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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Noites (e dias) de reis (e rainhas)

Antes, de pequeno, não sabia o que era o mito do Papai Noel. Não sabia que deveria aguardar com certa ânsia aquele personagem e que, ao amanhecer, haveria presentes depositados sob a árvore. Aliás, minha lembrança do conceito de Natal e do que o acompanhava, na infância, é imprecisa. Não me recordo muito bem se havia árvore.

Creio que a única memória daquela época me remete a algum brinquedo, disputado mais tarde entre os irmãos. Não sei. Qualquer coisa que eu escrever pode estar errada. Teria que convocar minha mãe para clarear as idéias.


Mas, isso não é importante. Talvez, em algum momento entre a infância e a adolescência, fantasiei que receberia uma bicicleta de presente. Ganhei, de certa feita, ainda na infância, um imenso trator de plástico dos meus padrinhos de batismo, já falecidos.

Era um brinquedo e, portanto, apenas para ser empurrado para lá e para cá. Mas, como nas antigas fazendas coletivas da Rússia, converteu-se em objeto de uso comum. Três de nós, precisamente, fazíamos do trator um carregador de pessoas. 

Claro que o plástico não aguentou e o vistoso e vermelho brinquedo reduziu-se, em pouco tempo, num monte de plástico retorcido. Chorei, é fato, porque sempre me foi dada uma quantidade inesgotável no estoque de lágrimas.


Depois, mais tarde, maduro em crítica e auto-crítica, quis ganhar o mundo e passei a ter idéias próprias. De que o Natal era apenas uma data comercial. Chata. Na qual não nos reuníamos como eu via acontecer em outras casas e filmes e propagandas e livros. Haveria mesmo um conto de fadas por detrás de tudo aquilo? Na minha rebelde, então, opinião, não. Era tudo apenas um amontoado de comida.

Comia-se muito e depois dispersava-se. Era apenas mais um dia, com a diferença de que havia uma árvore na sala, toda enfeitada, e muitos pratos na mesa. Ainda crente em dogmas católicos, eu costumava frequentar a igreja e assistir à Missa do Galo. Depois, com o coração sossegado pela recente confissão, comprazia-me em elaborar delicados e complicados planos de bem-aventurança para o próximo ano.

Que ilusão! Quanta sandice! Eu apenas me escondia por detrás da tela da TV e aguardava que o Natal passasse, sempre sombrio e glutão, e viesse o novo ano, esse sim mágico. Me recordo que, já em São Paulo, foram poucos os anos que não passei na minha casa no Natal, (des)junto da família. Mas, a virada do ano, essa eu me via em outras dimensões. Por vezes, passei longe de todos, talvez para quebrar uma tradição que nunca houve, de fato.


Me rebelava e fugia, logo após o Natal, em viagens estranhas. Sempre sentia um pouco de remorso depois, mas, nada tão profundo que não esquecesse em seguida. Me recordo que, cheio de trabalho para ser entregue nos estertores do ano velho, num dado ano eu passei a virada do ano em São Paulo. E foi um dos mais lindos da minha vida: com um amiga, assisti Ham-let, peça do Zé Celso.

Quando eram 23:45 horas, a peça parou. O teto do teatro abriu e deixou aspergir uma fina chuva prateada. Uma atriz de mais de 80 anos foi erguida e celebrou-se o ritual da passagem do ano, com a platéia, atores e natureza em comunhão. Bem rito, carnal. Sim, foi lindo.

Agora, ao olhar para esse sem-número de vezes que fui e voltei de natais e anos velhos e novos, tenho comigo que os melhores presentes são os dias e as noites de reis e de rainhas que temos, todos, família, amigos, estranhos.

Não sei quanto aos demais, mas, me alimento dessas noites e dias de final e início de ano para compartilhar e armazenar energia. Sou feliz simplesmente pela proximidade das pessoas que me são importantes. Não preciso de presente. Conviver é um presente. Sou rei em dias e noites que antecedem e precedem o Natal e o Ano Novo.

Vejo rainhas pelas ruas. São avós, mães, irmãs, tias, amigas. Todas, de forma ritual, comercial, consciente ou não, querem ver o sorriso alheio. Aparar as rusgas de um ano inteiro. Conciliar o dissenso. Ver todos juntos, unidos. Nem que for apenas nessas noites. Apagar rancores e fazer brilhar os olhos e sorrisos.


Vejo reis que se transformam em cordeiros brandos. Que, rudes, tentam se encaixar no perfil requerido pelas rainhas. Que fazem tréguas, sorriem, brincam. E são, de alguma forma, bem-sucedidos. Reis que embrutecidos ao longo do ano se barbeiam, se perfumam, colocam a roupa nova. E que fazem parecer tudo possível.

Pois que nessa corte de reis e rainhas que somos, desejo que todos - minha família, meus amigos, meus colegas de faculdade (da recém-concluída e das outras duas, longínquas), meus amigos que estão longe - Alê, Cris, Márcio, os demais que estão próximos, mas, afastados, os de outros estados - Aldo, meu caro, os colegas de trabalho, de longas jornadas, os afilhados de casamento, que os tenho, às dezenas, e, enfim, você, leitor(a) querido(a), que me acompanhou em jornadas de plebeu, e não mais de rei, que comentou, que se riu, que dialogou comigo - desejo que todos e mais alguns sejam reis e rainhas o ano todo.

Que não precise haver natal ou passagem de ano para brilharmos com vestes novas. Pois que cada um brilha em separado, disso tenho certeza. Desejo, como uma amiga disse, que sejam assinados contratos fictícios cujas cláusulas determinem que haja mais leveza, mais luz e mais, mais daquilo que você mais deseja.

Esse blogueiro que vos escreve se despede hoje, nesta quinta-feira. Volto apenas em meados de janeiro e, portanto, este blog entra em recesso. Pela primeira vez, desde a criação, ficará, momentaneamente, desatualizado. No meu reinado por esses dias, não existe internet, não existe contato virtual. Apenas o contato físico. Até lá, desejo tudo de bom para você. Eu, que aqui estou, por vós esperarei no ano que vem. Beijo, me liga!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Obra em progresso


Sou um work in progress (obra em progresso), diria o autor de "Finnegans Wake", James Joyce, se um blog fosse. Aliás, creio que Joyce adoraria o mundo da blogosfera como tal se encontra: interativo, multimidiático e multicultural, onde qualquer pessoa pode abordar qualquer assunto e expor sua opinião.


Assim são os blogs e o Por uma Second Life menos ordinária, como eu disse no post de ontem, não podia se furtar às mudanças, ainda que à revelia.

