The book is (and was) on the table
Quando estou sombrio feito o crepúsculo e não sei se é quase dia ou quase noite, atiro-me aos livros para perfurar a fera interior. Foi o que fiz ontem, exatamente no horário a que me referi. No lusco-fusco do fim do dia e início da noite, refiz o caminho que me leva às viagens da literatura. Como sou portador de TOC (OK, podem dizer que é exagero, mas, eu sou mesmo exagerado!), tenho que me lembrar, qualquer hora dessas, de contar os passos que ligam minha casa à FNAC. Não sou supersticioso, mas, quero saber se os passos de um dia par são os mesmos de um dia ímpar.
Chame do que quiser. Eu chamo de pequenos surtos que se me atacam, do nada. Alguma ferinha interior, dia sim, dia não, clama para espichar os olhos e algo mais para o mundo exterior. Calma, calma, não se assuste. Ainda estou sob a influência do último livro que li (em dois dias). Foi "Love", de Stephen King (editora Objetiva, 542 páginas).
Sou fã de King desde as primeiras horas, lá atrás. Li "O Iluminado" antes mesmo de saber que havia um filme. "Christine", o carro assassino, "Carrie, A Estranha". Creio que li todos os Kings disponíveis. Adoro o processo sôfrego de criação do autor. Parece que ele tem que colocar para fora um monte de feras para que elas não o corrompam em definitivo.
Assisti "Kingdon Hospital", "A Tempestade do Século" (Storm of the Century) e "Nightmares and Dreamscapes", séries do autor, sem contar um monte de filmes baseados em suas obras.
Creio que tenho mais de 30 livros de King. Os últimos foram da série "Torre Negra", sete volumes no total. Ainda não li "Celular". "Love", este último que li, trata da própria morte de um autor de grande sucesso (os livros de King sempre têm forte apelo autobiográfico) e o processo de absorção da perda pela sua viúva, com todos os elementos de terror (e, por que não, de comédia?) presentes nas obras do autor, em geral. Sou suspeito quando se trata de King. Eu gostei. Gostei também de uma frase: "Te gritarei para casa", um chamado, um apelo. King é sempre estranho e há uma legião de seguidores no mundo todo (alguns, meio loucos, inclusive).
Para se somar a King, ontem comprei um outro livro sombrio, "Quase Noite", de Alice Sebold (editora Agir, 291 páginas). A autora é a mesma do livro "Uma Vida Interrompida", que eu ainda não li, e que vendeu milhões de exemplares.
Em "Quase Noite", a autora que, assim como King, tem uma forte base autobiográfica, discute a tensa relação entre mãe e filha. Para choque do leitor, no segundo capítulo a filha mata friamente a mãe senil. Ao longo do livro, será desvendado o motivo desse assassinato.
Estou ou não sombrio, com tanto terror e horror na literatura? Claro que não pretendo matar ninguém nos próximos dias (e tampouco a minha mãe). Pelo menos por enquanto, não. A morte virtual, aquela na qual você mata alguém dentro de você, faz mais o meu gênero do que a morte física. Enquanto não mato ninguém, nem mesmo virtualmente, quando for lá no final da tarde, retomarei a leitura de "Quase Noite".
2 Comentários:
A propósito, hoje (sexta, dia 8) à 00:30 passa um filme com esse espírito sombrio. É o CRISÁLIDAS, de Fernando Mendes, na TV Câmara. Veja o final do resumo: "Embalados por uma ingênua cantiga infantil, somos levados pelos labirintos concebidos em suas fantasias, em jogos de terror e desejos ocultos." (Reprises: Sábado (09) - 7h, Domingo (10) - 1h e 21h30, Segunda (11) - 23h, Terça (12) - 6h30 e Quinta (14) - 5h).
Andarilha, não conheço o filme, mas, que se aplica, se aplica. Vou ver se assisto para adicionar mais acidez ao doce e frio prato da vingança. Beijo!
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