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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Meu rugido dominical


Nos EUA, na última quarta-feira, 23, o presidente Barack Obama, na voz do secretário de Justiça Eric Holder, finalmente começou a cumprir uma das promessas de campanha. Obama, como se sabe, não tem feito um governo exatamente revolucionário tal qual a sua própria eleição e tem sido, ao contrário, bastante criticado por posições ou nulas ou tardias.

Mas, na quarta, ao que parece, Obama começou a rever suas iniciativas. Ou melhor, algum assessor resolveu que o presidente dos EUA está em débito com o povo norte-americano: Obama ordenou ao Departamento de Justiça que não mais defenda a lei federal que define o casamento como uma instituição apenas entre um homem e uma mulher. Dessa forma, o casamento homossexual deve ser examinado sobre critérios mais amplos e não há nenhum fundamento racional para discriminar os casais do mesmo sexo. Ou seja, Obama resolveu defender o casamento gay.

A mudança de orientação indica que Obama passa a trabalhar, oficialmente, pela legalização das uniões homossexuais nos Estados Unidos. Até agora, apenas seis estados - Connecticut, Iowa, Massachusetts, New Hampshire, Vermont e Washington - autorizam o casamento gay.

No Brasil, na quinta-feira, dia 24, o ex-Big Brother Brasil (vencedor da quinta edição do programa da Rede Globo, com o prêmio de R$ 1 milhão) e agora deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) fez seu primeiro discurso na Câmara dos Deputados. Ao falar, disse que, como primeiro deputado federal assumidamente homossexual eleito no Brasil, trabalhará principalmente pela garantia dos direitos das lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT). O deputado deve apresentar uma proposta de emenda constitucional (PEC) que reconheça o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

"É preciso mostrar que aquela família de comercial de margarina não existe ou existe ao lado de muitas outras famílias diferentes. A ausência de leis não significa que a realidade (da união de pessoas do mesmo sexo) não exista", discursou. Jean deixou claro que o casamento civil é diferente do reconhecimento da união estável entre gays, que está em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. O casamento garante os direitos sucessórios, algo que a simples união estável não faz.

Jean é parte de uma bancada gay e de simpatizantes do Congresso Federal que tem ainda a senadora Marta Suplicy (PT-SP), Manuela D'Ávila (PC do B-RS) e Fátima Bezerra (PT-RN), que devem trabalhar juntos pela criação de uma Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT.

E o trabalho do deputado já começou: pela primeira vez, este ano a Secretaria da Receita Federal (que gerencia o Imposto de Renda) incluiu parceiros homossexuais como dependentes para fins de dedução fiscal. Claro que uma contra-ofensiva, formada por parlamentares evangélicos, tenta derrubar a iniciativa da Receita Federal. Como providência, o deputado disse que vai discutir esta semana com outras lideranças da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT, ainda em reestruturação, uma maneira de barrar o movimento articulado pelo deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF), que considera o benefício ilegal.

Isso é apenas o início de uma longa batalha pelos próximos quatro anos, que é o tempo do mandato de Jean Wyllys. Pelo histórico do Congresso Nacional e pela própria atuação da ex-deputada Marta Suplicy, agora senadora, todas as tentativas semelhantes foram mal-sucedidas. Sempre a bancada evangélica derruba qualquer esforço de evolução num debate que, na minha opinião, deveria passar ao largo de qualquer teor religioso. Embora sejamos um Estado laico, por definição, bancas evangélicas (e, claro que sim, católicas) entendem que a minha vida, a sua (se você é gay) ou a de qualquer outro ser está nas mãos delas. Xô!!! Sai satanás, que não preciso de homens obtusos, que recolhem dinheiro de fieis desinformados, para conduzir a minha vida sob essa ou aquela lei.

