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sábado, 29 de janeiro de 2011

The book is on the table

Nos 15 dias que estive de férias entre o final do ano passado e o início deste, aproveitei, como sempre o faço no meu tempo livre, para dar cabo de alguns livros que ficaram relegados à poeira.


Antes que eu desse cabo de todos, alguns deram cabo de mim pela força. Mas, eu não me canso. Insisto em navegar nas linhas, na literatura que tenta explicar tantos porquês, tantos hiatos, dúvidas, traições, comportamentos.


Dos cinco livro que li, três foram suficientes para me causar inquietação, que é o que busco nos livros. Que me façam pensar e, se possível, ir além, cada vez mais além da mediocridade. É nos livros, sempre, que encontro um sossego ante o desassossego da vida cotidiana. Embora pareça uma contradição, ainda que o livre gere novas e desavisadas reflexões, é no terreno da literatura que melhor me encontro. Aos livros.



 - 2666 (Roberto Bolaño - editora Companhia das Letras - 852 páginas): esse catatau de páginas, na verdade, não é apenas um, e sim cinco livros. Embora inacabado, é considerado a obra-prima do escritor chileno, morto precocemente aos 49 anos. Originalmente, foi concebido para ser cinco livros diferentes. Com a saída de Bolaño de campo, talvez os editores acharam melhor concentrar tudo num só lugar. Inacabado ou não, um ou cinco livros, é, realmente, um livro de fôlego, o qual se lê sem fôlego horas a fio. Nem vou dizer que se lê esse livro sem parar porque não é verdade. Comecei lá atrás, em meados de 2010, e somente o concluí ao raiar deste ano. O nome do livro, 2666, é um mistério. Não houve tempo hábil para que o escritor o explicasse e pipocam hipóteses. Mas, o que importa mesmo é que o livro é, sim, muito bom. Começa com a investigação de um escritor recluso, passa por uma série de assassinatos no México e termina com a história do misterioso escritor. Muito bom. Leia.




- Lugar (Reni Adriano - editora Tinta Negra - 111 páginas): tamanho, efetivamente, não é documento. Com 1/8 de páginas em relação ao 2666, Lugar é uma pequena obra-prima do escritor brasileiro que foi revelação em Minas Gerais em 2009. É um livro mítico, de mitos fundadores, da violência com que se engendram os mitos. É reinvenção da roda, da língua portuguesa, da literatura brasileira. Novidade sim. Novo. Desde já, clássico. Recomendo muitíssimo. As palavras não são emitidas. São escandidas. Feito barba cerrada. "Cale-se! Afasta de mim esse pai". A ressonância com Chico Buarque, o diálogo que se empreende em níveis duros, profundos. O livro, parece, foi forjado em ferro. Manualmente.




- A Guimba (Will Self - editora Alfaguara - 331 páginas): depois do maravilhoso 'O Livro de Dave', Self volta com este romance irônico sobre o mundo do politicamente correto em que somos despidos nos aeroportos para ir e vir e, sem o direito de ir e vir livremente (estamos presos à liberação ou não de vistos), faz uma metáfora angustiante dessa nova realidade mundial. Não é uma nova ordem mundial. Antes, é uma desordem mundial, que pode ser iniciada com a ponta de um cigarro, a guimba. Self, uma vez mais, é brilhante ao descrever um mundo que, se ainda não é assim, não tarda em sê-lo. A continuar nesta saga, com um olhar avassalador sobre a in/evolução da humanidade, por certo estaremos condenados a nos fecharmos cada qual em claudicantes celas. Preocupante. Livro necessário para entender as dimensões que o 11 de Setembro deu ao mundo.




