Cronicamente viável
Era uma vez um sonho. Começou em preto e branco, sem pretensões, sem riqueza de detalhes, sem exagero ainda que sonho. Semente, germinou devagar. Contrariamente aos movimentos de repulsa, estabeleceu-se. Criou algumas raízes. Porém, a fragilidade do terreno, a falta de nutrientes, a pouca água e raríssima sede quase mitigaram o processo de nascimento.
Os genitores eram mais ar do que terra e a planta vergava, ainda pequena, apenas um esboço. Vergastada pelo vento implacável, dobrava-se, retorcia-se e se recusava a quebrar. Seria um bambu se dado fosse escolher.
Houve conflitos ao redor da planta. Resoluções de abandono. Exasperação. Irritação. Limites testados. Depois, a pausa. Suave, a pausa se interpôs e apaziguou, momentaneamente, as rusgas. As nervuras da pequena planta registraram as rusgas. Como um mapa, ficaram incrustados os relevos, as saliências e reentrâncias. Finda a quarentena, a planta retomou, em novo patamar.
Novo terreno, novas decisões. Quiçá uma nova atitude. Porém, pequenos dilúvios diluíram seguidamente as pretensões de enraizamento e evolução. O processo erosivo se estabeleceu e a planta, com duas ou três pequenas folhas, ficou à merce das intempéries. Relegada ao sol, ao sereno, à providência divina, que a terrena olvidou-se de cuidados.
Mais uma pausa. Novas resoluções, mais bravias e rigorosas. Seguiu-se um período invernal. Congelaram-se as adições. Nada de adubo. Nada de irrigações. Talvez migrações. Quem sabe, expropriações e até mesmo deserções. Que, afinal, aconteceram, as deserções.
O grupo reduziu-se e a planta, com 3 ou 4 centímetros, revitalizou-se. Um novo marco se estabeleceu e com a terra afofada e alguns lavradores envolvidos, a planta cresceu. Com galhos mais espessos, mais resistentes à ação do tempo.
Ao fim, os lavradores apropriaram-se da cria e a elevaram à categoria de árvore. Frondosa e abrangente. Forte. Viçosa. Os galhos fizeram-se extensões dos braços dos cultivadores. A seiva dos cérebros brotou, finalmente, e deu à luz um inteiro projeto. Uma criatura, enfim.
Que, nas últimas quatro semanas, deu trabalho de parto. Com dores fortes, intermitentes, a avisarem da chegada. Veja lá que está a chegar a hora, repetiam-se os bordões por todos os lados. Brandidos pelos uivos, os lavradores entregaram-se lentamente ao desespero. Não correspondido de todo porque, a esse tempo, a planta tinha vida própria.
Hoje, dia 5, provou-se cronicamente viável. A palavra "viável" transformou-se na chave essencial para girar a fechadura e permitir a passagem. O sonho viabilizou-se e se revelou real.
O TCC passou de projeto a mercadoria vendida. A semente virou um Alecrim. Al-ilkil, no árabe, que remete à simbologia do amor. Horas de terror que antecederam a apresentação transformaram-se em horas de felicidade. Por enquanto, não se sabe da parte burocrática: nota final, se será ou não referência pública.
Não interessa. Mesmo! Interiormente, há, neste lavrador que aqui vos escreve, uma convicção de genuíno sucesso. Sobre o qual escreverei um Rastreio excepcional de sábado para decifrar o que foi a banca do TCC. Por enquanto, digo que estou mais do que feliz. Viável. É a palavra. Eu também sou viável, enfim. Até amanhã!
4 Comentários:
Parabéns! Você é muito talentoso.
La Voyageuse, muito obrigado. Seu comentário me encoraja, de verdade. E, claro, faz com que eu fique mais cheio de mim ainda. Beijo!
Red,
Ale quis te deixar um comentario, mas ela nao sabe como faze-lo no seu blog. Nao sei o que acontece, pois o procedimento eh o mesmo no meu Carnet de Route e ela conseguiu. Enfim, vai entender a Ale, ne?
bjo
La Voyageuse, eu havia deixado uma resposta para ela no seu blog e depois enviei um e-mail detalhado com o passo-a-passo. A nossa amiga unplugged tateou, tateou e, finalmente, acertou o caminho das pedras. Beijo!
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