A única lei que vale é a lei do livre-arbítrio e eu decido o que quero fazer, com quem e quando. Espero que o deputado consiga levar adiante alguma novidade nesse debate. Circulou pela internet a informação de que a página de Jean Wyllys no Facebook havia sido bloqueada a semana passada. Isso teria ocorrido, segundo o deputado, menos de 24 horas depois de ele ter começado a percorrer a Câmara para pedir assinaturas para a criação da Frente Parlamentar LGBT. Uma série de usuários combinou de denunciar a página do político juntos para causar o bloqueio prévio até que a direção do Facebook analise se as denúncias procedem. Eu acessei hoje mesmo a página de Jean no Facebook e a encontrei em operação normal. É uma guerra que, de santa, não tem nada. Apenas o apelo ao imaginário popular que ainda acredita que alguns deputados agem mesmo pela fé. Eu digo é que agem pela má-fé.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A dancinha de Thom Yorke

Não demorou 30 minutos e lá estavam centenas de filhotes da dancinha algo cômica, algo vergonha alheia, do contorcionismo de Thom Yorke, líder do Radiohead. Foi como uma emissão de ondas de rádio que se alastrou e virou viral. Confira o clipe original e algumas cópias engraçadíssimas. Quer apostar quanto que tudo foi calculado, hein!

















domingo, 20 de fevereiro de 2011

Meu rugido dominical



Há um seriado atualmente no ar na HBO, "The Big C" (onde "C" significa câncer), em que a protagonista, Cathy (interpretada pela ótima Laura Linney), ao descobrir-se portadora da doença, radicaliza. Mas, não da forma convencional. Ela simplesmente não conta, ou não consegue contar, para as pessoas - marido, filho, amigos, irmão, pai - que tem câncer.


O que pode soar pretensioso, na verdade, é bastante realista. Quando Cathy tenta contar a verdade, as pessoas se desesperam. Não por ela, e sim por si próprias. Ou de como dependem dela para continuar a viver. Irônico. Engraçado que, até a descoberta da doença, Cathy é desprezada por todos. O câncer, ao invés de lhe prostrar, lhe dá outros parâmetros de vida. Parâmetros de morte, de fato, já que, imagino, quando se lida com data de validade, as perspectivas mudam muito.


Não tenho a mínima ideia de como lidaria com uma notícia dessas se a mim me fosse dada. O que fazer quando se sabe que a vida tem uma data marcada para acabar? A inexorabilidade da morte não é forte o suficiente para que nenhum ser humano (ao menos eu não conheço nenhum) se porte como se tivesse um dia e hora certos para acabar, deixar de existir.


Portanto, se alguém me comunicasse que eu teria duas semanas, três meses, um ano, vinte anos que fossem, não sei como agiria. Ou se reagiria. Por uma série de eventos, conheci e conheço pessoas terminais. As que conheci, obviamente, já estão mortas. E lidaram com o conhecimento da morte de forma a mais diversa possível: umas se anteciparam e cometeram suicídio. Outras, lamentaram-se, choraram e criaram outras possibilidades dentro daquilo que lhes era permitido. Outras, ainda, foram condescendentes consigo mesmas e aceitaram os fatos como lhes foram colocados, amparadas que estavam pela fé ou pela simples aquiescência da vida que resulta em morte, precocemente ou não.


Não sei se é mórbido, mas, às vezes, me pego a pensar sobre a fatalidade de uma doença recair sobre mim. Ou então de um acidente, de um assalto, de qualquer coisa que interrompa o fluxo (considerado normal) da vida e faça da vida como eu a conheço outra vida, com datas e prazos encurtados.


Penso, quando me imagino vítima dessa circunstância, que poderia ter as mais diversas reações, a começar com uma revolta contra tudo e todos. Penso também que essa pretensa revolta feriria a mim mesmo e a mais ninguém. Penso que seria difícil, por vezes quase impossível conviver com a ideia da morte a chegar, inexorável, sem meias palavras. Penso que talvez é mais seguro não pensar nisso.


O que constato nas pessoas que conheço e lidam com esses prazos terminais é que não há como lidar com isso. OK, no decurso das horas, dias, meses e anos, aparentemente, você contorna a morte. Mas, ao deitar a cabeça no travesseiro, provavelmente, essas pessoas datadas terão taquicardia ao fazer mentalmente a contagem regressiva.


