A história se repete (infelizmente, não) como farsa
Karl Marx afirmou: "A história se repete como farsa". E De Gaulle disse: "O Brasil não é um país sério." Marx tem razão, exceto para o Brasil, onde a história se repete todo ano da forma mais autêntica (mas nunca legítima) possível. Já De Gaulle, não preciso nem comentar. Todo ano é a mesma coisa: no primeiro dia útil, lá vem o governo, cheio de novidades. Este ano, tudo começou ontem, dia 2, com um mini-pacote que visa assegurar os estimados R$ 40 bilhões "perdidos" com o fim da famigerada CPMF (provisória desde 1996). O governo decidiu elevar o IOF e taxar os bancos para extrair cerca de R$ 10 bilhões daí. Outros R$ 20 bilhões devem vir de "cortes" e mais R$ 10 bilhões virão sabe-se lá de onde. O governo não pode perder nenhum centavo, a despeito de nos arrancar as roupas com os malditos impostos. Eu não sei você, mas, eu já recebi o meu IPVA deste ano. Estou feliz! Agora, faltam o novo IPTU, eventuais multas porque eu corri demais e atravessei sinais vermelhos, taxas de pessoa jurídica, imposto de renda etc. etc. Na pequena (e benéfica) pausa entre 2007 e 2008 que fiz no interior, descobri que, na minha cidade (e não deve ser prerrogativa apenas de lá), o mundialmente festejado programa Bolsa Família é usado não para necessidades essenciais (sobretudo comida), mas, pasmem, para adquirir créditos para o celular e até mesmo para comprar roupas. Tem loja que mantém até um controle sobre o cartão do Bolsa Família para descontar os créditos na conta mensal. E tem mães que se regozijam porque assim que recebem os créditos, podem comprar cerveja. É isso aí, Lula! Financia o povão. Eu odeio o paternalismo à la Fidel! Daí que eu estava em Ourinhos, no interior de São Paulo, um pouco antes do Natal, e vi um desses bonecos infláveis (chamados tecnicamente de bonecos de ar dançantes) que são bastante comuns em postos de gasolina. Sabe aqueles bonecos que se inflam e se agitam feito uns bobos? É desse tipo. Me senti, de repente, próximo daquele boneco. Patético. Ele se agitava, erguia os braços e depois caía, num abandono de dar pena. É claro que atraía as crianças na rua. Mas, houve uma forte identificação da minha parte e um estranho magnetismo me levou ao boneco. E, a despeito da minha irmã me avisar do mico, esse eu paguei. Me aproximei do boneco e peguei nos seus braços. O que se passou? Foi apenas um gesto de solidariedade. De identificação do quão patético podemos ser, o boneco e eu. O primeiro porque está lá, numa dança sem sentido, num eterno dobrar e redobrar de cintura, braços e cabeça. O segundo (eu) porque, apesar de não ter um dispositivo de ar que me move, sinto-me como um marionete num teatro de absurdos quando volto a mim no ano novo. E isso tudo porque prometi para mim mesmo leveza. A promessa está mantida. Note que o tema central é o boneco dançante. Leve e cheio de ar. E que plana feito um bobo, feito eu.
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