Rastreio de Cozinha - 97
Me quedei combalido feito um doente terminal, com vagas sensações de consciência/não-consciência. De forma vampiresca, evitei a luz do dia. Comecei a acordar quando o sol dormia.
Foram seis bebidas diferentes que, reunidas, provocaram exaltação, negação e aceitação, nessa sequência: champagne, cerveja, vodka lemon, .... não sei o quê com gosto de anis, tequila e licor de cerveja. Até chegar na tequila, eu estava bem. Foi a.T. e d.T. (antes e depois da Tequila).
O depois foi uma sucessão de, segundo uma suspeitíssima testemunha, comportamentos heterodoxos, mudança de sexo, bocas esfregadas com bebida, sinais de bestialidade, amores de repente convertidos do nada a eternos e mais uma série de pequenos detalhes que se me escapam, dado que hostis ou melhor avaliados se devidamente esquecidos.
Tais são as evidências de uma noite que começou com promessas de convento (o prédio, com aparência e sinais de internato de calouras dos anos 30) e terminou com padres e freiras saídos do Decameron. Sei que, para você, que lê, tudo se converteu numa imensa e belicosa orgia. Há uma certa hipérbole de minha parte, mas, guardadas as vastas proporções para que todos nelas caibamos, o fato é que, ao final do jogo de vôlei masculino, liquidado o ouro para os norte-americanos, liquidamos, os brasileiros presentes no virtual convento, toda a bebida disponível.
Desse comportamento do tipo "eu não sou assim, não sei o que aconteceu", sobrou um domingo pelo qual atravessei a duras braçadas maratônicas e, se não soçobrei diante de tempestades majestosas, digo que estou pronto para uma vida de recolhimento e piedade.
Ficarei, por algum tempo (não me pergunte quanto porque isso é indiscrição), no cantinho, pronto para rever algumas atitudes e meditarei, ciente de que o purgatório é um bom local enquanto o inferno não chega para arder em definitivo.
Essa introdução com ar de confessionário vem do fato de que, para me mortificar por completo, claro que, hoje, HOJÍSSIMO, eu tinha um dead line à espreita, pronto para tirar proveito da minha incapacidade - momentânea, que fique claro - de lidar com algumas garrafas. Claro que estou preso a este teclado feito um imã desde alvas horas desta segunda que já beira terça. Fiz 87 matérias, a cabeça zune (neurônios morreram, computei mais alguns suicidas ainda hoje) e o corpo, revolto, tenta entender por que, por que que a gente é assim?
Mais uma dose?
É claro que eu estou a fim
A noite nunca tem fim
Por que a gente é assim?
Agora fica comigo
E vê se não desgruda de mim
Vê se ao menos me engole
Mas não me mastiga assim
Canibais de nós mesmos
Antes que a terra nos coma
Cem gramas, sem dramas
Por que que a gente é assim?
Mais uma dose?
É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim
Baby, por que a gente é assim?
Você tem exatamente
Três mil horas pra parar de me beijar
Hum, meu bem, você tem tudo
Pra me conquistar
Você tem exatamente
Um segundo pra aprender a me amar
Você tem a vida inteira
Pra me devorar
Pra me devorar!
Mais uma dose?
É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim
Por que a gente é assim?
by Ney Matogrosso
P.S. Aula???? Claro que não!!! Adivinha do que era??? Sim, de bar, drinks, coquetéis .... Acredita? "Benzinho, eu ando pirado, rodando de bar em bar ..." Chega, né!
9 Comentários:
Ja que vc esta numa clima de rendiçao depois de um final de semana de orgia etilica, so posso te desejar muita fe e que Deus ilumine esse caminho de embriaguez.
Bjo
La Voyageuse, esse ano de contrição é mais fugaz do que o vôo dessas andorinhas de verão. É só para arregimentar a piedade alheia. Hehehehehe!!!! Beijo!
Quer dizer, esse ato. Se fosse ano, era melhor que eu me retirasse para o Tibet.
pô, que vontade de beber que me deu esse post !!!! hehehe...vou correndo tomar uma absolut pra dormir... abraço
não vou comentar nada das suas orgias líquidas não, era só para dizer que esse seu "amigo" citado do lado direito, tinha umas ideias meio besta! lol. tinha uma certa mania, aqui em portugal chamada da "puta da mania"!... super-homens e tal... é que isso do "dever" tem muito que se lhe diga, e nada tem a ver com "autómatos". Não existe Dever no reino animal (irracional) nem no das máquinas, pois é.
Testemunha suspeitíssima???
Como assim? Uma testemunha acima de qualquer suspeita, tá? Uma repórter de fatos etílicos.
O que esse cara aí falou mesmo?
Bjs
Ricardo, o que fazer com a convidativa vodka gelada no freezer? Beber, claro! Quem resiste? Saúde! Abraço!
Sinônimo, embora eu nem sempre concorde com o "amigo", tem dias que procede plenamente o que ele disse. Ontem, para mim, foi um desses dias. Melhor você vir comigo para a orgia de Baco. Abraço!
Patty, não faz a profissional. Eu sei o que você fez no verão (e no inverno, outono e primavera) passado. Beijo!
Visite a montanha... redherrings2. (os prazeres de baco, líquidos, aprecio sim, mas sem grandes misturas nem exageros. gosto de controlar! e tres de vodka oui! e a mortal bebida verde!? já experimentou?) boas aulas.
sinónimo
Sinônimo, quer dizer que a montanha tem novo endereço? Muito bem, muito bem. Dei uma passada lá e retornarei. Maomé caminha, de vez em quando. Quanto à bebida verde, sim, claro. Como não? As aulas, boas ou não, são obrigatórias. Abraço!
Postar um comentário