O que me leva a levantar esse tema é a impotência ante o desconhecimento. Acho que vi num filme que somente tememos a morte por temer o desconhecido. E não escrevo aqui sobre o desconhecimento místico (céu, inferno, purgatório, ressurreição, transmigração de alma etc. etc.). Não! Mesmo porque, ao me opor a tudo isso, seria muito leviano da minha parte debater essas questões pelas quais não tenho o menor interesse. Falo sobre o desconhecimento da morte em si, do temor da dor, do medo de ficar só, na infinitude do apagar da consciência. Deve ser essa eternidade, a do infinito apagar-se, inconsciente, e não ser, não saber, não sentir. Ser apenas um nada dentro do nada. Deve ser essa a eternidade.


Temos tanto medo do desconhecido quanto tinham medo da escuridão os nossos precedentes antes do domínio do fogo. Havia riscos lá fora, na imensa escuridão que cobria o mundo. A luz trazia o conhecimento do perigo, da sobrevivência. O medo do desconhecido, de um outro lado (seja da rua, do bairro, da vizinhança, de um outro país) é sempre forte, sempre companheiro da escuridão.


Hoje mesmo ouvi de uma pessoa que não pode haver nada pior do que a perda de controle do cérebro. Quer dizer, ela não me disse exatamente nessas palavras. Me disse que os problemas de cabeça são infinitamente piores do que quaisquer outras dores físicas. Piores até que o Big C, talvez. Concordo. Uma perna dolorida, um joelho que bambeia, um braço com tendinite ou um coração fraco são todos, à sua maneira, administráveis. Porque conhecidos. Sabe-se lhes a origem, o eventual tratamento e os riscos inerentes. Agora, quando o cérebro se lhe dá de ter descompassos que ponham em perigo o cotidiano, a normalidade, todos temos pavor. Receio de que enlouqueçamos? Pode ser. É o medo do desconhecido. Porque não se tem controle sobre o cérebro. De forma alguma.


Ao assistir "The Big C", constatei uma vez mais que lidamos mal e porcamente com o fim prescrito da vida. Ainda que saibamos que há limitações físicas e vamos todos na mesma direção, estou para encontrar um ser que me declare corajosamente querer saber o dia e hora exatos do derradeiro arquear de sobrancelhas.


Posso parecer algo sinistro com tal tema por aqui. Não, lhe asseguro que temo tanto quanto você a foice da Velha Dama. E que tampouco quero saber de datas. Sai! Queria era ter um conhecimento amplo. Para saber controlar o cérebro. Para ao menos poder tomar decisões. Mas, isso não existe. O livre arbítrio, portanto, é uma falácia. Apenas um pedaço. Se ao meu cérebro lhe ocorrer de ter vontades próprias que não as minhas, eu já era! Tenho medo do desconhecido. Medo de me perder de mim mesmo. Em tempo: não creio que esteja em processo de enlouquecimento; o medo referido é bem natural ao ser humano.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Meu rugido dominical



Do final do ano passado para o início deste ano, fui acometido de um incrível processo de metamorfose, à moda das borboletas. Não! Não que eu estivesse fulgurante, a bater asas sob o sol a pino, com o esfuziante colorido das borboletas. Mas, digamos, eu estava em equilíbrio. OK, em perene equilíbrio. Ainda assim, não havia ameaça de mudanças a curto-prazo, para o bem ou para o mal.


Mas, ao contrário das vaporosas borboletas, a minha metamorfose se processou de forma totalmente inversa: de uma borboleta pesada, a praticar apenas voos rasantes e curtos, passei a casulo, roliço e com dificuldade contrária à dos insetos. Não de sair da casa, e sim de entrar nela. Casa é, neste caso, as roupas. A casa encolheu e eu me expandi e ante essa contração/expansão, ficamos, casa e eu, incompatíveis.


Tenho para mim que algum duende pervertido se apoderou do meu guarda-roupa durante a minha ausência nas férias e refez todo o acabamento das minhas roupas. Claro que, nessa alfaiataria, o danadinho cortou partes importantes das minhas peças de roupa para incorporar ao seu próprio cajon de sastre.


O que importa é que, de um momento para outro, me vi casulo sufocado. As tramas das calças e camisas insistem em bloquear partes do meu corpo que, por sua vez, insistem em se tornar cada vez mais, e ofensivamente, proeminentes.