- Pegando Fogo - Por que cozinhar nos tornou humanos (Richard Wrangham - editora Zahar - 22 páginas): considerado um dos 100 melhores livros de 2009 pelo The New York Times, o livro investiga o que seria da evolução humana sem o fogo para cozinhar a nossa comida. É, antes de tudo, um trabalho científico, de investigação antropológica e sociológica, e avança ao complementar teses de Charles Darwin e de outros cientistas. Wrangham defende a tese de que começamos a cozinhar antes de nos tornarmos homens e que nos tornamos homens justamente porque passamos a cozinhar. O domínio do fogo há um 1,8 milhão de anos, mostra o livro, mudou completamente a história da humanidade e de nós mesmos, humanos atuais. Que somente o somos porque aprendemos (com nossos antepassados, que ainda não eram homens) a cozinhar. Interessante.




- A Cozinha a Nu (Santi Santamaria - editora Senac - 277 páginas): Sanatamaria é um chef espanhol, defensor aguerrido da comida e dos ingredientes naturais. Refuta modernismos, entre os quais a cozinha molecular de Ferran Adrià (que, por ora, fechou o festejado El Bulli, por prazo indeterminado, e também perdeu, no mesmo El Bulli, a companhia do irmão, que prefere a cozinha tradicional). O chef defende a volta ao campo, aos ingredientes de autênticos terroir e desbanca a indústria alimentícia multinacional - Kraft Foods, Nestlé, Unilever e outros conglomerados que produzem enlatados, conservantes, acidulantes e outros artifícios para vender comida cada vez mais anti-natural. É um verdadeiro manifesto contra uma comida falsa que tem um único mérito: criar pessoas obesas ao redor do mundo numa alimentação que padroniza e iguala a comida do Brasil à China. Excelente.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Toda minha



Em números


1. 11,245 milhões
2. 7,384 mil
3. 457
4. 37
5. - 1
6. 134
7. 239,8 mil
8. 1,235 mil
9. 6 milhões


Em palavras


1. Habitantes do município de São Paulo em 2010
2. Habitantes por metro quadrado
3. Anos de existência da cidade de São Paulo, completados hoje, 25 de janeiro de 2011
4. Temperatura máxima registrada na cidade
5. Temperatura mínima registrada na cidade
6. Dias de chuva durante o ano de 2009
7. População da cidade em 1900
8. Homicídios registrados em 2009
9. Veículos registrados em 2008


Sem palavras


!!!!!!!!!! 
???????


Última palavra


Parabéns!

domingo, 16 de janeiro de 2011

Meu rugido dominical



Até às 23:59 horas deste domingo, a macabra contabilidade dos mortos na Região Serrana do Rio de Janeiro chegava a 637 pessoas, número que deve subir e pode chegar a quase 700 corpos conforme avança o trabalho de voluntários, bombeiros e equipes especializadas.


Não sei bem a quem dirigir o Rugido. Aliás, não um Rugido, e sim um lamento, um choro, um som agônico ante tanta mortandade. A pergunta que costuma se seguir a tragédias deste tipo é por que? A segunda pergunta é por que comigo?


Estivesse eu no meio das pessoas que lá estão, certamente é o que eu questionaria. O problema é que várias são as respostas: fenômenos naturais, com intensidade de chuvas em região geologicamente comprometida (num processo de milhões de anos), fenômenos sociais, com ocupação irregular por total falta de alternativa ou, pior, por exploração econômica mesmo, ou, simplesmente, acaso e destino, em que se está no local errado na hora errada.


Não há respostas. Pode haver uma explicação pontual para alguns. Mas, o fato é que não existe resposta para tanta morte. Quase 650 almas extintas, sem a menor possibilidade de sobreviver ante tanta lama que, como larva de vulcão, arrastou pessoas, casas, carros, ruas e cidades inteiras. Ao menos cinco municípios cariocas - Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto -, tradicionalmente ponto de turismo para os moradores do Estado e de outras partes do País, foram tragados pela dor e pela força bruta da natureza.


Não existem repostas. Existem iniciativas, ações e saídas. Que, no caso, foram todas tolhidas. Culpe-se o governo, o próprio cidadão, a natureza, Deus (para os crédulos), o diabo que for. Não há respostas.