Um blog nunca está pronto. É como o pãozinho fresco da padaria de todos os dias: há que preparar novas fornadas ao raiar da alvorada para que o consumidor seja atendido, tanto na expectativa quanto no fator surpresa.


As possibilidades estão todas aí. Eu gosto do pão francês, você, do pão italiano, a outra, da broa de fubá, um terceiro da rosca de coco e o outro de pão-de-queijo. Somos plurais e, por mais que nos alienem e tentem nos unificar em desejos semelhantes, somos, por princípio, refratários a qualquer pretensão de controle.

Por esse motivo mantenho o blog. Não sou farinha do mesmo saco e, em simultâneo, compartilho o saco com todos os tipos de farinha. Nem por isso, a despeito da contradição, torno-me a mesma farinha. Ao contrário, as farinhas podem, sim, até se misturar para gerar uma massa mais forte e elaborada. Mais sofisticada. Do contrário, pode se perder se o saco apresentar o menor vestígio de furo.

Exposto dessa forma, quero dizer que almejo ser o pão francês a ser consumido no dia-a-dia e, ao mesmo tempo, não ser casca grossa feita de farinha de má qualidade que espante a freguesia. Há que unir o simples ao sofisticado para que a massa não desande e seja atraente.

Portanto, se sou uma obra em progresso, ou um pão que sai do forno, não há limites para a criatividade, onde prevalece a necessidade de escrever, escrever e escrever para que, com tanta palavra, a massa, mais do que sovada, converta-se, enfim, no pão do dia.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mudanças


A minha intenção inicial era fazê-la apenas no ano que vem. Mas, como de intenções (boas e más) aquele lugar que ferve e consome anda cheio, dei com os burros n'água. Me refiro à mudança visual do blog (o template, que é a arquitetura que dá forma ao conteúdo do Por uma Second Life Menos Ordinária).



Há alguns dias tenho pipocado na internet em busca de um template que me agrade. Cansado de ouvir que mudanças têm que ser gradativas para não assustar, resolvi desconsiderar essa premissa (talvez mais mercadológica do que real) e escolher uma nova cara para o blog, e radicalizar na alteração.

Me dei mal: durante as tentativas, que imaginei tratarem-se apenas de tentativas, perdi uma série de widgets, que são essas informações que aparecem nas laterais ao lado dos posts. Como você pode perceber, há um imenso vazio. E não adiantou eu me precaver e salvar o modelo atual: o Blogger é burro e salva somente aquilo que tem vontade.

De forma que fiquei no meio do caminho: nem alterei a cara do blog e ainda perdi o que existia. Antes que algum(a) leitor(a) reclame, devo dizer que mais chateado estou eu mesmo, que não atingi o meu objetivo de mudar e ainda fiquei sem o meu template antigo, com todos os widgets.

Como não há um arquivo-espelho em lugar algum que preserve o antigo blog, vou ter que mudar de qualquer jeito. Aguarde, pois, que mudanças chegarão antes do previsto e sem que eu tenha total controle sobre elas. Paciência! Se desfazer de alguns pedaços ao longo do caminho indica uma mudança maior do que apenas de aparência. OK! Contra a minha vontade, mas, ainda assim, serão mudanças.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Grandes expectativas!


Ao andar pelas ruas, ir aos lugares e circular, pura e simplesmente, constato que, sim, o mês de dezembro tem a capacidade inequívoca de criar em todas as pessoas, de alguma forma, uma aura de grandes expectativas.

Somos, os brasileiros, uns crédulos, por princípio. Acreditamos sempre no melhor, ainda que o pior nos mostre as garras. Seguramo-nos na cândida ilusão de que o ano que vem será melhor, que coisas ruins não nos acontecerão e que, "com a graça de Deus", tudo correrá bem.


Também por princípio, sou cético quanto ao divino. Nada espero dos céus que a terra não me proporcione em dimensões mais cruas. Não peço nada ao éter porque me parece que tudo - céu, inferno e purgatório - é aqui mesmo, neste planeta. Não acredito que forças além do cotidiano e da realidade exerçam qualquer influência no que fazemos e no que deixamos de fazer.

O sentimento coletivo de esperança a que me refiro é uma condição muito brasileira. Não a critico, não! Ao contrário. Acho que essa sensação e o poder de acreditar em si e nos demais e vencer adversidades é o que nos faz o povo que somos.


Receio apenas que o eterno apelo ao paternalismo - estatal ou divino - é o que detém o povo, de forma geral. É o que o faz ser o que é e acreditar que as coisas mudam. Creio que meu pensamento é mais calvinista e tendo a achar que as mudanças somente ocorrem se os esforços são direcionados para isso.

Do contrário, não dá para esperar que os céus provenham o pão de cada dia. Sem falar no vinho. Esse tipo de constatação me ocorre porque São Paulo, nessa época, é tomada de uma fúria. Durante o ano todo, a cidade age, no todo, como um maratonista em final de corrida: apressa ainda mais o passo e dá arrancadas vigorosas. Sempre com pressa, sempre com atraso. Uma corrida que exaure e nem por isso fenece.


Mas, em dezembro, somos, habitantes dessa cidade, tomados por uma coletiva impressão de que não há tempo, de que não dá para fazer nada, de que não conseguiremos falar oi para as pessoas. Eu, como muitos paulistanos, viajo todo final de ano e passo longe de São Paulo tanto no Natal quanto no Ano Novo.

Ao mesmo tempo que amo viver nessa cidade, sinto ímpetos de deixá-la no final do ano. Sem remorsos. Fujo daqui. Do barulho. Dessa sensação de impotência de que há muita gente e pouco espaço. De que não há tempo, nunca, para nada. Fujo, de certa forma, desse ambiente generalizado que, num extremo, aguarda ansioso que tudo se resolva neste mesmo ano. No outro, teme o ano novo por ter que repeti-lo em doses semelhantes ao ano que se encerra. É uma dicotomia que, imagino, cada um que mora aqui não se furta de senti-la, de tempos em tempos.


Estou próximo dessa minha fuga anual. Me sinto um pássaro que ficou para trás do bando e agora se apressa a seguir-lhe o trilho, com medo de se perder no horizonte. Meu temor é o mesmo de todos os demais: ver acabar o ano e achar que, afinal, o que se fez dos 365 dias é pouco ou me atormentar por igual medida ao visualizar o próximo ano.

Ou seja, nenhuma novidade no front: passei o ano inteiro cheio de dúvidas e dezembro apenas tem o dom de concentrá-las, já que o simbólico balanço chega junto com o mês. Para abstrair de (pseudo)realizações, nada melhor do que pegar uma estrada e deixar para trás esse mundo ao qual eu não me canso de voltar.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Meu rugido dominical


"Quando eu morrer, quero que na minha lápide conste que eu também fui um ser humano". Ouvi a frase num filme.