Cansado desse jogo de entrelaçamentos, apertos, incômodos físicos e dificuldades impostas pela sobrecarga, tomei uma decisão. A princípio, apenas uma mudança na dieta do almoço: incorporei de vez as saladas e legumes, completei com um grelhado e cortei todo o resto: arroz, feijão, massas, batatas e qualquer outro ingrediente que, às vezes, muita raramente, anima o insosso menu ao qual sou submetido diariamente.


Esse processo começou no final de janeiro. Depois de duas semanas, achei, ingenuamente, que haveria algum resultado. Ao enfrentar um mar verde formado por verduras e legumes que eu, desde a minha tenra idade, rejeito continuamente, pensei que o esforço seria recompensado. O engano foi dolorido. Todas as gramas consumidas em verdadeiros pastos, pastagens e gramas que compõem o tal do cardápio saudável formado pela flora alimentar não resultaram em nada, a não ser numa crescente e irritante sensação de fome.


Decidido a romper o casulo e quiçá alçar voos dignos de borboletas azuis (porque as amarelas ficam no nível do solo), radicalizei e, além da dieta contida do almoço, resolvi adotá-la também no jantar. Estou no começo e sinto calafrios. De medo da fome que se anuncia, rancorosa.


Ontem, por exemplo, almocei tomates e frango. Com sabor de nada, claro. Minha irmã me disse que nós, homens, devemos consumir frutas e alimentos vermelhos. Não a carne vermelha, e sim os alimentos vegetais vermelhos. Pode vinho, a bebida? Não, apenas vermelho, as frutas. Oras! Odeio tomates, sejam verdes, vermelhos, fritos ou secos. Odeio cáqui, odeio maçã. Talvez odeie menos morangos. E olha lá.


Saí para jantar disposto a não romper com o pacto vegano-diabólico feito comigo mesmo. Mas, eu não tinha ideia do que estava por vir. Fui a um restaurante de nome francês e porções idem. O prato, claro, de francês não tinha nada e tinha tudo, simultaneamente. Comi uma entrada de pequenas torradas, minúsculas, com patê de azeitona preta e extrato de anchovas. Sim, extrato, porque as anchovas, porventura, talvez estivessem a nadar despreocupadamente nos mares enquanto eu as tentava pescar no meio de um mar negro de azeitonas.


Se bebi? Sim. Uma caipiroska de frutas vermelhas que, esgotado o líquido, revelaram-se parcamente existentes no fundo do copo. Muito gelo, alguma vodka e pedaços isolados de framboesa e amora. Nada suficiente para atingir a porção diária dos tais alimentos vermelhos prescritos pela minha irmã.


Finalmente, exaurido e faminto, fui ao prato principal. Havia carne. Mais frango e de vaca. Rejeite-as, orgulhosamente. Fui direto nas quiches. Minha amiga escolheu uma de queijo de cabra. Eu, do alto da minha prepotência recém-adquirida de consumir o mínimo, optei pela quiche de shitake, delicados cogumelos japoneses que têm gosto de nada.


Chegaram os pratos e, com eles, um enorme rendado verde. Eram alfaces a ocupar quase todo o território do prato. Precisamente, dois terços do prato. A quiche vinha junto, tímida, quase a se desculpar por invadir aquela mata selvagem de alfaces. Mas eu fui forte: devorei quiche e alfaces como se fossem finas lascas de foie gras com um maravilhoso pão de ervas finas levemente adocicado. Não satisfeito com essa demonstração de bravura indômita, devorei as alfaces da amiga, que as rejeitou como se elas fossem ervas daninhas e venenosas.


Cheguei em casa com ganas de comer portas, janelas e paredes, e deixar intocadas apenas as plantas que decoram o apartamento porque já estou farto da cor verde. Me acalmei, tomei um litro de água, joguei FarmVille (que me atiçou a fome ainda mais, por incrível que pareça) e me quedei imóvel diante da TV. Vi alguns filmes que, ironicamente, traziam cenas de comida.


Antes de dormir, com um monstro no estômago a me rugir impropérios, assaltei o parco conteúdo da geladeira, esvaziado já na intenção de não prover de tentações este ser que vos escreve. Havia água de coco e, possuído, esvaziei meio litro. Não me satisfez. Tive impulsos de correr ao supermercado e comprar leite condensado, barras de chocolate, derivados de amendoim, refrigerantes, pudins, sorvetes de quilo! Não fiz nada. Deitei, maldisse a minha má sorte e dormi o sono dos famintos. Devo ter sonhado com carneiros e os abatido num glorioso churrasco, provavelmente.


