Meu rugido dominical
O que acontece efetivamente quando pensamos em alguém? Quando, de passagem, citamos o nome das pessoas? Será que há, realmente, alguma força por detrás disso? Penso nisso quando avalio até que ponto podemos influenciar uma outra pessoa somente pelo fato de existirmos. Parece pretensioso, e talvez o seja mesmo. Mas, me ocorre que, de alguma forma, influenciamos o outro não apenas com palavras ou atitudes, mas, sobretudo, pela imagem que projetamos.
Ao mesmo tempo, avalio que a imagem que o outro tem de nós mesmos é sempre um reflexo deformado, ou, melhor, idealizado do que realmente somos. Porque o olhar do outro sobre nós sempre será filtrado por avaliações objetivas e subjetivas.
Digo isso na certeza de que o outro nunca me entenderá por completo, ainda que venhamos a nos conhecer das formas as mais íntimas possíveis. Sempre restará algum canto não-devassado, fechado ao olhar e à percepção do outro.
As pessoas - amigos, família etc. - tendem a afirmar com convicção que nos conhecem e que, muito provavelmente, sabem como reagiremos a determinadas situações. Em parte, isso pode até ser verdade. Mas, em alguns aspectos, é impressionante o quanto podem estar longe das nossas verdades.
Não falo aqui sobre desejos e segredos obscuros, e sim sobre o modo como nos comportamos e que dá ao outro uma dimensão do que somos. Mas, aparentemente, essa dimensão é moldada de acordo com os interesses do outro, e não exatamente com a objetividade do que realmente pensamos.
É meio que forjar sentimentos e atitudes que, na verdade, não temos. Espera-se de você, de mim, de todos nós, gestos determinados. E, no extremo, quando esses gestos não se concretizam em palavras e atitudes, creio que as pessoas tendem a fantasiá-los e a vê-los como reais, conquanto não o sejam.
Sou "bom", portanto, esperam que todas as minhas ações sejam "boas". Isso, por si só, me define dentro de um rótulo do qual, por mais que eu insista em me liberar, aprisiona-me mais e mais. Não que eu venha a ser realmente "bom". Mas, na mente do outro, passo por "bom".
Não gosto dessa sensação de que, ao contrário do que imagino, quando digo "sim", quero dizer "sim", e não um "não". Que, se não falo nada, nada tenho a dizer. Que, se não ajo da maneira "x", é porque a maneira "y" ou nenhuma maneira são melhores, no meu entendimento.
Coloco essa questão aqui porque queria muito entender se, cientificamente, existe mesmo alguma razoabilidade em transformar pensamentos alheios sobre mim mesmo em fluxos positivos e negativos de tal forma que me afetem. Parece muita viagem e talvez seja mesmo.
É porque ainda me espanto com o fato de que as pessoas, em geral, dão mais crédito a imagens e concepções estabelecidas do que ao real. Suponho que é mais fácil lidar com a fantasia do que com a realidade. E, se essa fantasia abrange também a forma como sou visto, logo, não existo na realidade. Sou um não-ser. A não ser para mim mesmo, não existo da forma como me imagino.
É estranho, não? Mas, se você observar à sua volta, verá que essa análise tem lógica. Cada um de nós é cercado por pessoas que conosco convivem (por longo ou curto tempo, não importa) e que formulam, invariavelmente, desenhos de nós para futuras interações. É meio que defensivo: quanto mais eu te conhecer, mais eu saberei como lidar com você. É meio possessivo, até.
Mas, visto sob outra ótica, se a imagem que concebem de nós nada tem a ver com o ser real que somos, então, ninguém sabe nada de ninguém e muito menos a ponto de me/te entender por completo. Creio que algumas pessoas transpõem essa fronteira e chegam a ter vislumbres do "eu real". Quando isso acontece, ficamos surpresos. Não deveríamos, mas, ficamos maravilhados porque essa pessoa rompeu as barreiras e, de alguma forma, teve acesso a códigos desconhecidos para as demais pessoas.
Não acredito que dá para ser 100% transparente ou que uma entrega integral seja possível. Nem sei que quero isso. Somos, antes, seres biológicos cuja meta, no limite, é a auto-preservação. Mas, gostaria que a um gesto ou a um não-gesto meu, correspondesse, no outro, à leitura de um gesto ou um não-gesto, e não de interpretações vagas e equivocadas que, na maior parte das vezes, estão em direções completamente opostas daquilo que tal gesto/não-gesto pretendeu. É difícil se fazer entender.
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