O que pode vir de podre do reino da Dinamarca
Na próxima sexta-feira, 2, 97 membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) votam na cidade-sede das Olimpíadas de 2016. Estão no páreo Chigaco (EUA), Tóquio (Japão), Madrid (Espanha) e Rio de Janeiro (Brasil).
Todos os representantes de cada país estão reunidos em Copenhague (Dinamarca) para o anúncio de sexta-feira: Barack Obama, a apresentadora Oprah, o rei Juan Carlos, Lula e Pelé. Sobram farpas e acusações (oficiosas) por todo lado. São muitos os argumentos a favor e contra, conforme a vertente e a cidade.
O jornal Folha de São Paulo fez uma série com as cidades-candidatas de domingo até hoje, quarta-feira, e os orçamentos, somados, chegam a US$ 32,4 bilhões (cerca de R$ 58 bilhões em valores do dólar desta quarta-feira, dia 30). É dinheiro que não acaba mais. Para dar a dimensão do montante, a arrecadação federal brasileira de julho deste ano foi de R$ 58,6 bilhões. É o mesmo valor também que o diretor executivo-chefe da siderúrgica britânica ArcelorMittal, Lakshmi Mittal, considerado o homem mais rico da Inglaterra, perdeu ao final do ano passado em função da crise mundial.
O Brasil, depois de levar a Copa de 2014 (e os Jogos do Pan de 2007), agora quer sediar as Olimpíadas. Tudo bem não fosse a ausência de infraestrutura básica em uma centena de áreas. Para não dizer que sou pessimista, dou um exemplo do que ocorre no bairro onde moro, distante da Avenida Paulista apenas duas quadras: toda vez que chove mais forte, parte do bairro fica às escuras, com todo o caos que isso acarreta. A Avenida Paulista é considerada a mais importante via da cidade de São Paulo e, quiçá, centro nervoso financeiro e empresarial da América Latina. Como sou da opinião de que a minha aldeia (no caso, bairro) é local mas capaz de se refletir em termos globais, dou de graça que o que ocorre no meu bairro se espalha pela cidade e, por etapa, pelo Brasil, incluso o Rio de Janeiro.
Não vou nem entrar em temas macros que poderiam ser considerados. Mas, das quatro cidades, três pertencem às grandes economias que, efetivamente, mandam no mundo: EUA, Espanha e Japão. Nós, ainda que me considere otimista, afinal, com o Brasil, somos apenas a franja do mundo, ladeados pelo imenso continente africano que se despregou de nós desde Pangea.
Temos mais afinidades com a África em termos financeiros e culturais do que gostamos de admitir, e não com a Europa, os EUA ou a Ásia (a parte rica, claro). Dos quatro orçamentos, o Rio de Janeiro não quer posar de patinho feio. Não! É o cisne negro: o Rio oferece o maior orçamento ao COI: são US$ 14,4 bilhões. Na comparação, Tóquio acena com US$ 7,1 bilhões, Madrid com US$ 6,1 bilhões e Chicago, que pertence à maior economia do planeta, com modestos US$ 4,8 bilhões.
Fala-se muito no retorno que um evento do porte das Olimpíadas (ou da Copa do Mundo) traz para o país ou cidade-sede. Uma campanha bem-humorada, idealizada por um publicitário de Chicago, aponta as razões pelas quais o evento deve ocorrer no Rio, e não em Chicago. Você pode acompanhar pelo site Chigacoans For Rio 2016. Interessante observar no site os prejuízos que as cidades que já sediaram o evento acumularam. O Brasil (e seja que cidade for) não está preparado para arcar com prejuízos desse porte pelo simples fato de querer ostentar ao mundo que somos, finalmente, o país do futuro. De um futuro que não se concretiza nunca e que apenas arranha as portas daqueles que realmente dão as cartas.
Os dados estão nas mesas de Copenhague. Somente espero que algo de podre não nos seja presenteado do reino da Dinamarca.