Hoje, refeito do surto, tomei apenas café puro com torradas. Pequenas, tão escassas que tive até pena de devorá-las. Mas, diante do mandamento da cadeia alimentar, fui mais forte e as venci. No almoço, cozinhei sem vontade brócolis e comi, comiseradamente, com peito de frango. Ambos, brócolis e frango, com gosto de papel. Os peitos de frango são um caso à parte: parecem fiapos de panos de prato de tão insossos.


Não gosto nem um pouco de alimentos integrais: arroz, pão, pastas. Aliás, exceto quando me dizem que vou receber dinheiro integralmente, costumo odiar a palavra integral. Se sou íntegro? E isso lá importa a essa altura? O que importa é que, vencido os primeiros obstáculos, pretendo fazer acontecer a metamorfose. Até quando? Até eu conseguir sobreviver com as indefectíveis alfaces e água, feito aquelas experiências de feijão no algodão. OK, corro o risco de ficar verde-musgo. Corro o risco de ter alucinações e enxergar picanhas e galinhas fumegantes a cada vez que ver o sinal piscar ou ler as mensagens no celular. Corro o risco de desmaiar, até. Mas vou seguir bravamente e tentar desbravar o sertão selvagem e verde desse reino vegetal que eu tanto odeio. Se eu for vencido, o serei pela fraqueza e, talvez, bem lá no fundo, animado pela sobrevivência. Porque, se nem de pão vive o homem, eu acrescento que não apenas do pão, mas também da carne, dos cremes, das frituras, do Mercado de La Boqueria inteiro. Ao menos este homem que vos escreve é assim, nascido para devorar.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Ordinariazinhas


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O cliente sempre tem razão

No domingo, defendi que as redes sociais exercem papel limitado no levante árabe que começou na Tunísia, passa pelo Egito e deve fazer estragos em mais uma dúzia de nações entre o Oriente Médio e a África.


E creio mesmo nisso. Facebooks e Twitters da vida agem, nessas sociedades dominadas por governos déspotas, apenas como ferramentas iniciais. Depois, é como se o povo pegasse a própria revolução pelas mãos e a conduzisse. Sem redes sociais. E sem redes de proteção também.


Mas, se existe um caso - limitado, claro, a sociedades nas quais é possível se manifestar livremente - em que a internet - e redes sociais - definitivamente consegue colocar o cidadão consumidor com a boca no trombone, e que trombone!, é quando a pessoa, qualquer que seja e desde que tenha um mínimo de informação e acesso, se posiciona publicamente por meio das redes - que pode ser um vídeo no YouTube, uma postagem no Facebook ou no Twitter ou até mesmo o estabelecimento de um blog - e consegue se fazer notar pelas marcas.


Dois casos - um brasileiro e outro norte-americano, com os respectivos vídeos postados abaixo, ilustram isso. No caso do Brasil, o consumidor adquiriu uma geladeira Brastemp e depois de três meses de problemas, sem a respectiva solução, resolveu postar um vídeo e alardear todo o tratamento que a marca lhe deu (e não deu, principalmente). O resultado é que o barulho repercutiu tanto que a Brastemp teve que tomar providências. Algo tardias, registre-se. O vídeo, postado no final de janeiro deste ano, tem mais de 420 mil visualizações. Mas, esse caso abre um excelente precedente para o consumidor e também é um alerta para as marcas - todas, de todos os segmentos - que continuam a tratar consumidores como se fossem lixo.


No caso norte-americano, um músico gravou e postou no YouTube um engraçado vídeo no qual relata como foi maltratado pela United Airlines. Lá, a repercussão foi ainda maior e fez com que algumas normas dentro da companhia aérea fosse alteradas. Postado em julho de 2009, o vídeo já contabiliza mais de 9,9 milhões de visualizações. Obviamente, a imagem da United Airlines nunca mais foi a mesma depois disso.


