patty e do meu, atiçado exatamente pela Patty. Foi ali que, por influência não sei de quantos chopps, Patty me incentivou a dar início ao processo de blogar. Ela, mais esperta, havia começado um dia antes - no BliG, né Patty! - e, um dia depois, migrou para o Blogger. Ao chegarmos em nossas respectivas casas, montamos os blogs. Simone, o clown - que é figura assídua da praça -, o gay, os demais gays e tudo o mais marcam, simbolicamente, o ritual de passagem do blog da Patty e do meu para o segundo ano de vida. Creio que, se depender da Simone, ninguém nos tirará - a mim, a Patty e à Andarilha -, o direito de nos expressarmos. Ao primeiro sinal de contrariedade, faremos de Simone nosso escudo.)

3 Comentários:

Patty Diphusa disse...

Adorei a lenhadora. rs

É impressionante o que um cofrinho não faz. Simone defendeu o seu com valentia, não há dúvida. Quem era o clown para falar que a calça dela estava bem abaixo da marca estabelecida como aceitável????

O mais engraçado é o gerente adjunto falar: isso acontece toda semana.

E muito doido o seu não tombo por três vezes. Como diz minha amiga Fafá, ergue mas não quebra.

E viva um ano!!!!! Com Simone protegendo nossos blogs ninguém nos segura mesmo.

Bjs

Reiko Miura disse...

Parabéns pelo aniversário. E só posso agradecer, afinal, fui instigada por Patty e ajudada por você enquanto estava engatinhando na blogosfera. Tomei gosto.

E viva a Simone! Se nasceu na Paraíba, não sei, mas que mostrou a que veio ao mundo, isso mostrou.

bjs.

Redneck disse...

Patty, com Simone, ninguém tomba com a gente. Beijo!

Andarilha, e quando você vai atualizar o seu blog com as informações de Belém? Viva a Simone! Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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