(Dry martini, a la Sexy and the City ou, se preferir, by Amy Winehouse)
Não é brincadeira não! Do lado de cá, como comensal, sei do que falo. Cidade à beira-mar? Espere por peixes congelados no jantar! Em São Paulo? Espere por medalhões que bóiam num caldo ralo? Nordeste ou Sudeste, é tudo igual, com mais ou menos sal e é só! O gosto predominante nos inúmeros eventos é o mesmo.
O que eu não imaginava é que, ao passar do lado de lá, como cozinheiro, fosse ser um daqueles cozinheiros industriais que pensará se a geléia de manga combina com o croissant já não tão fresco. Se o pão de queijo servirá ou não de matéria-prima para o elástico da meia-calça da jornalista que se sente dona da mesa. Se o mini-sanduíche tem atum oleoso demais ou tem cenoura moída de menos. Se o suco de laranja que o canalha da mesa 5 devolveu deve ser salpicado com um calmante.
(Gimlet, coquetel de vodka para disfarçar a enorme vontade de beber álcool puro)
E aquele café, com gosto perverso de evento corporativo? Estou para ver (e provar) um café com aroma de verdade, sem que se sinta no corpo do café o mal-estar que paira na cozinha. Mal-estar causado por uma máquina de fazer e servir comida e bebida como se fossemos todos uns gansos que devem ser alimentados ao infinito para produzir parrudos foie gras.
E o que dizer da disciplina de Sala e Bar? Mil vezes ser o bebum a fazer o papel de bartender. Quero ficar com a barriga pachorrenta recostada no balcão e admirar a presteza do engolidor de espáduas de fogo que faz malabarismos para me desviar a atenção do que vai no meu copo. Será que serei um malabarista de garrafas ao invés de secá-las sofregamente? Que colocarei pequenas sombrinhas chinesas em drinks coloridos que formam o espectro completo das cores do arco-íris? Devo mesmo estar bêbado desde já! A fazer um daiquiri, prefiro cometer o haraquiri! É sério!
(Gin and tonic, que manteve a lucidez da rainha-mãe Elizabeth por quase 102 anos; portanto, o gin foi seu formol enquanto viva)
Na aula de eventos, por exemplo, teremos que montar um evento completo (temático, será um coquetel baseado nos 50 anos da bossa nova). Teremos que preparar a comida, a decoração, os convites, o custo etc. etc. Será que estarei fadado a fazer festinhas de crianças, de casamento, de empresas e, no limite, de batizados e até mesmo de competições de cachorros?
Não, mil vezes não! Quero voltar para a cozinha. Ficar longe dessa máfia a que agora se dá o abrangente e indecente nome de "evento". Evento pode ser qualquer coisa, do afundamento do Titanic à Olimpíada de Pequim. Como se comportar num contexto tão gigantesco quanto este?
Vou beber. Será esse o meu aprendizado em sala e bar. Até agora não entendi porque sala e bar!!! Eu ficaria mais confortável se fosse banheiro e bar. Ou apenas bar. Com as garrafas. Todas. E eu. Bêbado no meio delas. Tenho que beber. Qualquer coisa. Começarei com gim tônica, um dry martini, um uísque 12, uma vodka polonesa. Beber até cair.
(Whisky cowboy, sem gelo, que sou caipira, Redneck - o gelo é só decoração, hehehehe!!!!!)
Porque, sem a bebida, será difícil passar pelos eventos todos, atravessar banquetes, ir até à sala e passar ao bar, como se nada tivesse acontecido. Como é difícil chegar e permanecer na cozinha. Você nem imagina o esforço. Nos tiraram da boca do fogão e estamos na boca do mercado, que é o bicho temível. Não quero ser banqueteiro, pelas barbas dos camarões vermelhos! Não desejo ser um bartender com rostos afogueados à minha frente que imploram: mais um, mais um! Quero apenas cozinhar.
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