Ao ler o jornal, descobri que existe um termo que designa esse tipo de comportamento pelo qual o consumidor usa os meios sociais para se fazer ouvir, quando os canais convencionais - atendimento, lojas físicas, e-mails ou qualquer outro - já não são suficientes para lhe dar respostas. O conceito é denominado "consumer generated media - CGM" (mídia criada pelo consumidor) e foi cunhado pelo marquerteiro Pete Blackshaw, autor do livro "O Cliente É Quem Manda". Trata-se de como, no mundo da internet e das redes, as empresas devem interagir com esse usuário midiático que tem a ferramenta (redes sociais) nas suas mãos para produzir conteúdo próprio (seja uma reclamação ou qualquer outro conteúdo).


Creio que estamos longe ainda de um mundo ideal em que seremos respeitados pelas marcas e empresas das quais consumimos a produção. Para finalizar, eu mesmo fui vítima de como uma empresa (ou marca) deixa a desejar quando se trata de qualidade. A marca em si, American Airlines, atrasou, no conjunto de voos, quase quatro horas e não foi capaz de se explicar e nem ao menos oferecer água ou qualquer outro conforto para os passageiros. Eu bem poderia ter tido a ideia, durante o tempo em que fiquei confinado na minúscula poltrona da classe econômica, de registrar com o meu telefone e postar depois no YouTube. Seria mais um CGM a ilustrar o desrespeito generalizado das marcas com seus consumidores.







segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

American beauty

Foi a minha primeira vez. Antes, houve, pelo menos, uma meia dúzia de tentativas. Mal-sucedidas todas. Nem sei direito porque. Até acho que sei. Mas, melhor guardar comigo mesmo. Entrei pela porta mais escancarada. Que descortina todo o resto que vem depois de si. Sem expectativa alguma. Juro!


O arco da entrada foi a meca latino-americana. Miami. Em português, dá para fazer jogo de palavras com me ame. Prefiro não. Porque não foi assim, um amor à primeira vista. Não mesmo. Em quatro dias de Estados Unidos, lhe asseguro que nada me conquistou. O decantado american way, na minha talvez embaçada visão, vá lá, não passa de uma moldura plástica bem feita para vender o produto.


Cheguei por Miami, fiquei quase quatro horas dentro do aeroporto. Pode chamá-lo de portal latino-americano. Ouvi 90% espanhol, 5% português, 3% de outras línguas e uns 2% de inglês. Dos EUA. Voei de American Airlines e a companhia faz jus aos comentários no Facebook e Twitter de ser péssima. De Miami, fui para Orlando. Antes, porém, direito a duas horas de espera dentro do avião porque alguma porta de algum compartimento não fechava. Disseram que era a porta das refeições. Não nos serviram nem água. Como se fossemos todos imigrantes clandestinos a atravessar a aridez com a fronteira EUA-México. Talvez, aos olhos da AA e aos dos norte-americanos, não passemos mesmo disso. Um bando de clandestinos regularizados pela força do visto que querem (segundo a ótica deles) viver no país.


Fui para a terra da fantasia e, sem dúvida, fosse eu a escolher o meu destino, teria ido para Nova York ou para Boston. Jamais para Orlando e para a Disney. Mas, eu fui a trabalho. Em Orlando, cheguei atrasado - eram seis horas a mais já em relação ao roteiro original. Esperei mais um pouco e fui de micro-ônibus para aquela terra absurda concebida por Walt Disney.


Fiquei no Dolphin Hotel, sobre o qual, encimado no topo da entrada, um gigantesco golfinho goza de posição privilegiada. Na outra extremidade da edificação, há o Swan Hotel, sobre cujo topo igualmente repousa um enorme cisne. A visão não me animou nada. Antes, me assustou a cafonice.


Foram quatro dias, de domingo a quarta. Foram dois dias intensos de evento, no qual os norte-americanos corresponderam à minha expectativa plenamente: uivavam nas falas dos grandes executivos, sorriam, conversavam, planavam feito cisnes e jorravam alegria feito golfinhos.




(O ator Kevin Spacey na abertura do evento o qual eu cobri; Spacey é o protagonista do filme 'American Beauty' ou, no Brasil, 'Beleza Americana')

Terminado o evento, voltei a Orlando na quarta-feira. Na Disney, não tive tempo para nada absolutamente. Apenas antevi da minha janela a imensa bola que caracteriza o Epicot Center. Nada mais.