Eu também quero ser - em vida - um ser humano.
Quero ser amado.
Quero amar.
Quero ser o guardião d'alma de outrem.
Quero dar a alguém minh'alma.
Quero colocar o meu coração na mente e nas mãos de outra pessoa.
Quero ter um coração para chamar de meu.
Quero sentir asas crescerem nas minhas costas.
Quero sentir o frio na espinha.
Quero ouvir o estalido do coração acelerado.
Quero ter taquicardia.
Quero ser um ser humano em vida.
Quero deixar de ser invisível.
Quero deixar de padecer.
Quero não ter receio de acordar.
Quero dormir naturalmente, e não mais de exaustão.
Quero que sejam excluídas todas as regras que me detêm.
Quero que os contratos que eu não assinei e que me regem sejam rompidos.
Quero reger mais sinfonias.
Quero que me toquem e extraiam de mim sons, e não mais barulhos.
Quero desobstruir as veias entupidas de tanta lucidez.
Quero calor.
Quero sol.
Quero a luz do dia, e não apenas a artificial.
Quero publicar um édito que me libere de todas as prisões, impostas e auto-impostas.
Quero ser rei.
Quero ter noite de rei.
Quero galopar feito um potro selvagem.
E estacar.
E ouvir.
E respirar.
E sentir.
Quero ser um ser humano em vida.
E não desejar que inscrevam em minha lápide que fui, eu também, um ser humano.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Queen


Ontem, em encontro de amigos e brincadeira de amigo secreto (ou oculto, conforme a região), trouxe para casa uma preciosidade: o DVD Queen Rock Montreal. Nas nossas festas de amigos secretos, é possível trocar ou roubar os presentes uns dos outros.

O meu primeiro presente, o último livro do Saramago, me foi roubado. Eu gostaria de ter roubado o DVD do Radiohead, mas, há um limite para os roubos e trocas e, portanto, fiquei, originalmente, com um DVD de quatro filmes de ação. Tudo a ver comigo, né!

Daí que um dos participantes não se fez de rogado e trocou o show do Queen pelos filmes de ação. Também não me fiz de rogado e troquei, muito feliz.

O "Queen Rock Montreal" foi gravado em novembro de 1981 - há 27 anos! - e trata-se de uma gravação histórica de um dos últimos shows do grupo "à moda antiga", ou seja, antes da banda se tornar um fenômeno mundial. E, claro, me remeteu imediatamente a Montreal, onde está baseada minha amiga La Voyageuse. Ofereço, então, a música "Under Pressure" para você, que está aí em Montreal, e para todos os que amam o Queen.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Olha o rapa!


De repente, dez, vinte, 30 camelôs passam com trouxas na cabeça, sacos de mercadorias, tabuleiros improvisados e espécies de cabides e gritam, a plenos pulmões: "Olha o rapa! Olha o rapa!".

Os consumidores se afastam e dão passagem para os camelôs, os vendedores informais que tomam todos os espaços possíveis: calçadas, ruas liberadas apenas para os pedestres e qualquer outro canto onde puderem se acomodar.


Não há espaço quase para o consumidor. Há que se dividir todos os cantos da rua com as dezenas de carrinhos, dos mais variados tipos: de milho verde, de doce, de salgadinhos, de café e também com as barracas autorizadas.

Nos espaços onde podem circular veículos, os motoristas passam irritados e, volta e meia, alguém acelera ou xinga a multidão. Melhor não fazer isso: o populacho pode se voltar contra o motorista e não se sabe o final.


O rapa passou e a calma volta. O rapa é sinônimo de caçador de camelôs, vendedores informais que vendem desde descascadores a despertadores, roupas, óculos, perfumes, mochilas, pequenas e grandes bugigangas, CDs e DVDs piratas e mais uma tralha que daria para encher um estádio. Tudo trazido do Paraguai, made in China, Taiwan e outros países orientais.

Nessa época, a predileção é por enfeites de Natal. Há Papais Nóeis os mais diversos: dos que escalam paredes aos que cantam em inglês. As luzinhas chinesas ainda predominam, tanto nas lojas autorizadas quanto nas bancas de camelôs.

Passa-se cerca de meia hora e o rapa - oficialmente, o rapa é a Guarda Civil Metropolitana da Prefeitura de São Paulo - volta. Parece que com reforços. Uns 20 camelôs disparam e alguns comandantes das tropas dos camelôs (muito bem organizados) emitem gritos de comando: "Vai, vai, vai, Bahia! Anda, Ceará!" Para quem não sabe, Bahia, Paraíba, Ceará, Pernambuco e outros nomes de estados brasileiros designam o nordestino de forma genérico e, logo, o camelô.


De novo, os consumidores se espremem e riem. Na verdade, todos riem. Até eu acho engraçado. Enquanto o rapa acontece, todo mundo grita, ri e corre. Quando o rapa aparece, enfim, entidade anônima até então, é mais risível ainda: contra quinhentos, dois mil camelôs, são apenas quatro ou cinco "rapas"!

O rapa libera-nos, a todos, para a contravenção. Para rir da autoridade fardada. A própria autoridade que passa impávida, porém, se observada de perto, se ri também. O rapa é libertador. Dá vontade de transgredir junto com o camelô e correr da polícia. De forma ostensiva e aos gritos.

(Essa foi a minha experiência nesta sexta-feira na 25 de Março e arredores. Entre um rapa e outro, comi um maravilhoso pastel de bacalhau e tomei caldo de cana no Mercado Municipal)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Rastreio de Cozinha - 164


A-C-A-B-O-U!!!!!!!! Fecho hoje, quinta-feira, dia 11 de novembro de 2008, a minha faculdade de gastronomia. Fechei todas as disciplinas e, quanto ao Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, o qual eu apelidei de Tentativa de Cabar Comigo para que o peso do projeto em si me fosse mais ameno, é claro que deu tudo certo e, S-I-M, o (meu)nosso TCC será encadernado, capa dura, capa duríssima, para virar referência na biblioteca da faculdade para as futuras turmas e também ao público, em geral.

Essa sempre foi a minha meta, desde o dia em que o primeiro professor falou do TCC, no início do ano passado. O que adianta fazer uma apostila simples para ficar arquivada em algum porão da faculdade? Não! Não mesmo! Eu sabia, desde o início, que tínhamos que trabalhar com esse objetivo, e não menos do que isso: conseguir obter uma nota alta o suficiente para colocar o TCC entre os projetos que merecem ser referência e obra de consulta.


