Rastreio de Cozinha - 89
Sabe como eu me safo do stress do metrô? Música. Hoje, fui de Vivaldi (Concerto in G) e mais algumas músicas da trilha sonora do filme "Marie Antoinette".
Às vezes, sigo continuamente com as mesmas músicas por dias a fio. Além de Vivaldi, estou encantado por "Tristes Appréts, Pâles Flambeaux", de Jean Philippe Rameau, por W. Christie.
Parece triste, não é? E é mesmo! Mas, combina tanto com o metrô, tão triste de tantas pessoas cansadas. Eu queria ser DJ por um dia no metrô. Tocaria essas e outras músicas para os passageiros. Bastaria fechar os olhos e viajar. É tudo tão insano na superlotação dos trens que, tenho certeza, a música aliviaria em grande parte os olhares tristes que vejo por todo lado.
Eu escolheria a trilha sonora conforme o nome da estação, de acordo com o momento. Iria de Vagner quando os momentos ficassem mais tensos. Tocaria Cássia Eller para lembrar-nos a todos que acima de nós há um e até dois sóis. Emocionaria com o mundo de Sigur Rós. Levaria a beleza de Maria Callas e a doçura de "La Mamma Morta". Dançaria com Madonna sobre o assoalho dos vagões.
Ainda vou solicitar permissão à direção do metrô para fazer um subway soundtrack enquanto seguimos as trilhas dentro dos túneis. Mas, ou eu me transformo em maquinista ou em DJ, ou volto à gastronomia, que, afinal, é a verdadeira causa desses pensamentos (in)oportunos.
No terceiro dia de aula, percebo que as coisas mudam para continuar onde estão. Você sabe que quando alguém diz a palavra "reverteu", na verdade, afirma que algo aconteceu e desaconteceu? O termo certo, quando há uma guinada radical, é "inverter". Pois bem! No meu caso, houve, de fato, uma reversão. Sou de tudo um pouco e o todo não fecha, entende?
Além de ter feito faculdade de administração de empresas (3,5 anos), antes, fiz o curso técnico de contabilidade, e, portanto, oficialmente, sou contador também. Quando abandonei a faculdade de administração, uma das disciplinas em que tinha maior dificuldade era a de Matemática Financeira. Odiava!!! No curso de contabilidade, aprendi tudo sobre balanços, balancetes, livros-caixa e razão. Quando, já em São Paulo, ao trabalhar em banco, tive que fazer um curso daquela maldita calculadora financeira da HP. Claro que, se aprendi alguma coisa, foi que aquela maquininha é diabólica.
Agora, a poucos meses do final da faculdade de gastronomia, descubro que tudo voltou, que minha vida acadêmica passou das ciências humanas (jornalismo) e sociais (gastronomia) diretamente para as exatas (administração e contabilidade). Para ser exato, sofri uma reversão e voltei ao ponto em que estava quando abandonei o curso de administração de empresas.
Somente nesses poucos três dias, ouvi, com espanto, um professor citar Taylor e Fayol, clássicos da administração de empresas; outro falou em downsizing (aka demissão); e, hoje, nos falaram sobre fluxo do trabalho (linear e funcional), fluxo de caixa, demonstrativo de resultado e pay-back. Oras! Eu não sabia que estava na FGV!!!
Acabou-se o que era doce, o que era salgado, massa, temperos, criações, fusões (bem, fusão encaixa-se em administração também). Acabou a gastronomia. Agora, é só teoria. E das antigas, já visitadas. E chatas. Exatas, para ser extremamente exato. E o exato não me atrai. Nem um pouco. Preciso do abstrato.
Tivemos aulas de Planejamento e Organização (válido para o TCC) e também de Gestão Financeira (ainda mais aplicável ao TCC). Não gosto desse quarto módulo, em definitivo. Leia os posts de ontem e anteontem e veja que, em poucos dias, tudo o que descrevi nos Rastreios de Cozinha 1 a 86 pertence a um outro mundo. Reverteram o meu mundo e passei por uma mudança de 180º. Fico tentado a fazer uma outra faculdade, de engenharia mecatrônica.
Quem sabe não está lá, no ITA, a resposta aos meus anseios? Que, justamente a matemática traduz a música em fractais, não é? Por esse prisma (já estou na física), a música a que eu me referi no início deste texto tem tudo a ver com a matemática que ora volta cheia de amor para dar para a minha vida. Cogito, ergo sun! Logo, eureka! Ouço música no metrô para aprender matemática na faculdade de gastronomia, assim como as vacas produzem mais leite quando ouvem doces sinfonias. Elas, leite. Eu, deleite (com a descoberta).
4 Comentários:
muito pro-lixos seus textos, sempre, entre o convidativo (quando lhe parece estar de maré) e o ofensivo(quando crê que o rio jamais chegará ao mar). Belos, muitos deles, poéticos, cultivados em solo arenoso, brotados da pedra, tantas vezes. Mesmo sem rosto, saiba que a música no metrô, ou onde quer que seja, pelas mãos de algum dj, não pode ser a SUA, aquela que a si enche as medidas, ou esvazia de emoção. Música pelas mãos de dj tem que ser COM. Procure na filosofia e encontrará...está lá tudo, incluso a matemática, gastronomia e, claro, o tema quase exclusivo deste blog... "Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma"!?...
Anonymus, aqui ou no além-mar, vago conforme meu próprio sabor, nascido da pedra, da areia, da terra ou do ar. Se convidativo ou ofensivo? Assim é, se lhe parece. E, se você tem o direito à palavra, deixe a mim o direito de, sim, oferecer minha própria trilha, no metrô ou em outro lugar qualquer. Sim, pode ser a minha música. Não procuro respostas, seja na filosofia, na gastronomia ou matemática. Quero apenas divagar. Será que fui pro-lixo de novo? Pena!
Pro-lixo? Acho que não deveríamos nem repetir isso mais aqui. Mas não me contive. Que tipo de frustração pode ter alguém que perde tempo em comentar em blogs que ele classifica dessa forma? Será que a máxima "a porta da rua é serventia da casa" é conhecida em outras regiões e, quem sabe, em outros países?
Who knows? Ou melhor, quem estará a saber? rs.
Red, espante as moscas trazidas para cá e siga, amigo. Adoro seu canto.
Bjs
Patty, obrigado. As moscas são mesmo uma praga e, sendo eu um sujo, as atraio, inexoravelmente. É da minha condição (leonina) abanar o rabo e da delas (moscas) tentar me picar. No final do dia, descanso. Elas, vicejam. Beijo!
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