Em Orlando, fui ao Florida Mall, templo do consumo norte-americano exatamente como se vê nos filmes e como se imagina. Sim, estão lá todas as grandes marcas americanas. GAP, M.A.C., Mac/Apple, J.C.Penney, Macy's, MM, Dillard's, CSV e outras, tantas que se perde o fio da meada e a própria meada.


Não, não fiquei extasiado. Apenas constatei que, se há um mercado consumidor, ele existe e fica nos EUA. Uma surpresa: não há calçadas. Questionei o taxista e ele me disse: porque não há pedestres. E não há mesmo. Todos andam de carro. Todos os carros, de novo uma infinidade de marcas. Algumas as quais eu jamais sonhei existirem. Precisei tomar um táxi para chegar do lado oposto do Florida Mall, na Best Buy.


Queria um livro e, entre tantas mercadorias, foi a única coisa que não encontrei. Me disseram, os taxistas, que em Orlando fecharam duas grandes livrarias recentemente. Uma dentro do Florida Mall e outra ali perto. Sobrou apenas a Barnes & Noble. Na qual também não achei o livro. Me disseram também que é porque os americanos andam a consumir apenas e-books, os livros digitais, lidos em e-readers e tablets como o iPad. Duvido.


A comida americana me causou, desculpe, asco. Do começo ao fim. O café, intragável, me fez ter dores de estômago. Come-se qualquer coisa e me parece que nada tem gosto efetivo de comida. Sabe do que gostei? Os americanos não dão um passo sem dizer excuse-me (com licença) ou sorry (desculpe). E thanks for everyone! São educados. A diferença é visível no voo: de Miami a Orlando, na ida, havia mais americanos. Na volta, havia mais brasileiros do que assentos. Claro que o voo com americanos foi muito mais ameno.


Na viagem de volta para o Brasil, a American Airlines provou que é mesmo de uma falta absoluta de qualidade: mais duas horas dentro do avião por um outro problema não-identificado (para nós, passageiros). As comissárias não serviram água de novo. Deve ser uma espécie de rito: deixe que morramos de sede porque assim morre também um eventual desejo de voltar ao nosso país (devem pensar, não sei).


Em relação ao Brasil: tudo funciona, exceto a American Airlines. As estradas são bem pavimentadas e há quase um ônibus para cada dez passageiros dentro da Disney, para levar as pessoas de um parque para o outro. As ruas são limpas e o tráfego flui. Tudo é bem sinalizado.


Existe um profissionalismo em tudo que não vejo no Brasil de forma alguma. Mas, quando desembarquei em Cumbica, Guarulhos e vim para São Paulo pela Ayrton Senna e marginais, vi todas as diferenças gritantes. Mas, lhe juro, respirei o poluído ar da cidade com a satisfação de estar aqui. O american beauty, por mais bonito que seja, me pareceu extremamente artifical e fake, desde o golfinho e cisne do hotel até a pasteurizada alimentação. Fico com o Brasil e, para contrapor ao jogo de palavras com Miami, com relação à antiga exortação dos governos militares brasileiros "Brasil: ame-o ou deixe-o", digo ao povo que fico, e o amo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Meu rugido dominical



Até este domingo, 6 de fevereiro, eram oito os países do Oriente Médio que estavam em diferentes fases de crises e conflitos: Tunísia (que deu início à onda de protestos no mundo árabe), Argélia, Líbia, Egito (no qual a adesão massiva da população é mais patente), Líbano, Jordânia, Territórios Palestinos e Iêmen. Em diversos graus, cada um desses países, rigidamente dominados por governos muçulmanos e totalitários, está num nível em que as perspectivas - de vida, de emprego, de saúde, de liberdade de expressão, de evolução social - são de zero para números negativos.


A degradação e a pobreza desses países e a incessante opressão, conduzida sob o nome de Alá, acabaram por resultar na imolação de um camelô na capital tunisiana, Túnis, que, feito rastilho de pólvora, provocou a convulsão em cadeia de toda a região.


As primeiras reações foram tipicamente aquelas tomadas por governos ditatoriais: repressão policial, corte das comunicações - TV, internet, telefone -, e censura, com violência, sobre a imprensa estrangeira. Uma situação déjà vu em muitas outras regiões deste planeta.