Eu devo dizer, sem falsa modéstia, que consegui: a idéia original do projeto é minha, o conteúdo foi revisado (e reescrito) por mim, o formato, segundo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), foi por mim organizado. Então, não me acanho ao afirmar que consegui atingir o meu objetivo.

Alguns acertos serão feitos no TCC e, até o próximo dia 18, daqui a uma semana, eu tenho que entregar uma versão capa dura nas mãos da coordenadora do curso. Fora esse compromisso, não há nada mais que me prenda à faculdade. Estou formado. Sou, desde já, oficialmente, tecnólogo em gastronomia. Tenho, para confirmar a formação, três certificados: cozinheiro 2, cozinheiro 1 e cozinheiro internacional.

Claro, claro. O papel, por si só, não garante nada. Sem a prática, não passa de um pedaço de papel com os necessários timbres. Mas, o papel certifica que eu passei dois anos da minha vida dedicado a estudar técnicas, conceitos, ingredientes, padrões e todo o referencial que se aplica a uma cozinha comercial.


O que sinto com tudo isso? Primeiro, liberdade. Sim. Dá uma ampla liberdade me saber formado, em ter atingido o meu objetivo imaginado há mais de dois anos e que agora concluo. Depois, essa semana, por si só cheia de imprevistos - chuvas, stress, cansaço, desencontros - termina na quinta-feira de forma abrupta. Dos colegas, não vi cerca de 80%. Provavelmente, volto a encontrá-los (ou não) pela vida. A cidade de São Paulo é grande, mas, não passa de uma casca de noz dentro do universo.

Já não vou mais trilhar o caminho árduo do metrô e isso, mais ainda do que a presença obrigatória na faculdade, me traz um grande alívio. Depois de anos fora do sistema de transporte público, esses dois anos quase que diários de usuário do metrô me provaram mais uma vez que as autoridades competentes pouco ou nada se importam com as pessoas.

Fomos - eu incluso - tratados como gado o ano inteiro e ainda obrigados a ouvir a fatídica mensagem repetida à exaustão: "70% dos atrasos acontecem porque as pessoas seguram as portas". Mentira!!!! E quando o trem demora 4, 5, 6 minutos? Tem algum usuário que o segurou por tanto tempo assim? Nem se fosse Super-Man!


Então, é com alívio que deixo de usar o metrô. E é com escárnio que encaro campanhas do tipo "deixe seu carro em casa". Oras, o transporte coletivo é um lixo!

Sim, sei que tudo deve soar um grande alívio. Mas, isso é normal. As coisas acabam quando terminam, eu disse por esses dias. E acabam mesmo! Agora, é seguir em frente. Tenho expectativas, outras metas e sonhos para conquistar. Por enquanto, celebro o término dessa fase. E vou para o descanso de final de ano.

Feliz com tudo que, ao fim, se transforma apenas - e devo ser algo melancólico - em um final chuvoso, com raros amigos da faculdade por perto e com todos meio perdidos. Foi assim o meu último dia da faculdade de gastronomia. Não vi algumas pessoas que me foram bastante importantes durante esses dois anos e que, provavelmente, não reverei. Sim, você pode alegar que há telefone, e-mail etc. etc. Mas, você acredita mesmo nisso? São Paulo não funciona assim.


O fim se deu conforme o previsto: meio sem saber que é fim, em despedidas breves como se a rotina das aulas ainda se estendesse para a próxima semana. Mas, dá para ser diferente? Porque a verdade é que ninguém, inclusive eu, gosta do adeus e do sabor de que o que fizemos juntos deixou de existir. Já acabou. É assim o fim: vem sem nem dizer e leva uma parte de mim e de você com ele.

De forma que este post encerra a série Rastreio de Cozinha, a qual eu tive o maior prazer - diário - de escrever. A despeito do cansaço, da vontade de correr, das dúvidas e incertezas, dos inúmeros contratempos que geraram Rastreios de ausências, e não de presenças. Mas os houve, os Rastreios, plenos de presença, do calor da cozinha, do sabor dos pratos. Dos sentimentos coletivos e individuais. Estão todos aqui, sob a rubrica Rastreios. E, mais importante, deixaram um rastro dentro de mim mesmo que, esse sim, nunca mais será apagado, chova ou faça sol, circule-se de metrô, a pé ou de carro. Esse rastreio é meu, só meu!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Rastreio de Cozinha - 163


Eram 18:20 horas e eu estava pronto para sair de casa. Já havia colocado os fones nos ouvidos e, quando fui fechar a janela, notei os primeiros pingos de chuva. Em menos de um minuto, um temporal desabou, forte e para valer. Para lavar a cidade.


A chuva caiu sem hesitar. Desisti de sair. Pensei em esperar até o pior passar. De casa, vi pessoas e carros em profusão, tal qual a água. De novo, pensei que era melhor não me juntar aos pedestres e motoristas que começariam a enfrentar mais um momento de caos na cidade.

Porque São Paulo tem uma relação delicada com a chuva: bastou uma garoa e a cidade muda. Anuvia-se mais do que o céu e congestiona-se como se estivesse gripada. Muda a cidade e, com ela, o humor de todos que a habitamos. Não se anda, se rasteja. A pé ou não, São Paulo com chuva é ainda mais cruel.

Enquanto eu esperava, resolvi retornar uma ligação perdida no celular. Era de uma amiga que está de volta à cidade e que chegou justamente no meio do caos. Direto de Angola. Uma blogueira relapsa que ora está aqui, ora na África. Mas, teve a sorte de chegar no bairro (é minha vizinha) no momento preciso em que a tempestade finalmente desabava.

Liguei no celular da amiga e perguntei onde ela estava. No táxi, me disse. Brinquei e perguntei se, por acaso, o táxi era de cor branca (para quem não sabe, todos os táxis de São Paulo são brancos, exceto alguns especiais que ficam às portas dos hotéis, que são pretos). Ela riu e me disse mais ou menos onde estava.


Fui à janela da área de serviço, com ela ao telefone, e perguntei se, por acaso, ela estava no táxi branco de faixas azuis (do aeroporto de Cumbica). Sim, me disse, estou no farol tal. Eu pedi para ela olhar para cima e acenei. Vi, da minha janela, quando a pequena luz do celular cintilou dentro do táxi (a essa altura, a cidade já estava escura). E, sim, ela me viu. Impressionante o timing e a possibilidade de acenar para uma pessoa que passa dentro de um táxi da janela do apartamento (9º. andar). Nos despedimos.

Aguardei que a chuva arrefecesse. Sem sucesso. Já eram 19:30 horas e ainda chovia. Com o ponteiro na casa das 20:00 horas, desisti. Se eu fosse, chegaria, certamente, às 21 horas. Muito tarde, já que eu tinha que estar na faculdade às 19:30 horas, no máximo.

