Sabe o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede os níveis de educação, de renda e de saúde dos países e ao qual o Brasil foi alçado à posição de número 70? Pois bem, vou criar um IDH próprio para mim, o Índice de Dispêndio do Humor, para tentar quantificar o quão é difícil tentar ser feliz numa cidade como São Paulo. Ontem, sábado, fui ao aniversário de uma amiga. Moro nas proximidades da Avenida Paulista e o encontro era na Vila Madalena. São dois lugares próximos. Bem, mais ou menos. Minha rua é ponto de ligação da região central com a zona sul. Parece que São Paulo inteira passa por aqui, seja nos dias úteis ou não. Para avançar três quadras da minha rua, demorei cerca de 20 minutos. Daí, mais adiante, parei por mais 15 minutos em novo congestionamento. Li hoje que as breguices de Natal da Avenida Paulista congestionam toda a região. Pode ter certeza que sim. Odeio a época, os enfeites e as pessoas que vêm à Paulista para ver isso. Cafonice total! Hoje, a propósito, serão inauguradas seis árvores imensas na cidade e uma delas é a do Ibirapuera. Olha só o provincianismo: todos os dias, durante dez minutos, haverá uma neve artificial no entorno desta árvore. Não dá para acreditar. O hemisfério norte é aqui! Bem, volto ao tema principal. Depois que saí da região da Paulista, o trânsito fluiu melhor. Mas, quando cheguei na Vila Madalena, já na rua onde era o encontro, o trânsito estava ainda pior. Eram mais de 22 horas. Demorei cerca de 30 minutos para vencer mais três quadras. No fim, desisti. Estacionei meu carro há duas quadras e meia do local e fui a pé. Ainda tive a "sorte" de desembolar R$ 15 pelo estacionamento, e não R$ 20, porque meu carro foi classificado de "pequeno". Pequeno é que o carro não é, definitivamente. Agora, é assim: além de pagar caro, você paga pelo tamanho (será que é pela marca?) do seu carro. Enfim, levei mais de uma hora para chegar de um ponto ao outro. Quando cheguei, muito mais atrasado do que o convencional atraso de 15 minutos, as pessoas não estavam nada dóceis. Eu também não estaria. Até aí, tudo bem! Lembre-se: era sábado. A maior parte dos meus amigos, quando chegou por volta da meia-noite, começou a mostrar sinais de cansaço. Antes da 1 da manhã, tínhamos encerrado a conta. Agora, veja se tenho ou não razão: pelo meu IDH (Índice de Dispêndio de Humor), eu saí de casa com 0,950 (nível ótimo, como os EUA e Espanha). Nas três primeiras quadras, perdi uns 0,200 pontos. Meu coração acelerou, proferi palavrões, fumei uns três cigarros e odiei a cidade umas 30 vezes. No segundo congestionamento, quis bater na traseira de outros carros e não deixei alguns passarem à minha frente: menos 0,150 pontos. Já lá na Vila Madalena, havia um carro à minha frente com duas iguanas que paqueravam a rua inteira. Elas paravam e os demais carros da outra fila tomavam a sua frente. Tive ódio mortal e uma sensação de que, se eu tivesse bolas de fogo nas mãos, elas seriam reduzidas a brilhantes brasas para compor luzinhas de Natal. Perdi, aí, pelo menos mais 0,200 pontos do IDH. Até aqui, foram 0,550 pontos a menos, o que me colocou no nível de países como Ruanda e Angola, abaixo, portanto do Brasil, que, este ano, obteve classificação de 0,800 do IDH oficial e ficou na 70ª. posição mundial. A esta altura, estou com IDH 0,450. Ao chegar ao restaurante, apesar do início constrangedor, tudo melhorou depois. Mas, com o cansaço das pessoas, senti meu IDH levantar asas e se debater feito morcego com a luz. Quando cheguei em casa, medi meu IDH e o podre índice estava com míseros 0,250 pontos, o que deixa abaixo de Burkina Faso e Serra Lea, últimos países do ranking das Nações Unidas, respectivamente, em 176º. e 177º. lugares na classificação geral. A boa notícia é que, a despeito do nível de dispêndio de humor ir ladeira abaixo em poucas horas, a recuperação sempre vem de forma direta e rápida. Hoje, ao contrário do que possa parecer com este rugido, estou de bom humor. Peguei meu aparelhinho, me auto-medi e constatei que estou ao nível dos nórdicos novamente, com o meu IDH que oscila entre 0,956 (Suécia) e 0,968 (Islândia). Bom, né! Creio que a solução é morar em Helsinque (Finlândia, 0,952, 11ºo. lugar), cidade aprazível, sem trânsito e com o metrô vazio. Até que tenho traços vikings, se você quer saber (pelo menos, no branco dos olhos).