Rastreio de Cozinha - 94
Caro bleader (gosto de usar essa expressão porque designa os leitores de todos os sexos possíveis), claro que, na medida em que eu começar a me encher de postar sobre as aborrecidas aulas teóricas, farei como no semestre anterior: substituirei as aulas dadas/oficiais por aulas criadas por mim, do jeito que eu bem entender.
Porque, depois de uma semana, se eu já acho chato ficar a repetir aulas teóricas que não devem interessar nem o morcego que insiste em fazer vôos rasantes ao redor da minha torre, imagina você, bleader, que de Rapunzel não tem nada (acho, né! é só uma suposição), e ter que ficar à espera da cena fatídica do cabelão, aka jogar as tranças a cada vez que o troncho do príncipe (que, não sei se você sabia, não tem nome, o infeliz) grita lá embaixo: "Joga as tranças, Rapunzel!".
Porque, as aulas são, em definitivo, maçantes, e, com este veranico, pelo menos aqui em São Paulo, ficamos todos os alunos com cara de bunda e entediados. Sabe quando os colégios eram de um rigor militar? Estamos mais ou menos assim: não podemos ir lá fora, no banheiro ou em outros lugares sombrios; não podemos conversar muito; não podemos comer dentro da classe; não podemos olhar o celular e conferir as mensagens; não podemos, não podemos, não podemos.
Oras, com tanto não, acabaremos por nos transformar num bando de hooligans ou hunos, prontos para atacar o primeiro que demonstrar sinais de fraqueza. OK, OK, estamos apenas na segunda semana. Mas, prevejo, desde já, um motim. Se somos uma tripulação? Somos sim, de piratas prontos a cravar a bandeira da caveira no mastro e gritar gritos de guerra.
Não fiz nenhuma pesquisa, mas, aposto que nenhum dos meus colegas está satisfeito com essa desagradável grade que pesa nos nossos pescoços. Eu, por mim, sinto os grilhões e algemas num apertar contínuo que começa a penetrar a pele. Se eu fosse masoquista, estaria no limiar do prazer. Como não sou (OK, sou um pouquinho), inicia-se, dentro de mim, a construção de um gárgula que, aos poucos, põe os dentinhos para fora. Eu mesmo não pretendo estar por perto quando a fera arrebentar o último elo da corrente que a prende aos bons costumes.
Enquanto isso não acontece, e uma boa dose de civilidade é ingerida feito endorfina, as aulas arrastam-se. Foram duas disciplinas chatas: Planejamento e Organização e Gestão Financeira. A professora das duas primeiras aulas até que é dinâmica, engraçadinha e não deixa a peteca cair. Mas, planejar e organizar? Se, às 19 horas de um dia útil, em São Paulo, você acabou de sobreviver a mais um caos no transporte, como planejar e organizar? É uma contradição prática que ocorre antes mesmo da teoria ser elaborada. Chego na aula atrasado por absoluta falta de organização e planejamento da cidade, do transporte e do metrô (tentei resistir, mas, acabei aqui de novo, no metrô).
As duas últimas aulas são ainda mais aterradoras porque envolvem números e, na verdade vos digo, nunca fui amigo dos números e tampouco eles querem qualquer coisa comigo. Somos fogo e água. Nossa mistura provoca equívoco e confusão. Pois que eu tenho que, às 21 horas, lidar com números de entradas, saídas, ver o fluxo de caixa, o demonstrativo de resultados e ainda calcular se terei lucro ou prejuízo. É claro que esses números serão vermelhos, dado que vermelho fico eu só de ver as colunas desses algarismos que um dia um ser qualquer, cansado de ter apenas letras, decidiu criar números talvez para passar o tempo.
O tédio é capaz de fazer gerar os mais profundos pensamentos, desde a observação obsessiva das próprias unhas até a contagem dos fios de cabelos. É incrível o monte de nada que o cérebro é capaz de armazenar somente para se distrair daquilo que não lhe convém.
Que eu liberarei gárgulas presas, é um fato. Comunico antes para que ninguém se assuste se, de gestão financeira, eu passar para a gestão de pensamentos impuros. É pura consequência de um modelo que, de pronto, cabe direitinho num imenso vidro com o rótulo de TÉDIO. Até aqui, nem um problema, como diria o imediato a bordo de um navio, tolamente indiferente ao enorme iceberg que acabará por fazer naufragar navio, tripulação e passageiros.
3 Comentários:
...dá até medo!...só de pensar!!!...e expectativa! por mim, adoro canos que rebentam, elos que quebram, palavras que se libertam, actos que irrompem! desde que nada disso movido pela maldade, claro! good luck for your riot!! estamos esperando!!
o anónimo. (eheheh)
saudades de escrever aqui...e de ler sobretudo...quanta coisa eu perdi....e ainda nem te conheci...
detalhe: to sem cel, minha prof da iniciação teve crises com meu trabalho ( ou meu nao-trabalho) e to fazendo 9 materias, dentre elas 7 de literatura. tenho que ler o le rouge et le noir (básico) pra uma prova, e ja tive dois controles de leitura essa semana ( pior que colégio aqui, temos quase que semanalmente controles de leitura, isso num curso de letras! pode?)
por isso que AINDA nao entrei em contato...e como terei net só sexta feira, ando desaparecido daqui tbm....
mas o nosso café, um dia quem sabe um dry martini, AINDA vai aocntecer!
bjus e inté....
Marco
Red like me (você conhece o seriado Dead like me?), claro que a minha orgia, no final das contas, se limita a esse vozerio por aqui. Se bem que adoro dar início a uns tantos princípios de caos porque é daí que nascem outras ordens, talvez. Quer dizer, nada de ordem, para mim. Os motins acontecem todos os dias, se bem compreendo a humanidade. Sem maldade. Abraço, anónimo. Engraçadinho!
marco*!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! E pensar que o dry martini já secou umas tantas vezes. Mas, eu acredito que é inevitável. A gente tenta, até dar certo. Beijo!!!!!!!!
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