Uma onda similar ao tsunami que acossou uma outra parte do globo na Ásia e em parte da África em dezembro de 2004, quando mais de 300 mil pessoas morreram, tomou conta de parte, de novo, da África e de um pedaço do Oriente Médio. Ambas as regiões, observe-se, dominadas, sobretudo, pela miséria e pela falta absoluta de perspectiva.


Exceto pela Arábia Saudita, Emirados Árabes, Qatar, Bahrein (o país proporcionalmente mais rico do mundo) e Kuait, os países atualmente envolvidos na revolta árabe e mais o Marrocos, Mauritânia, Líbia, Omã, Síria, Somália, Sudão, Djibuti e Ilhas Comores estão em algum processo de revolta, silenciosa ou não. São, todos, majoritariamente, muçulmanos.


Isso não significa que a religião os torne mais oprimidos e menores ante os demais países do mundo. Não, ao contrário, o mundo árabe é responsável por uma série de grandes invenções e de processos que deram origem ao que chamamos de sociedade moderna hoje. Significa que os respectivos governantes - famílias ou clãs poderosos que, vindos das mais arcaicas tribos árabes, dominam sob o inclemente calor do sol e a peso da areia toda aquela vastidão.


Mas, um povo não sobrevive de cânones religiosos. Vive de pão e de água. E se não os há, ou se os há insuficientes, não demora que o levante se estabeleça. Isso é histórico e diz muito sobre os processos políticos que levam a massa a se subelevar. É isso que tem dado o combustível aquelas áridas areias produtoras das maiores fontes de petróleo do mundo. Apenas isto.


Meu protesto particular aqui é apenas pela forma como o mundo ocidental, tão auto-declaradamente democrático, se porta. Como de resto, em outras situações similares. Mais particularmente, chamo a atenção para o papel da mídia estrangeira, a grande imprensa mundial que, efetivamente, filtra a história.


Os grandes meios de comunicação, notadamente grupos norte-americanos e europeus, glorificaram o papel das redes sociais - Twitter, Facebook, YouTube - como ferramenta da revolta árabe. Assim como aconteceu no Irã no ano passado, o mundo colocou a internet e as social networks como responsáveis por essas manifestações que atingem escala mundial. Besteira!


Como a primeira providência desses governos é cortar o acesso à internet e a outras formas de comunicação, e dada a total falta de infraestrutura para que os organizadores dos protestos se reorganizem, é evidente que as redes sociais têm pouca influência no processo. São, sim, meios. Mas, o gás que move as pessoas é a busca por perspectivas, e não os meios tecnológicos que as reúnam em torno desses mesmos objetivos.


A mídia ocidental recolheu-se e esperou que aparecessem as primeiras vítimas fatais. Covarde, assim como o fez no Irã, repetiu o mesmíssimo comportamento. Primeiro, não deu atenção e, sobretudo, não conseguiu nem antever os movimentos que precederam a revolta. A grande mídia pouco se lixa para sociedades consideradas, por essa mesma imprensa, medievais. Um único interesse move imprensa e governo, juntos: o econômico. Quando os levantes indicam consequências financeiras, como o aumento do barril de petróleo ou eventuais incêndios nos poços produtores (lembre-se do Iraque), aí sim a grande mídia mundial - CNN, News Corp., The New York Times, Guardian, ABC, CBS e umas outras tantas se envolvem.


Faço uma única restrição, honrosa, a todos esses manipuladores da história mundial: a TV Al Jazeera, que transmite em inglês e árabe. A TV do Qatar é o único veículo que conhece a região e é capaz de fazer o relato isento. Não é à toa que, no Cairo, Egito, o escritório da Al Jazeera foi devidamente saqueado e incendiado e seus jornalistas, presos.


Enquanto a mídia fizer par com governo - e isso vale para os EUA, Europa, Brasil e qualquer outra região na qual imprensa e poder público se unem ao redor de semelhantes valores -, dificilmente as pessoas conseguirão elevar suas vozes. As redes sociais? São, repito, ferramentas que, como foices, enxadas e machados, podem ser usadas precariamente. E é só. O mérito está nas pessoas, e não na internet ou em qualquer outro meio.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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