Formigas, elefantes e escorpiões
Particularmente, tenho horror à esta época de final de ano, seja em São Paulo ou em qualquer outro local. Transformamo-nos em bichos e assumimos diferentes espécies conforme o momento. Em grande parte, creio que somos formigas. Só que, ao contrário das originais, nosso imenso formigueiro carece de organização. Nossas antenas captam somente o individual, nunca o coletivo. Ficamos zonzos de tanto perambular ao redor de algo somente para constatar que o objeto em questão não é assim tão apetitoso. Ou seja, como formigas alucinadas, erramos e nos perdemos numa confusão de desejos e vontades que não são nada. Ontem mesmo fui ao Stand Center da Avenida Paulista, centro comercial que reproduz, em pequena escala, a 25 de Março, com direito a chineses, produtos falsificados e milhares de quinquilharias inúteis. Era quase 19 horas e aquilo fervilhava. Formigas que entravam e saiam das lojas, nós todos estávamos ali na crença de que havia uma necessidade premente (e importante) de comprar algo. Na verdade, essa latência consumista nos impele a sair de casa, entrar numa loja, escolher, abrir a carteira e esvaziá-la do peso de uma cédula ou de uma folha de cheque. Se analisarmos, não há muito sentido e aquilo que compramos nem era exatamente o que realmente queríamos (tenho, por experiência, que quase nunca é!). Não posso responder por você, leitor, mas, muitas vezes compro algo quando, de fato, queria outra coisa. Uma das poucas coisas que compro e tenho o maior prazer de desfrutar são os livros. O resto, quase tudo, é para cobrir eventuais necessidades. Sim, são coisas úteis. Mas, o prazer inerente de adquiri-las nunca está tão presente, para mim, quanto abrir um livro novo e começar a ler. Bem, o que constatei na visita à pequena 25 de Março na Paulista é que somos formigas, mas, também podemos ser elefantes (que passam, atropelam tudo e deixam atrás de si mortos e feridos) e escorpiões (que te matam por um nadica de nada se você ousar atravessar o caminho desses seres). Nessa fauna bestial, você sempre tem que passar por um rescaldo e juntar as cinzas que restam daquilo que um dia foi matéria-prima completa de um corpo e, quiçá, de uma alma. Formigas, elefantes e escorpiões digladiam-se na selva por nada. Depois que passa essa época, ficam as faturas e a sensação de mais vazio. Já que o contexto é animal, dá para fazer o que cada um desses bichos faz: se você for formiga (e provavelmente é a do tipo operária, que alimenta a rainha), morrerá de tanto trabalhar; se for elefante, terá que se retirar para o cemitério dos elefantes e morrerá sozinho(a); e, se for escorpião, ao esgotar seu veneno na alma desavisada que olhou para você, morrerá seco(a). Ao fim e ao cabo, a morte é certa. Calma! Falo de uma morte metafórica. Mas, a imagem é a mesma da real: no final, não tem nada. É isso que você quer desse final de ano?
1 Comentário:
Uau! Tudo isso veio à tona porque vc foi no Chingling? Tem uma revolução aí dentro que não se define direito. Mesmo porque a analogia das formigas para os gastos no Ching não encaixa, elas são operárias e econômicas, não olham para bugigangas como nós. Mas já estamos falando de fauna bestial, meu deus. Eu não sei, exatamente, a que veio a pergunta, mas a resposta é não. Não queremos nada disso para o nosso final de ano. Bjs.
Postar um comentário