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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Grandes expectativas!


Ao andar pelas ruas, ir aos lugares e circular, pura e simplesmente, constato que, sim, o mês de dezembro tem a capacidade inequívoca de criar em todas as pessoas, de alguma forma, uma aura de grandes expectativas.

Somos, os brasileiros, uns crédulos, por princípio. Acreditamos sempre no melhor, ainda que o pior nos mostre as garras. Seguramo-nos na cândida ilusão de que o ano que vem será melhor, que coisas ruins não nos acontecerão e que, "com a graça de Deus", tudo correrá bem.


Também por princípio, sou cético quanto ao divino. Nada espero dos céus que a terra não me proporcione em dimensões mais cruas. Não peço nada ao éter porque me parece que tudo - céu, inferno e purgatório - é aqui mesmo, neste planeta. Não acredito que forças além do cotidiano e da realidade exerçam qualquer influência no que fazemos e no que deixamos de fazer.

O sentimento coletivo de esperança a que me refiro é uma condição muito brasileira. Não a critico, não! Ao contrário. Acho que essa sensação e o poder de acreditar em si e nos demais e vencer adversidades é o que nos faz o povo que somos.


Receio apenas que o eterno apelo ao paternalismo - estatal ou divino - é o que detém o povo, de forma geral. É o que o faz ser o que é e acreditar que as coisas mudam. Creio que meu pensamento é mais calvinista e tendo a achar que as mudanças somente ocorrem se os esforços são direcionados para isso.

Do contrário, não dá para esperar que os céus provenham o pão de cada dia. Sem falar no vinho. Esse tipo de constatação me ocorre porque São Paulo, nessa época, é tomada de uma fúria. Durante o ano todo, a cidade age, no todo, como um maratonista em final de corrida: apressa ainda mais o passo e dá arrancadas vigorosas. Sempre com pressa, sempre com atraso. Uma corrida que exaure e nem por isso fenece.


Mas, em dezembro, somos, habitantes dessa cidade, tomados por uma coletiva impressão de que não há tempo, de que não dá para fazer nada, de que não conseguiremos falar oi para as pessoas. Eu, como muitos paulistanos, viajo todo final de ano e passo longe de São Paulo tanto no Natal quanto no Ano Novo.

Ao mesmo tempo que amo viver nessa cidade, sinto ímpetos de deixá-la no final do ano. Sem remorsos. Fujo daqui. Do barulho. Dessa sensação de impotência de que há muita gente e pouco espaço. De que não há tempo, nunca, para nada. Fujo, de certa forma, desse ambiente generalizado que, num extremo, aguarda ansioso que tudo se resolva neste mesmo ano. No outro, teme o ano novo por ter que repeti-lo em doses semelhantes ao ano que se encerra. É uma dicotomia que, imagino, cada um que mora aqui não se furta de senti-la, de tempos em tempos.


Estou próximo dessa minha fuga anual. Me sinto um pássaro que ficou para trás do bando e agora se apressa a seguir-lhe o trilho, com medo de se perder no horizonte. Meu temor é o mesmo de todos os demais: ver acabar o ano e achar que, afinal, o que se fez dos 365 dias é pouco ou me atormentar por igual medida ao visualizar o próximo ano.

Ou seja, nenhuma novidade no front: passei o ano inteiro cheio de dúvidas e dezembro apenas tem o dom de concentrá-las, já que o simbólico balanço chega junto com o mês. Para abstrair de (pseudo)realizações, nada melhor do que pegar uma estrada e deixar para trás esse mundo ao qual eu não me canso de voltar.

4 Comentários:

Anônimo disse...

...pois eu me canso de nunca poder pegar essa estrada da expectativa livre de qualquer destino, a fuga ao eterno retorno, ao estado circular de penitente, estar circulando na vida com destino no mapa, no calendário, agenda, relógio e documento... alguém disse que "viver cansa"...há muito que não sinto os "dezembros", os "maios" ou "aniversários"... havia nisso uma magia que esqueci de sentir. olho e não enxergo diferença... cumpro os rituais, eis tudo. mas a "passagem" não se dá. "este mundo" gostaria de deixar, como o Red, mas não posso. há que ficar, o cansaço e a certeza de que nada de novo há, realmente novo, e nem adianta cogitar a hipótese de não ter corrido atrás. Não faço outra coisa a não ser correr, para chegar a lugar nenhum! (belo espírito para a quadra!, hein!?) Boa viagem e até ao seu retorno!

e quanto a dúvidas!... ah que cansaço de as ter!!! e que pior seria não tê-las.

Anônimo disse...

Vc ja vai ou pretende viajar la pelo dia 20 de dezembro?

Redneck disse...

Anônimo, lamento com sinceridade que os sinta, aos ciclos de passagem. Me atrevo a dizer que me pareceu incômodo não haver mais magia. Me ocorre que certezas não as há definitivas e, portanto, podem ser quebradas. Quanto a não chegar a lugar nenhum, discordo. Você já chegou até aqui e diz o que lhe vai no coração. Portanto, se me permite, você chega, sim, a algum lugar. Quanto ao cansaço inerente a tantas incompreensões, é da nossa natureza humana, não é? De qualquer forma, lhe desejo uma 'estada' em oposição à partida que faço tão boa quanto está a me desejar. Um abraço e até o retorno.

Redneck disse...

La Voyageuse, não sei a data precisa. Sei que é por esses dias. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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