Amores expressos/por espressos
Tenho uma amiga que me define de duas formas: ou sou completamente ansioso, e me atiro com toda sede ao pote e, no processo, quebro o pote, me machuco, a água cai e continuo com sede; ou faço a linha oriental, com os olhos baixos, respiração em suspenso, um pó de prilimpimpim para desaparecer do instante e fazer desaparecer também o próprio instante.
Não tem jeito. Sou dois e os dois são estranhos. Não consegui uma combinação de ambos ainda, a despeito de trabalhar para forçar um encontro entre essas duas metades tão antagônicas. O ideal seria conjugar um e outro e fazer nascer um terceiro, com uma timidez administrável, que seria vista como uma qualidade, um pequeno pudor. Um ruborzinho não atrapalharia. Antes, talvez, atrairia.
Mas, na prática do dia-a-dia, nada disso se concretiza. Ou tenho pressa, e apressado come cru, ou olho para o lado diametralmente oposto e corro o risco de ser definido como estrábico. Ou sou primata, com tacape na mão, ou um asceta que atingiu o nirvana e paira acima do mundo real. Como não dá para conciliar ambiguidades tão diversas, tenho que tomar providências.
Comento isso porque acabei de concluir que talvez eu tenha que andar com um notebook acoplado a mim e que, melhor no manejo das palavras quando escrevo, não devo mais falar, em absoluto. Voltarei ao velho tempo dos correios-elegantes, em versão modernizada na tela do note. Acabei de ler no Man In The Box sobre o aumento da frequência nos cafés de SP, em função das restrições alcóolicas da Lei Seca. Como sou velho frequentador de cafés e peregrino incessantemente na busca de amores expressos/por espressos, farei como alguns frequentadores relatados pelo MIM: entrarei mudo e sairei calado (por vezes, se devido, pelado).
Minha boca será a tela plana do note. Minhas palavras serão expressas, com ou sem espressos, por meio de windows de words. Nada mais. Serei um cyborg da palavra.
5 Comentários:
Eu não digo que às vezes as palavras são demais? Pior que digo, digo, digo....
E o expresso de amanhã, sinto muito, mas terá que falar, tá? Um expresso de palavras.
bjs
Dizem os mais velhos que em boca fechada não entra mosquito. Então, caríssimo, se optar por essa via, é só segurar o impulso e cuidar pra não mandar aquele e-mail raivoso antes de reler. Outro ditado dos mais velhos: palavra dita, não se volta atrás. Atualizado pra era cibernética seria: e-mail enviado, não se volta atrás.
Patty, mas, essa regra se aplica a nós também??? Então, tá! Quando a gente se calar, e porque a coisa tá séria! Beijo!
Andarilha, o duro é ter que fazer um curso de hacker para poder bloquear o e-mail errado no servidor do destinatário. Beijo!
Para bom entendedor, meia palavra byte !
Claro-escuro, exabit!
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