Rastreio de Cozinha - 157
"Estou a dois passos do paraíso". Eu poderia replicar a música da extinta Blitz para dizer que faltam dois dias para que as provas acabem. No entanto, uma bomba paira acima das cabeças dos colegas e da minha própria, prestes a explodir e lançar estilhaços para todo lado.
Hoje, quarta-feira, fizemos mais duas provas: de Planejamento e Organização e de Gestão Financeira (Custos). A primeira prova foi bastante tranquila: um vídeo sobre os serviços e a infra-estrutura de alguns setores da gastronomia: fast food, comida por quilo, churrascaria, catering e comida hospitalar.
O vídeo mostrava situações do cotidiano de cada um desses segmentos e, depois, tínhamos que avaliar algumas questões a respeito do documentário. Foi fácil, dado que falamos disso durante todo o módulo e tivemos essa disciplina como parte do TCC.
Para a segunda prova, o stress começou ainda na primeira prova: fomos instados a terminar a primeira prova até às 20:30 horas (o prazo final é 20:45 horas) para que o professor de Gestão Financeira começasse a sua própria prova às 20:30 horas!!!
Primeiro que isso vai contra a própria grade da faculdade. Segundo, o horário oficial da prova é a partir das 21 horas. Exatamente às 20:48 horas o professor já estava em sala, pronto para começar a prova.
Fomos alinhados em fileiras militares, nuca a nuca, e reproduzimos, momentaneamente, algum tipo de robô em linha de produção. Calado, o professor foi à lousa e escreveu que a questão 4 da prova estava anulada. Isso sem nem distribuir a prova.
Passo seguinte: distribuição das provas. Tudo no mais absoluto silêncio. Distribuídas todas as provas, nos ameaçou de morte (zero!) caso olhássemos para o lado ou ousássemos colar. E começou a admoestação.
A prova constava de seis questões, das quais uma valia cinco pontos e outra dois e as demais, imagino, apenas um ponto. Somadas, valeriam, todas, nove. E não dez, que é a nota máxima. Como uma das questões foi cancelada, ficamos sem saber se a prova valia 9 ou 10.
No decorrer da prova, descobrimos, meus colegas e eu, que algumas questões não foram abordadas em classe, ou seja, nos foi ensinado uma coisa e a prova se tratava de outra. Claro, pode ser que a lógica cartesiana do professor, que é contador, predomine e que ele entenda que, se para si está tudo claro, para nós também.
Mas, eu confesso, fiz 3,5 anos de administração de empresas, estudei matemática financeira, aprendi a operar uma calculadora financeira quando trabalhei em banco e, além de tudo, sou formado em contabilidade. Mas, por inépcia minha ou da didática do professor, nesses quase quatro meses de aula de Custos, eu não consegui entender a lógica dos números para gastronomia. De jeito nenhum!
O resultado é que começou, a partir daí, a montagem da bomba: um colega saiu e ligou para a coordenadora. Relatou o que se passou e amanhã teremos reunião com ela e, creio, com o professor.
A dois dias de terminar quase tudo (ainda falta a banca para o TCC), um motim acontece. No final do curso. No final do fim. Era tudo que não precisávamos. Todo o acúmulo de dois anos resultou nisso: uma prova obscura e uma guerra que apenas começou. As consequências ainda se farão sentir, tenho certeza.
6 Comentários:
Me deparei algumas vezes, ainda como aluna, com esse tipo de situação, sempre pensava que mais tarde eu poderia estar na pele daqueles que naquele momento eu condenava. Mas ao mesmo tempo pensava também que tipo de profissional era aquele que fazia essas barbaridades dentro da sala de aula.
Definitivamente pessoas assim não deveriam ser professores, estão no lugar errado e vcs certamente tem que denunciar.
Boa sorte na sua reunião. Significa que você estará de férias em breve? Vamos nos encontrar?
Tati, é estranho, para mim, que uma faculdade que busca o reconhecimento pela qualidade mantenha na instituição um profissional desse tipo, sem didática nenhuma. O problema não é isolado e o ocorrido somente demonstra que, mais cedo ou mais tarde, a água entorna para valer. Depois de quase dois anos, como eu disse, somos obrigados a nos confrontar com uma situação desse tipo e brigar por direitos que, antes, deveriam estar implícitos na relação aluno/faculdade. Vamos brigar, sim. Beijo!
Luisa, obrigado. E, sim, isso significa que entrarei de férias. O que deve ocorrer a partir de 12 de dezembro. Beijo!
Tomara que vc tenha sorte na briga. Didática é uma coisa que passa muito longe de muitos professores e falando bem sinceramente, quando eu tinha essa cadeira era um porre, mas fazer o quê??? escolhi estar ali e tinha que fazer o melhor. Mas muitas pessoas que dão aula em faculdade não tem essa cadeira nos seus cursos, nunca nem sequer ouviram falar sobre isso, caíram ali p ganhar dinheiro, o que eu acho é que a instituição deveria obrigar os candidatos a fazer cursos nessa área, não é pq dão aula para terceiro grau que não precisam encarar cursos com cara de magistério.
Essa coisa da instituição primar por qualidade é bastante relativo, talvez a qualidade seja ter um corpo docente com nome no mercado, se tem didática ou não, ai é outra coisa.
Tati, eu sempre defendi, na faculdade, que o nível dos professores vem, na verdade, do aprendizado deles próprios no mercado de trabalho. Não temos uma escola de formação de professores de gastronomia no Brasil. O resultado disso é que os professores são recrutados em função de suas experiências no dia-a-dia, e não como pedagogos, assim como ocorre em outras áreas da educação. A gastronomia é um fenômeno recente - no máximo, 8 anos - e ainda não se consolidou como um curso universitário. Na minha própria faculdade, o que vejo é um quadro de docentes em formação. A rotatividade é alta. Eu também acredito que a didática e a formação de um corpo docente é que darão a almejada qualidade à faculdade. Claro que a infra-estrutura é fundamental. Mas, antes, o conteúdo é que fará com que a faculdade de gastronomia - a minha e as demais - sejam escolas realmente sérias, assim como ocorre na Europa e EUA. Beijo!
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