Quando eram quase 21 horas, decidi sair e encontrar com duas outras amigas. Respectivamente, a segunda e a terceira blogueiras do dia. A primeira era a do táxi. Havíamos marcado de nos encontrarmos quando eu saísse da faculdade. Como não fui, antecipei minha ida ao Veloso.


Já não chovia e resolvi ir de metrô para evitar o entorno da Paulista (e do shopping, supermercado etc. etc.). Na estação Brigadeiro, uma massa de pessoas aguardava impaciente. Esperei por 5 minutos o trem. Lotado! Acho que todo mundo esperou a chuva passar para sair às ruas.

Cheguei ao Veloso e me encontrei com as blogueiras. Dessa vez, não experimentei a maravilhosa coxinha-creme do boteco. Tomei alguns chopps, gentilmente oferecidos pela Andarilha e rimos, Patty Diphusa, Andarilha e eu. Muito. De tudo e sobretudo de nós mesmos.

As notas? Danem-se! Já soube que fomos todos mal na prova de Gestão Financeira (Custos) e que houve chamada e ato de desagravo do professor contra nós, que reclamamos dos termos da prova. Dane-se, again! Vi no portal que atingi e ultrapassei a média e, graças a isso, não terei problemas.

Finalmente, saíram várias notas - do TCC - que compõem a média final. Faltam, agora, apenas duas notas: a do próprio TCC e de Marketing. Amanhã, saberei as duas e ... fim!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Rastreio de Cozinha - 162


Esta semana, somos obrigados a comparecer diariamente à faculdade para saber as notas e eventuais problemas - notas baixas, exames e muitas faltas. Desde a semana retrasada, fomos avisados da necessidade de irmos pessoalmente e falar com cada professor.

Creio que a orientação somente foi direcionada para nós, alunos. Fui até lá depois de enfrentar um horroroso e congestionado metrô - depois de mais de dez trens, e um dos professores simplesmente não apareceu. Dois pesos, duas medidas. É a expressão que melhor define esse tipo de percalço.


Foi reclamado junto à coordenadora que, hierarquicamente, é chefe dele, e ela, na mesma hora, ligou para ele e não o localizou. Engraçado que é um dos professores que mais nos chamou a atenção para a disciplina e ordem. Claro! Pode ter acontecido qualquer coisa. Mas, esse professor teve o dia todo para avisar a direção da faculdade à qual está subordinado.

O chato de tudo isso é que ficamos sem saber o que se passa. E nem mesmo a coordenadora foi capaz de dar alguma informação concreta, já que as cadernetas de cada professor ficam nos respectivos armários.


Em compensação, na disciplina de Gestão da Qualidade, o professor estava lá desde cedo. E, como sempre, foi muito prestativo e já cedeu as notas para qualquer aluno que por ali estivesse. O problema é que há cinco disciplinas que estão inter-relacionadas com o TCC e, portanto, dependem de três notas para que se componha a média final: a nota da prova (P2), a nota da apresentação individual junto à banca e a nota do trabalho escrito, entregue para a coordenação.


Portanto, hoje eu soube somente a nota da prova. A qual, sozinha, não quer dizer nada. Gastei meu tempo e esforço para me locomover na loucura natalina de São Paulo - parece que todos resolvem sair de casa entre 18 e 20 horas - para, absolutamente, nada.


E, acredite se quiser, ainda havia uma lista de verificação de presença. Realmente, às vezes essa faculdade é mais compatível com classes primárias do que, propriamente, universitários. A conclusão é que a minha contagem regressiva para reduzir as matérias e me aproximar mais do último dia já foi quebrada. Segundo a minha conta de ontem, faltariam, a partir de hoje, apenas 5 disciplinas para encerrar tudo. Errado! Faltam as mesmas 7 de ontem.

Celular sem fronteiras




No Congo, um médico britânico voluntário do Médicos sem Fronteiras realizou uma cirurgia de amputação do braço esquerdo de um rapaz de 16 anos por meio de ajuda recebida via mensagem de texto de celular (SMS ou torpedo).

O paciente estava em estado grave e, se o procedimento não fosse feito, o braço poderia gangrenar e o jovem corria o risco de morrer. O cirurgião, David Nott, que não tinha experiência com esse tipo de intervenção, enviou uma mensagem de texto pelo celular para um colega de Londres e pediu ajuda.

Os dois médicos trocaram mensagens e, passo-a-passo, o médico do Congo seguiu as instruções e concluiu a cirurgia com sucesso. Segundo o site The Guardian, a operação foi realizada em outubro e o paciente já está completamente recuperado.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Rastreio de Cozinha - 161


Nove menos duas é igual a sete. Eu, que prezo tanto a distância que costumo interpor entre mim mesmo e os números, sou quase que coagido a contar. Mas, essa contagem é simbólica. De hoje a sexta-feira, em contagem decrescente, o total será zero.


Em representação matemática, ficará mais ou menos assim: 9 - 2 - 2 - 2 - 2 - 2 - 1 = 0. Por extenso, significa que, a partir desta segunda-feira, eliminei duas disciplinas para finalizar a faculdade de gastronomia: Eventos e Sala e Bar. Fechei ambas e, portanto, são duas a menos para o final do curso.


Agora, a partir de amanhã, são sete as disciplinas faltantes e, portanto, essa conta zera somente na sexta-feira, único dia da semana em que tenho quatro aulas de uma só disciplina. Durante a semana inteira, temos que ir pessoalmente aos respectivos professores para saber notas, médias e faltas finais. É a chamada semana das devolutivas: devolvem-se aos alunos as notas da segunda prova (P2), apontam-se as faltas, e soma-se a primeira prova (P1) e se tem, enfim, a média.

Na minha faculdade, a média que garante o passe é 6. Se, na soma de P1+P2/2 = 6, logo, você passou. Isso desde que as faltas estejam restritas a 25% do total de aulas dadas. Como a maior parte das disciplinas tem uma carga horária de 40 horas, as faltas estão limitadas a 10. E só.

Se a média final não for atingida, fica-se para exame. Uma chance, ainda, de não ficar dependurado em dependência, o famoso DP.


Quem ficou para exame, terá que voltar para os bancos da faculdade na semana que vem e fazer nova prova. Se obtiver a nota exigida, OK. Senão, DP e 2009 na cabeça.

Nesse contexto, de médias, faltas e notas finais, me livrei de duas disciplinas. Portanto, faltam sete. E, mais importante, falta saber ainda que destino será dado ao TCC: se será indicado para se transformar em trabalho de referência e consulta pública na biblioteca da faculdade, ou se ficará confinado à simples apostila espiralada, em uma montanha de papéis à qual será destinado um final triste: arquivo.