Ainda hoje falamos, uma amiga e eu, sobre a precariedade do corpo humano que, cadáver, perece feito fruta podre. E num processo tão rápido que, conforme as normas das sociedades, deve ser enterrado em poucas horas.


Somos assim, os humanos, perecíveis. Somos também tudo o que se vê: solidários, vivos que não choram os mortos, e sim tentam fazer viver sobreviventes. Que alimentam com a saliva um bebê que morre de sede e, como ave filhote, abre a boca sedenta à espera do líquido. Que carrega o cachorro nos braços e, sem saída, deixa o cão se ir na correnteza. Somos assim, solícitos na tragédia. Perdoam-se todos os pecados, todas as pequenas e grandes faltas. Não é hora de fazer balanços do bom e do mau vizinho. É hora de entregar-se, de dar, de ajudar porque é nesse espírito que se encontra sentido para uma vida que se viu esvaziada de sentido.


Solidarizo-me com todos os envolvidos nesta que é a maior tragédia natural do Brasil. Lamento que tenhamos que assistir pela TV os relatos emocionantes de tantos que ficaram órfãos de pais, filhos, tios, primos. Que perderam velhos e novos. Que perderam casas e carros. Que perderam ruas, a vizinhança toda. Que tragédia! Que ano novo é esse?


Sinto muito. Sinto pelos cariocas que foram engolidos pela boca furiosa da natureza. Pelos demais brasileiros que morrem a cada estação chuvosa. O Rio de Janeiro mesmo foi palco de tragédia semelhante no ano passado. Assim como o foi São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e tantos outros. Eventos semelhantes aconteceram na Austrália e não vimos a contabilidade macabra dos corpos contados girar feito uma caixa registradora gulosa.


Que tragédia! Encerro com a mesmíssima questão que aflige a todos: por que?

sábado, 15 de janeiro de 2011

Amy

Daqui a pouco vou vê-la ao vivo. Nesta turné brasileira, na qual pretende se reabilitar (e dá-lhe rehab!), Amy teve, em cada show, um comportamento que oscilou entre nervosa, perdida, trôpega e, quem sabe, até mesmo anestesiada sob o efeito do álcool ou de drogas.


Goste-se ou não dela, e eu gosto, o fato é que se Amy Winehouse não tem presença de palco (eu creio que lhe ficam melhores as apresentações intimistas), sobra voz e as eventuais oscilações são compensadas pelas músicas e talento.


Por enquanto, pouco mais de 18 horas, São Paulo tem tempo bom, sem chuva. Espero que Amy também esteja sob tempo bom, sem nuvens sobre sua cabeça. Ela, que está a poucas quadras aqui de casa, é tudo e, principalmente, instável.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Nude do dia

Hoje, terça-feira, 11, começa o programa Big Brother Brasil 11 (BBB11), da Rede Globo. O formato criado pela holandesa Endemol foi adaptado para o Brasil e aqui deu cria e continua a render audiência e dinheiro para a Rede Globo, detentora da licença do programa.


Como é de praxe entre os participantes, homens e mulheres, à saída da casa seguem-se os inevitáveis convites para posar nus para a Playboy e Sexy (mulheres) e G Magazine (homens... e gays). Mas, desta vez, a fórmula inverteu-se e o recifense Rodrigo Carvalho já posou para a G antes mesmo do BBB11 começar. Se você é uma das pessoas que gosta do programa (eu gosto, admito), pode ver o corpinho do go-go boy (a despeito do papai, Paulo Victor, ex-goleiro do Fluminense na década de 80, defender o filhote e afirmar que o cara não é gay, sabemos todos que go-go boys dançam para e com gays) Rodrigo (não confundir com o outro Rodrigo da casa, o Rodrigão, que, talvez, no futuro, também estampe as páginas da G). A seguir, fotos explícitas do brother e os vídeos dos making of (foram duas aparições na revista, em 2007 e 2008).










segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Lavra, louvor, lavoura, lavar a alma

Terminei 2010 sob a lavra das palavras e começo 2011 ainda não com a lavoura, que essa necessita de cultivo para ser farta, mas, com louvor suficiente para lavar a alma. A passagem de ano, por si só, não significa nada. É apenas uma convenção do calendário gregoriano. Se outras fossem as calendas, como a dos chineses ou dos judeus, nem ao menos no ano novo estaríamos, os seguidores do calendário gregoriano, a matar um ano e fazer nascer outro.


