Meu rugido dominical
"Rei Lear" (King Lear) é uma peça de William Shakespeare, escrita em 1605. Na trama, Lear é rei da Bretanha e decide dividir o reino entre suas três filhas: Goneril, Regane e Cordélia. A divisão do reino baseia-se na gratidão e no amor que as filhas sentem pelo pai. Das três, somente Cordélia contraria as expectativas do rei e é expulsa do reino. A expulsão da filha, da Inglaterra e do seu coração, é o primeiro passo para o calvário do rei, que acaba nu, exposto à tormenta e louco. No decorrer da peça, Lear começa a descobrir quem são realmente suas filhas. Goneril e Regane unem-se contra o pai, que se arrepende de ter expulso Cordélia. Posteriormente, o rei rompe definitivamente com as duas filhas. Goneril e Regane, casadas, são seduzidas por Edmundo, que prende Lear e Cordélia e os condena à morte. Goneril envenena Regane com ciúme e se mata quando o próprio adultério é descoberto. Edmundo é preso e confessa que há uma sentença de morte contra Lear e Cordélia. Mas, é tarde demais. Cordélia é enforcada e o Rei Lear morre enquanto tenta reavivar a filha. A peça de Shakespeare mostra, sobretudo, um erro de julgamento, que é uma das atitudes mais comuns que temos em relação às pessoas. O erro de Lear leva à morte suas três filhas e à sua própria. Claro que, na vida real, um erro de percepção sobre as pessoas não deve ser tão grave a ponto de ser fatal. Mas, se não há morte como o há em "Rei Lear", há uma morte metafórica. Quantas pessoas matamos para provar que estávamos certos quando, de fato, não tínhamos certeza de nada? O pré-julgamento e o pré-conceito são dois dos piores vícios que se pode ter, eu acho. Eu mesmo, na verdade, faço julgamentos quando não deveria. Mato pessoas dentro de mim. Ou as coloco em calabouços e torres eternas. Tenho um princípio comigo de que sou bom conhecedor de almas alheias. Também sou rei de "certezas absolutas". Mas, o que é isso? Qualquer absolutismo supõe que todas as teorias, exceto a minha, estão erradas. Ora, isso é egocêntrico, não? Não sou lobo (quer dizer, leão) em pele de cordeiro e tampouco sou uma ovelha travestida de lobo. Mas, também não quero mais ser um juiz togado que é consultado como um oráculo e acredita ter o poder de conhecer o suficiente para emitir sentenças. Quero conciliar lobos (digo, leões) e cordeiros. Por que não? É antinatural, diriam-me os naturalistas de plantão. Bem, eu afirmo que se lobos/leões não podem conviver pacificamente com cordeiros, isso é da natureza de cada um: um é caça, outro caçador. O mais importante, para mim, neste momento, é tirar o manto que me investe de posições as quais eu não detenho e ficar nu, feito o Rei Lear, para conhecer, de fato, as pessoas. Sem, contudo, enlouquecer e morrer por isso. Não preciso da tragédia de Lear para saber que ser humano é errar, voltar atrás e seguir em frente. Com algum drama, sim, porque não sou de ferro. Mas, com muito mais comédia. Porque a vida é teatral e é sempre mais fácil quando há riso, principalmente quando se consegue rir de si mesmo.
3 Comentários:
Belo texto, flamenguista.
Já eu, de modo geral, erro todas as previsões (sou economista, de profissão e de fé, veja só), mas finjo que acertei...
Mas afinal, és mengo ou não? (rs)
Errar! Voltar! Seguir em frente!!!
Minha vida é tudo isso... e mais: o que mais faço é rir de mim mesma..
bjs
Mara
Meus caros,
rm, não, não o sou. como vc pode ver, sou vários sem me ater a um só. acho que sofro do distúrbio de personalidades múltiplas. minhas previsões também são falhas, sim.
mara, o melhor de tudo é quando descobrimos que rir de nós mesmos só nos faz mais crianças, de uma forma saudável que, adultos, às vezes, esquecemos que somos capazes de fazer.
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