Então, tenho ainda a semana toda pela frente para conferir cada nota e faltas para, apenas na sexta-feira, confirmar ou não o encerramento da faculdade de gastronomia. Afinal, as coisas somente acabam quando terminam.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Meu rugido dominical


Cadê o(a) leitor(a) que estava aqui? Nos últimos meses, vi com alegria a taxa diária de visitantes se expandir e atingir um patamar interessante de quase cem visitas ao blog por dia. Me recordo que nos primeiros dias de criação do blog, haviam somente dois leitores: eu mesmo e Patty Diphusa, que ficávamos num troca-troca virtual, em brincadeira amadora de iniciantes no mundo da blogosfera.


Depois, a audiência aumentou e se situou, por alguns meses, num patamar que variava entre 40 a 50 visitantes/dia. No segundo semestre deste ano, ao completar um ano no ar, tive o prazer de ver um acréscimo de leitores e, por um bom tempo, esse número se estabilizou. 

Cheguei, pela primeira vez desde a existência, a registrar mais de 100 visitas num único dia. Claro que o blog não tem pretensões de atingir audiências massivas. Escrevo diariamente neste blog como um exercício de realizar pequenas catarses e contar a minha rotina da faculdade de gastronomia e pelo prazer que dá fazê-lo, com ou sem ressonância de público.

Mas, tudo é pontual. Essa rotina está para ser encerrada: no próximo dia 12, sexta-feira, encerro os meus dois anos de faculdade e, com isso, os posts sobre a faculdade em si deixam de existir.

Não me preocupo com o que vem porque, pode ter certeza, minha verborragia não falhará. Continuarei a escrever assim como tenho feito nesses quase 15 meses de existência. Mas, de tempos em tempos, vejo que a frequência na internet e, particularmente no blog, cai. Não sei registrar o porquê dessa queda. A curva, que vinha ascendente, de repente estaca e, momentaneamente, cai.

Claro, estamos em dezembro. O mês de dezembro tem a faculdade de concentrar em si todas as pequenas e grandes coisas que, de uma forma ou de outra, não foram realizadas nos outros onze meses subsequentes. Cria-se uma urgência desesperada para concluir projetos e atingir expectativas sonhadas em dezembro do ano anterior.

Aquelas realizações que, de concretas, de fato, não querem dizer muita coisa a não ser para nós mesmos. E, quando pressentimos que o tempo é escasso para atingi-las, nos angustiamos e parece que se não o fizermos até o dia 31, tudo desabará. É apenas simbólico, mas, e isso basta, e talvez exatamente por isso, tem que ser feito!

De tal forma que, repito, há uma sazonalidade no blog. Meus(minhas) queridos(as) leitores(ras) sumiram, de um dia para o outro. Os(as) há os(as) novos(as), muito bem-vindos(as). No entanto, os(as) antigos(as) começam a rarear. Deixam de aparecer num dia, no outro e, quando se nota a sua ausência, percebe-se que já nos deixaram há algum tempo.

Criei o blog por sugestão da Patty citada no início do post mais por brincadeira do que qualquer outra coisa. Isso funcionou no ano passado, no primeiro semestre. Depois, este ano, decidi registrar a rotina dos meus dias de faculdade de gastronomia. Consegui fazê-lo. Até aqui, foram 160 posts exclusivamente sobre a faculdade. Com todas as coisas boas e outras nem tanto feitas durante esse ano.

Houve momentos que foram do cansaço extremo à felicidade completa e é isso que dá sentido aos dias e noites do ano todo. Agora, mais uns dias, e me preparo para um recesso. No trabalho, na faculdade que concluo e no blog.

Devo me ausentar por um período breve e me juntar ao(à) leitor(a) e fazer justamente o que todos fazemos nessa época: correr atrás das pequenas e grandes lacunas e tentar fechar o ano, tanto simbolicamente quanto efetivamente.

Quero dizer que estou feliz com os meus próprios feitos deste ano e - sou um eterno esperançoso - tenho grandes expectativas para o próximo ano. Se o(a) leitor(a), que é parte fundamental da minha troca via blog está ocupado(a) com o mundo real, vou de roldão e me uno a ele(ela). Afinal, é fim de ano e o tempo urge e ruge.

Este post não é, ainda, uma despedida de final de ano. É apenas para registrar essa revoada de pássaros, migratórios todos, no rito de transição de um ano para o outro. A despedida eu a farei adequadamente.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Rastreio de Cozinha - 160


Para escapar à bancarrota, é preciso treino, dedicação e vontade. A sorte é para principiantes. Qualquer atividade que se queira séria tem que abstrair do fator sorte. Nem mesmo a loteria é sorte. É matemática, probabilidade.


Ontem, sexta-feira, 5, nos apresentamos à banca. Depois de quase dois anos de elaboração, o Trabalho de Conclusão de Curso - TCC foi entregue no dia 24 de novembro e apresentado para uma banca composta de uma coordenadora (ou mediadora) e mais três professores.

Desde segunda-feira, 1º., a ansiedade mostrou suas garras. Em crescente angústia, meu grupo de TCC - cinco pessoas, incluso eu mesmo - assumiu a bipolaridade típica que acomete as pessoas em ocasiões de extrema pressão: alternou-se entre a euforia e a imediata depressão, sem transição.

Na segunda, dia 1º., ninguém se apresentou. As bancas começaram na terça-feira, dia 2. Eram 36 grupos, de todos os cursos, e nós figurávamos no final, na 33ª. posição. Realmente, não sei se prefiro estar entre os primeiros e me ver livre da ansiedade ou então ficar para o final e acumular informações sobre as experiências alheias.

Ao que me consta, a cada grupo que se apresentava, as informações eram tão desencontradas que, ao invés de amenizar a situação, somente afligia ainda mais os que esperavam. A partir de quarta-feira, estabelecemos, o grupo, períodos de ensaio.

Com os slides - limitados a dez páginas - prontos, começamos a nos ensaiar. E foi bom. No primeiro dia, entre nós mesmos, vimos o quanto estávamos nervosos e despreparados. Ao final do primeiro dia de ensaio, fizemos ajustes e acertamos o que cada um iria falar e por quanto tempo. Isso foi fundamental para dar coesão a todos.


No segundo dia, mais preparados, fomos bem nos ensaios. A ponto de reduzirmos o tempo de apresentação de 16:50 minutos para apenas 13:50 minutos. Oficialmente, temos 20 minutos para nos apresentarmos diante da banca. Ao final desse segundo dia de ensaio, sentimo-nos mais confiantes.

