É preciso que tudo mude para ficar tudo igual
Em 1998, as telecomunicações do País foram privatizadas. Ou seja, este ano, faz uma década que acabaram-se as filas para os planos de expansão; acabaram os telefones fixos a US$ 5 mil (quem se lembra disso? Era o preço de um telefone em Alphaville, SP); terminou o ciclo do telefone como um investimento. Com as privatizações encerradas, naquele ano, o mapa das telecomunicações ficou assim: Estado de São Paulo, controlado pela Telefônica; Regiões Centro-Oeste e Sul, Brasil Telecom; e Regiões Nordeste, Norte e Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, com a Telemar (atual Oi). Ficaram ainda operadoras fixas como CTBC (Triângulo Mineiro, parte do Mato Grosso e Franca/SP) e Sercomtel (Londrina e Tamarana, Paraná, e única operadora municipal do País). Hoje, quinta-feira, 10, a manchete principal da Folha de S.Paulo deu que a Oi adquiriu a Brasil Telecom por R$ 4,8 bilhões. Ambas as empresas - Oi e Brasil Telecom - ainda não confirmaram, inclusive desmentiram. Apenas indicaram que estão em negociação. Por fora, a Telefônica disse que tem interesse na aquisição da Brasil Telecom também. Pela legislação, as concessionárias (que são a Brasil Telecom, Oi e Telefônica) não podem adquirir outra concessão e operar sua concessão original simultaneamente. Mas, como é de interesse nacional (quer dizer, do governo federal) que o Brasil tenha uma operadora gigante que possa concorrer com a espanhola Telefônica e com a mexicana Embratel (e Claro e NET), o presidente Lula deve editar algum documento que permita a transação. Simples assim. Quebra-se o decantado ´marco regulatório´ em benefício de uma transação que mantenha as operadoras dentro de casa. É claro que, se pensarmos em função de um sentimento patriótico, é bom que uma operadora que abranja mais de 65% do potencial de mercado de telecomunicações do País (se a fusão Oi e Brasil Telecom se concretizar) seja brasileira. Mas, do ponto de vista negocial, há uma quebra de contrato em relação às regras da privatização de 1998. Na telefonia móvel, o quadro mudou há muito tempo. Eram 27 operadoras móveis no momento da privatização. Agora, são apenas sete: Oi, TIM, Vivo, Claro, Sercomtel, BrT GSM e CTBC Celular. De consolidação em consolidação, as operadoras móveis oriundas de cada unidade da federação se uniram em grandes grupos. A última grande aquisição foi da Telemig Celular, feita pela Vivo. Quando se desenharam os primeiros mapas do sistema de telefonia privatizado, a idéia é que haveria concorrência em todos os setores. Para tanto, na telefonia fixa, foram criadas as chamadas empresas-espelho: Vésper São Paulo (para concorrer com a Telefônica), Vésper (para concorrer com a Oi/Telemar) e GVT (para concorrer com a Brasil Telecom). Também nasceu a Intelig, para bater de frente com a tradicional operadora de longa distância Embratel. Agora, acabou a Vésper (ambas foram adquiridas pela Embratel), a Intelig vai mal há muito tempo e apenas a GVT sobrevive. Na telefonia móvel, a concorrência acontece de fato. Apenas no Estado de São Paulo, teremos este ano, com a entrada da Oi, quatro operadoras que brigarão pelos mesmos assinantes. O que é bom para nós, consumidores. Mas, na telefonia fixa, apenas a NET (que é da Embratel) começa a brigar com a Telefônica. Com a aquisição da Brasil Telecom pela Oi, o monobloco das telecomunicações volta a ficar muito semelhante ao cenário de 1998. O resultado é que o Tesouro Nacional embolsou bilhões de reais para mudar tudo e deixar tudo igual. Minha recomendação, já que sou especializado no jornalismo de telecomunicações, é que, se você puder, use cada vez mais serviços como o Skype (ligações de computador a computador). São gratuitos e alternativos à velha e cara telefonia convencional. É o único meio de combatermos o poder de fogo das operadoras de telefonia fixa no Brasil.
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