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domingo, 20 de janeiro de 2008

Meu rugido dominical

Se foram os últimos vestígios de um não-acontecimento, de uma não-revolução, da não-concretização. Eram fragmentos que me apontavam e gritavam: por que? De imediato, o alívio. Depois, a formalização de um luto, de uma morte, funeral e enterro. Quero soterrar os restos mortais nas entranhas e ter vagas lembranças, apenas. Não mais do que isso. Ter mais é padecer na lápide fria de algo que já nem sei descrever. As relações humanas são tão frágeis quanto um vaso de porcelana chinês. E tão complexas quanto o DNA. Não dá para replicar o que você considera um padrão de relacionamento e vivê-lo. A cada vez que dois seres humanos se encontram, é uma surpresa: começa a ser esboçado um layout que pode, ou não, resultar numa bem acabada peça ou ir direto para a lata de lixo. Sempre defendo que a vida é provisória o suficiente para fazer tudo o que se pode para viver intensamente. Mas, sempre fico com a sensação de que o inexorável relógio gira sem tréguas e as águas rolam, rolam e rolam, enquanto eu fico no redemoinho, sem ir ou voltar. A tragédia disso tudo é que quando você está num torvelinho, você tem a sensação que há dois mundos: um é mágico, você está acima de tudo e de todos e só você sabe o que é felicidade; você chega a imaginar que as pessoas ao seu redor nunca passaram por aquilo e que jamais saberão o que é realizar-se emocionalmente. O outro mundo é a catástrofe: quando tudo desaba, só você não havia percebido o quanto os alicerces dessa construção eram precários. Há uma sensação inevitável de derrota, de dor, de luto. Há uma resistência. Você se arma, se investe de uma armadura de aço e age como se os próprios nervos de aço fossem. É apenas uma fachada, um revestimento para a tragédia. Os grandes clássicos da literatura e do teatro trabalham com as duas grandes veias humanas: a tragédia e a comédia. Se, na primeira fase, a tragédia prevalece, com direito, inclusive, a sangue, literal ou não, a fase cômica é aquela que trará uma nova dimensão à tragédia. A comédia da vida é que você começará tudo de novo, num eterno retorno. Quando eu começo a rir de mim mesmo, é sinal que me preparo, nas coxias, para a entrada em cena de um novo (e renovado) personagem: eu mesmo, de novo, de novo e de novo. A vida é repetição, com pequenos upgrades apenas. O vasto princípio está lá, pronto para ser usado em camadas como uma cebola rechonchuda: há sempre mais uma parte e mais uma e outra. Somos inesgotáveis na auto-renovação. A não ser que a cebola murche e apodreça. E é isso que nos faz tão humanos e únicos. A experiência pela qual ansiamos aos 15, aos 13, de fato, não chegará nunca. Ou então não agimos feito adolescentes em grandes questões da vida? Me diga se você não bate o pé, se não se irrita, se não se descontrola feito uma criança grande? E até mesmo se não regride à fase infantil quando o mundo lhe parece real o bastante? Quem não quer colo? E, então, chega um dia, um domingo mesmo como este, chuvoso e sem graça, em que você vê - e sente - em letras garrafais, que a carga foi levada embora, que alguém a tirou de seus ombros e a acolheu, espontaneamente. É a roda do mundo em ação. E, se o movimento existe numa direção, há que se tê-lo na minha própria direção. Que estou pronto para colocar minha própria engrenagem em funcionamento! Já não era sem tempo.

2 Comentários:

Patty Diphusa disse...

If you need, stand by me, dear. bjs

Anônimo disse...

Redneck,

Apesar de todos os destroços que ficam no meio da caminho, alegra-me e reconforta-me saber que esta engrenagem não cessa. Porque a vida é luta, sempre!

Boa semana.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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