Ontem, paramentados com o traje oficial e social para a apresentação formal, fizemos, novamente, mais ensaios. Com guias - fichas padronizados com o conteúdo de cada um -, nos postamos como se estivéssemos diante da banca e treinamos. Por fim, a hora passou rapidamente e às 20:40 horas estávamos na sala de apresentações.

A sala estava praticamente vazia. Os espectadores não chegavam a dez pessoas. A banca, composta por pessoas conhecidas, e, talvez, por isso, temidas, estava lá, à nossa espera. Conectei o pen drive ao computador e comecei. Me apresentei e ao grupo e introduzi o projeto: um restaurante gastronômico contemporâneo cujo maior objetivo é fazer face ao D.O.M., de Alex Atala. Pretensiosos? Sim, pode ser. Mas, valeu a ousadia, conforme contarei abaixo.

Minha primeira participação ultrapassa um pouco mais de dois minutos, quando eu daria a palavra ao próximo componente. Antes, porém, quando eu ainda estava no corredor, à espera do grupo precedente, eu estava, como todos, absolutamente nervoso. Tendo a acalmar as pessoas nessas horas e evitar passar qualquer sinal do meu próprio nervosismo. Na maior parte das vezes, isso funciona.


Pois, nesse exato momento, algo se operou dentro de mim de forma quase física: senti um tsunami me atravessar dos pés à cabeça e entrei numa espécie de transe. Me senti calmo, extremamente calmo. O zumbido ao meu redor tornou-se apenas murmúrio. Meu coração desacelerou e me senti pronto.

Quando, já no início da apresentação, comecei a expor a apresentar os componentes - e creio que ninguém o fez - e a mim mesmo, não titubeei. Não hesitei e tampouco gaguejei. As palavras fluíram. Me esquecei completamente da guia que tinha nas mãos. Me recordo de ter olhado para a banca e para a platéia e inclusive ter movimentado os braços em direção ao telão - eu mesmo, simultaneamente, operei o PowerPoint.

Em seguida, o outro componente entrou para apresentar uma nova parte e .... suspense! O PowerPoint não funcionou! Tentei de algumas formas e ... nada! Um componente da banca me disse alguma coisa e, finalmente, consegui operar o software. Mais um susto! Fiz a apresentação no meu próprio PowerPoint, em versão mais recente, e salvei o arquivo para ser lido pela versão 97-2003. No entanto, os computadores da faculdade são traiçoeiros: as últimas linhas de dois ou três slides simplesmente desapareceram. Não cabiam no telão!

De qualquer forma, improvisei o avanço dos slides da melhor forma que eu pude e não tivemos mais problemas quanto à evolução das telas. O segundo componente terminou a exposição e se sucederam a terceira, a quarta e a quinta componentes, todas colegas mulheres.


Devo dizer que o colega que me sucedeu se saiu muito bem, numa fala superior a três minutos, e sequer precisou consultar a guia ou a tela. A terceira colega, com pouco mais de dois minutos de fala, estava visivelmente nervosa e fez uma exposição "mecanizada", segundo um dos professores. A quarta colega a se apresentar também dispensou o uso da guia e foi bem, em pouco mais de dois minutos. Por fim, a quinta e última colega, com o menor tempo de apresentação - não chegava a 1:30 minuto - foi a única, entre nós, que precisou ler a guia. E foi criticada pela banca por isso.

Depois dessa colega, voltei a falar. Falei mais uns três minutos - sobre os números, os quais eu gravei na cabeça, a conclusão e o encerramento. E essa minha segunda intervenção foi ainda melhor que a primeira. OK! Posso exagerar, mas, que diabos! Eu fui bem, cara!

E não vou deixar por menos: fui, dos cinco componentes, o mais elogiado pela banca. Por todos os componentes da banca. Oras, eu fiz por merecer! Não vou assumir uma falsa modéstia. Ao contrário, quero dizer que foi uma das minhas melhores apresentações, nesta faculdade ou em qualquer outra ocasião.

Esse projeto começou com uma idéia minha, lá, no ano passado, e convenci o grupo: éramos apenas três pessoas, na ocasião. Ao final do ano passado, éramos seis pessoas e, no início deste ano, depois de duas tentativas de abandono do grupo, da minha parte, nos consolidamos em cinco componentes. Creio que somos um dos poucos grupos que sobreviveu com a formação original do princípio ao fim.

Então, eu conheço o projeto com a palma da minha mão. Inteiro. Não há um único parágrafo que eu desconheça. Revisei o TCC algumas vezes, e não apenas uma. A minha apresentação, portanto, era com conhecimento de causa. Isso, somado ao treinamento exaustivo, me deu subsídio suficiente para uma exposição que considero excelente.

Desculpe, mas tenho que dizer: ouvi a palavra "parabéns" no mínimo umas sete vezes. Ouvi que o projeto é, entre todos os 36 TCCs, o mais ousado. Li nas anotações que a "logomarca é primorosa", que o "fluxograma está correto" e que o "trabalho está muito bem feito em termos metodológicos e de conteúdo". Fomos "os mais bem apresentados (trajados)". Ouvi que eu próprio estava muito elegante e que fui muito bem. Ouvi isso novamente quando agradeci a banca ao final da apresentação - e fui o único do meu grupo a fazê-lo, a despeito de ter instruído os colegas a agradecerem pessoalmente cada componente da banca.


Como eu disse no post de ontem, não sabemos a nota final do projeto. Teremos duas notas sobre o TCC: uma, do projeto escrito; outra, da apresentação individual.

Sim, o projeto tem algumas falhas, apontadas pela banca. Não é perfeito. Em nossa defesa, quero dizer que não houve nenhum grupo, entre os conhecidos por nós (de, pelo menos, três classes, que perfazem 22 grupos), que atravessou a banca sem altercações e, inclusive, confronto direto com os componentes da banca.

Como se sabe, ao apresentador de projetos não cabe contra-argumentar com a banca. Apenas, e se instado, deve responder a possíveis dúvidas. Quanto aos comentários externados pela banca, devem ser ouvidos somente e assimilados.

Quero dizer que estou muito, mas muito feliz mesmo com o meu próprio desempenho e com o desempenho geral do grupo. Eu insisti muito no traje e, assim como ocorreu com o evento 50 Anos de Bossa Nova, isso foi mais do que acertado. A minha insistência em ensaiar também nos deu, a todos, uma postura de profissionais. Encerro, com isso, o TCC. Para mim, a reação elogiosa e simpática da banca - em contraste com o mau-humor e intolerância com outros grupos - é o melhor sinal de que fizemos o melhor. Estou feliz.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Cronicamente viável


Era uma vez um sonho. Começou em preto e branco, sem pretensões, sem riqueza de detalhes, sem exagero ainda que sonho. Semente, germinou devagar. Contrariamente aos movimentos de repulsa, estabeleceu-se. Criou algumas raízes. Porém, a fragilidade do terreno, a falta de nutrientes, a pouca água e raríssima sede quase mitigaram o processo de nascimento.


