Dublinenses
Um ladrão roubou 450 barris de cerveja da Guinness, em Dublin, na Irlanda. É o maior roubo a uma cervejaria no país. Segundo a polícia, o homem entrou, engatou o caminhão a um trailer carregado de cerveja e foi embora. A fábrica tem 248 anos e nunca havia sofrido um assalto. Conforme a polícia dublinense (sempre quis usar essa palavra, desde que li James Joyce), foram levados 180 barris de cerveja escura Guinness, 180 barris da cerveja americana Budweiser e 90 barris da cerveja dinamarquesa Carlsberg. O valor total do furto é calculado em US$ 235 mil (R$ 420 mil). Desde que li "Ulisses", que é um dos livros mais difíceis que eu conheço (o outro é 'Os Sertões', de Euclides da Cunha), eu tenho uma Dublin registrada na minha cabeça. Se um dublinense (de novo!) consegue ser um clássico com um livro que retrata apenas um dia do personagem, por que outro dublinense não pode roubar cerveja como se o produto fosse acabar no dia seguinte? Em homenagem ao meu cunhado de São José dos Campos, ergo um brinde a esse irlandês, que teme que a cerveja acabe nos próximos dias (é o que a gente faz quando bebe, não é cunhado?). Joyce, a meu ver, deveria conhecer cada pub de Dublin. A literatura joyceana é universal e o escritor nunca precisou ficar longe de sua querida cidade para transpor as fronteiras da Irlanda. O outro clássico de James Joyce é "Finnegans Wake", do qual eu tenho a maravilhosa versão vertida para o português, o "Finnicius Revém", bilíngue, na cuidadosa e espantosa tradução de Donaldo Schüler (Ateliê Editorial). Infelizmente, não concluí a aquisição da obra (são oito livros imensos). Tenho apenas quatro, dos quais li apenas o livro 1 e estou no livro 2 desde 2002 (!!!!!). É isso mesmo! Num resumo bem curto, Finnicius Revém significa que o "homem vem", vem ao mundo, nasce, dá o grito primordial e povoa o mundo. É o mito do homem e de sua chegada ao mundo, com todos os desdobramentos. Não dá para descrever tudo isso sem desenvolver uma tese acadêmica. Então, para voltar à informação inicial deste post, creio que a cerveja roubada se insere no contexto do homem primal (ainda que o roubo tenha tido apenas o prosaico motivo de alguém querer faturar com a venda da cerveja roubada). É o homem que se esgoela (de cerveja e no grito), é o irlandês que vem e revém. A Irlanda sempre me fascina. Saúde!
2 Comentários:
Cara de pau o moço...eu visitei essa fábrica, tem um esqueminha de segurança básico lá dentro, mas não na rua, que é onde o dublinense deve ter atacado. Aliás, li Os Dublinenses e o meu livro eram vários contos, de qual vc está falando? Eu reli quando visitei Dublin o que não sei se foi uma boa idéia, pque podia ver as vísceras dos dublinenses que o Joyce mostra tão bem. Era melhor tomar Guiness para esquecer.
Patty, o livro é "Dublinenses", que são 15 contos. É esse sim. Beijo.(vai rolar não sei se a Guinness, mas que vai rolar uma cerveja, vai).
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