De certo mesmo é o efeito revestido de simbologia que carrega a transição de um ano para o outro. E, daí sim, a entoação do tal louvor, a ourivesaria com as tais lavras de palavras, o cuidar da lavoura que se quer colheita farta, a lavação da alma, como se assim o fazendo, expurgasse com o ritual de purificação os males/sujeiras do corpo e também os da alma, embutida que vai dentro do corpo.


Se me vão os dedos pelo teclado a trovejar lavras sem sentido, digo que, ao contrário, caro/a leitor/a, o sentido está naquilo que o colocamos e, ao ler tanta aliteração de 'l', talvez o sentido lhe brote como a mim me brotam tais sementes que as pretendo cultiváveis.




Por fato, reporto que lavrei: carpi, uma vez mais. A cavalo, tombei sob o peso do corpo um bezerro nascedouro e me vi, repentinamente, numa réplica de manjedoura, sem reis magos a contornarem o campo ou estrelas-guias a me dirigirem. Foi simples assim: três homens, um menino, um gado (nelore, bravio), quatro bezerros recém-nascidos. Eu, depois de uma década sem cavalgar, me vi montado num cavalo que eu o conduzia ou ele a mim, e, ao entrar no cenário de presépio real, éramos, no final das contas, três reis, talvez um pequeno príncipe, a empreender a cura de quatro bezerros de dois ou três de vida. Que não eram de ouro os bezerros. Mas, o era o sol que nos banhava, sol do por do sol, dourado, alaranjado. Uma vermelhidão de sangue até, condizente com a cena que fazia banhar sangue também do umbigo de cada um daqueles bezerros prenhes de vida e, por um fio, um ataque aéreo de uma ave de rapina, chamada urubu, prenhes também de morte.


Encerrado o ritual de bruxaria moderna (a cura por remédio pecuário de laboratório suíço, multinacional), apeado do cavalo, ainda olhei ao redor e confirmei que a visão de manjedoura e três reis caia bem naquele cair do sol. Colocamo-nos os três (e mais o menino, posto que três eram reis e o quarto um príncipe) a cavalo e retornamos à casa.


Caiu a chuva sem aviso prévio e, para confirmar a lavra com que essas palavras são feitas, lavou-nos a chuva a alma, o corpo, os resquícios de bichos mortos pelo veneno suíço de origem, de bezerros curados e de cheiros de pasto e de gado. E talvez de perfumes, ainda que não recendêssemos a incenso, pois que os perfumes costumam escoar dos pequenos e dos grandes frascos sem que consigamos contê-los a contento.


Não foi sem louvor que compreendi e aceitei toda a cena encenada sem a menor pista de que aparentada do natal comercial fosse. Como assim? Não havia luzes, noeis, renas, nada disso. Apenas carneiros, vacas, bois, galinhas. Pastoreio, me entende? Era ou não um presépio?


Louvei o dia, o contexto, a noite negra já de chuva. Mais tarde, me doeram as pernas, condoídas de si mesmas do trotear a que foram expostas sem a devida proteção. Que importava? A cena viera e fora e se desenhara toda na minha frente, ao vivo, em cores, sem artificialidades de um velho barbudo que vem lá do gelo, longe da tropicalidade que aqui viceja.


Foi esta a cena de final de ano e é, portanto, com este conteúdo, este pequeno aparte do real que migro, simbolicamente, para este nascedouro ano de 2011 (no calendário gregoriano, que outros há mais antigos) e te desejo vistas semelhantes à minha, de lavar a alma, por segundos que fossem, que durarão eternos enquanto eu tiver memória para enxergá-los e sentido para os ver se materializarem. Foi assim. Só.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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