Os genitores eram mais ar do que terra e a planta vergava, ainda pequena, apenas um esboço. Vergastada pelo vento implacável, dobrava-se, retorcia-se e se recusava a quebrar. Seria um bambu se dado fosse escolher.

Houve conflitos ao redor da planta. Resoluções de abandono. Exasperação. Irritação. Limites testados. Depois, a pausa. Suave, a pausa se interpôs e apaziguou, momentaneamente, as rusgas. As nervuras da pequena planta registraram as rusgas. Como um mapa, ficaram incrustados os relevos, as saliências e reentrâncias. Finda a quarentena, a planta retomou, em novo patamar.


Novo terreno, novas decisões. Quiçá uma nova atitude. Porém, pequenos dilúvios diluíram seguidamente as pretensões de enraizamento e evolução. O processo erosivo se estabeleceu e a planta, com duas ou três pequenas folhas, ficou à merce das intempéries. Relegada ao sol, ao sereno, à providência divina, que a terrena olvidou-se de cuidados.

Mais uma pausa. Novas resoluções, mais bravias e rigorosas. Seguiu-se um período invernal. Congelaram-se as adições. Nada de adubo. Nada de irrigações. Talvez migrações. Quem sabe, expropriações e até mesmo deserções. Que, afinal, aconteceram, as deserções.

O grupo reduziu-se e a planta, com 3 ou 4 centímetros, revitalizou-se. Um novo marco se estabeleceu e com a terra afofada e alguns lavradores envolvidos, a planta cresceu. Com galhos mais espessos, mais resistentes à ação do tempo.


Ao fim, os lavradores apropriaram-se da cria e a elevaram à categoria de árvore. Frondosa e abrangente. Forte. Viçosa. Os galhos fizeram-se extensões dos braços dos cultivadores. A seiva dos cérebros brotou, finalmente, e deu à luz um inteiro projeto. Uma criatura, enfim.

Que, nas últimas quatro semanas, deu trabalho de parto. Com dores fortes, intermitentes, a avisarem da chegada. Veja lá que está a chegar a hora, repetiam-se os bordões por todos os lados. Brandidos pelos uivos, os lavradores entregaram-se lentamente ao desespero. Não correspondido de todo porque, a esse tempo, a planta tinha vida própria.

Hoje, dia 5, provou-se cronicamente viável. A palavra "viável" transformou-se na chave essencial para girar a fechadura e permitir a passagem. O sonho viabilizou-se e se revelou real.


O TCC passou de projeto a mercadoria vendida. A semente virou um Alecrim. Al-ilkil, no árabe, que remete à simbologia do amor. Horas de terror que antecederam a apresentação transformaram-se em horas de felicidade. Por enquanto, não se sabe da parte burocrática: nota final, se será ou não referência pública.

Não interessa. Mesmo! Interiormente, há, neste lavrador que aqui vos escreve, uma convicção de genuíno sucesso. Sobre o qual escreverei um Rastreio excepcional de sábado para decifrar o que foi a banca do TCC. Por enquanto, digo que estou mais do que feliz. Viável. É a palavra. Eu também sou viável, enfim. Até amanhã!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Tensão pré-banca


Ontem, hoje e amanhã. Três dias de tensão para bancar a banca. Sim, é amanhã, sexta-feira, o grand finale simultaneamente desejado e temido. Amanhã, a apresentação formal do Trabalho de Conclusão de Curso - TCC à banca fecha, simbolicamente, os dois anos de faculdade.

Ontem, na quarta-feira, e hoje, quinta-feira, nos preparamos, o grupo, para a apresentação do TCC. Ensaiamos. O primeiro ensaio, na quarta, nos mostrou o quanto estávamos despreparados.


Eu preparei uma pré-apresentação em PowerPoint desde a semana passada e a enviei para o orientador do TCC. Somente hoje, quinta-feira, obtive a resposta. Fiz alguns acertos, conforme os conselhos do professor e ensaiamos. Creio que melhoramos de ontem para hoje.


Nos primeiros ensaios, apenas tateávamos o que teríamos que dizer, com uma série de dúvidas. Alguns de nós assistimos a bancas de terceiros e deu para sentir o que esperam de nós. Hoje, outros componentes que ainda não haviam visto a banca em ação tiveram a chance de fazê-lo.

E, finalmente, a ficha caiu para todos. De forma que, para as duas horas de ensaio de hoje, na própria faculdade - tomamos a liberdade de tomar de assalto uma sala e fazer a projeção em notebook e falar para a platéia. No caso, nós mesmos.


Todos têm falhas, obviamente. Mas, à medida que ensaiamos, percebemos que não tem nada de complicado. A maior parte sabe perfeitamente sobre o que fala. Desde a semana passada, praticamente obriguei o grupo a fazer cópia do TCC inteiro (122 páginas).


Hoje, ensaiamos com pequenas fichas - cada um fez a sua com o conteúdo que apresentará - e, inclusive, cronometrei o tempo individual e coletivo. Temos, oficialmente, 20 minutos para nos apresentarmos à banca e condensar o projeto inteiro de forma clara. Nos ensaios, não ultrapassamos os 16:30 minutos. Está bom, na minha opinião.

Conforme as bancas a que assisti, as pessoas tendem a concluir as apresentações dentro do tempo. Agora, farei fichas padronizadas para todos nós. Daquelas que os apresentadores de TV usam para anunciar as atrações, com o logotipo do programa. No caso, as nossas fichas de apoio terão o logotipo do projeto.


Com os slides do TCC prontos e com as fichas na mão, estaremos todos, às 20:40 horas, prontos para a apresentação. Nervosismo? Claro! Sempre! É impossível ficar impassível. Depois de ver a banca em ação e o desânimo de alguns colegas e saber o peso que o TCC representa, não dá para assumir uma atitude low profile e fingir que tudo é fácil. É um desafio. E mais. É, como citei acima, o fechamento simbólico da faculdade e, de certa forma, encerra-se, na apresentação à banca, tudo que se passou nesses dois anos.


De forma que, a essa hora, amanhã, estará tudo concluído. Desejem-me e a meu grupo sorte. Não há nada mais, a não ser isso. De resto, é munir-se de coragem, ir lá e dar o recado. Amanhã eu conto como foi o processo. Ou melhor, o rito de passagem.

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