Blog Widget by LinkWithin
Connect with Facebook

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Faça caras e bocas porque hoje é dia do orgasmo

Nesta sexta-feira, 31 de julho, celebra-se o Dia Mundial do Orgasmo, data informal criada na Inglaterra por redes de sex shop para alimentar (mais) o consumo relacionado ao sexo. As lojas de sex shop inglesas fizeram uma pesquisa e constataram que 80% das mulheres não atingem o orgasmo nas relações sexuais. No Brasil, estudo equivalente aponta que 50% das mulheres brasileiras têm o mesmo problema. Problema esse que pode originar-se da própria mulher ou do parceiro, já que, apenas no Brasil, 12 milhões de homens, conforme o mesmo levantamento (sem trocadilho), sofrem de algum tipo de disfunção sexual.


O orgasmo (pequena morte, na ótima definição da língua francesa) é a resposta ao auge do intercurso sexual. Tanto o homem quanto a mulher têm orgasmos, simultaneamente ou não. É algo que nos foi trazido, talvez, pela evolução, já que, para fins reprodutivos, é necessário que haja uma espécie de premiação para que ocorra o ato sexual que engravide a mulher e garanta a sucessão da prole humana.


Mas, é meio assim como a definição de Groucho Marx: "tudo o que é bom é ilegal, imoral ou engorda". O orgasmo não chega a matar (pequena morte não é a 'morte'). Mas pode engordar (mulheres) e ser ilegal (depende do país e da orientação). Imoral? Imoral é não fazer sexo. Ainda assim, há casos mais do que confirmados (ver Bill...que kill...) de que algumas pessoas almejam tanto a busca pelo prazer que se esquecem, inclusive, de respirar, e morrem sufocadas (nunca sei se aqueles que morrem atingiram, afinal, o orgasmo ou não antes da morte definitiva). Dura breve segundos, o que é uma lástima. Acho que se durasse muito, ninguém faria mais nada. E pode ser obtido tanto com parceiros quanto solitariamente, pela masturbação.

Fisiologicamente, o orgasmo ocorre por meio da excitação das zonas erógenas genitais, masculinas e femininas. Mas as há, as pessoas taradas, que bastem que espirrem para obter o gozo (inveja). E há aquelas que você pode tratar feito um estilingue (estica e puxa) que, ainda assim, mantêm-se frias feito o Ártico. O orgasmo é revelado, no homem, pela ejaculação do sêmen na maioria das espécies de mamíferos, o que nos inclui.


O prazer é intenso, físico, controlado pelo sistema nervoso, e consiste em contrações musculares, espasmos, euforia, e, conforme a pessoa, pode transformar-se em vocalizações, que nada mais são do que grunhidos primitivos que variam entre notas graves e agudas e, por vezes, pode constranger o(a) parceiro(a), o andar, o prédio e até mesmo a vizinhança. Sei de casos em que foi necessária a intervenção de administradores de condomínios para conter essa referida vocalização. Realmente, algumas pessoas não se contêm dentro de si mesma e precisam compartilhar esse pequeno momento com todos. Nada contra, desde que me convidem para uma festa orgiástica e também eu poderei urrar junto, sem o menor pudor.

Mas a espécie humana é uma coisa: algumas pessoas padecem da ausência de orgasmo, a anorgasmia, que é considerada uma doença (o excesso de orgasmo também o é). Homens e mulheres têm orgasmos e isso é uma convenção do humano: cada um o tem de uma forma diversa e, por isso, na minha opinião, há tanta insatisfação, notadamente da mulher.


O homem goza e acabou-se. Vira para o lado, fuma (se fumante) e dorme. O corpo da mulher processa o orgasmo de outra forma e o ciclo de prazer é mais extenso (com picos, os chamados orgasmos múltiplos). Como um (homem) vai para o reino de Morfeu e a outra (mulher) permanece no reino dos mistérios gozosos, claro que perde-se algo entre um reinado e outro. E esse impasse tampouco pode ser sanado entre casais gays, sejam homens ou mulheres, porque, na verdade, cada ser é único e nem por decreto real ou bula papal que encontraremos no(a) outro(a) a completa realização de cada desejo.

Mas, em busca do prazer, tentamos e fazemos, sempre. Às vezes, calha de encontrar o(a) parceiro(a) mais ou menos ideal. Outras, fica-se na mão, literalmente. Existem algumas classificações de orgasmo:


- Múltiplo: como já citei acima, a mulher é majoritária nesse tipo de prazer mas os homens, na pré-puberdade, também podem tê-lo. O que é uma surpresa para mim. Desagradável, quero deixar claro, pois passei da pré, da puberdade e da adolescência e, portanto, efetivamente, não posso testar essa teoria e dizer se é verdadeira ou não.

- Espontâneo: é o do espirro que escrevi acima. Independe de prévia estimulação. Pode ocorrer em pessoas que sofreram lesões na medula espinal e, ao que parece, algumas drogas antidepressivas (Fluoxetina já!) podem provocá-lo também. Um atchim! e... já era! Bom para quando não temos tempo e o tesão apela.

- Vaginal: quando a mulher tem orgasmo sem que seja estimulada no clitóris. Há controvérsias. Mas sempre as há.

- Anal: decorre da estimulação do ânus, com o pênis, dedo ou um brinquedo apropriado. Alguns usam objetos estranhos e vão para o hospital, em flagrante delito e transformam-se em motivo de galhofa, risadas e piadas. Todo CUidado é pouco.

- Mamário: ocorre com a estimulação dos seios da mulher. Mas também depende de cada mulher. Umas sentem, outras não estão nem aí. Embora os seios estejam, lá, à deriva.

- Seco: é apenas um sopro, um puff! e já era também. É raro mas acontece. É o orgasmo sem esperma, e não o orgasmo sem ejaculação, que é outro processo. No caso, creio que o orgasmo seco é bom para momentos em que você se vê privado de intimidade e deve fazê-lo em público. Uma pena que não é controlável. Espero que a evolução progrida o suficiente para que esse tipo de orgasmo seja facilmente acessível.

- Simultâneo: se o orgasmo seco é raro, o simultâneo - 'vamos chegar juntos' - é mais raro ainda. Palavras minhas, e não de estudos. Teoricamente, é o objetivo, enfim, do orgasmo: que os parceiros, sejam quais forem, o atinjam juntos. Na prática, acho que nem sempre é assim.


Depois dessa aula de sexo, desejo a você, hoje, Dia Mundial do Orgasmo, e amanhã, depois, sempre, que você consiga atingir o seu, seja seco, molhado, múltiplo, solitário ou primitivo (aquele que envolve grunhidos e gemidos, semelhante a uma luta). Faça, se necessário, caras e bocas. Contorça-se, exiba a agilidade corporal, alongue-se feito um estilingue. Mas goze. Goze rápida ou demoradamente mas goze. Porque o momento é breve, de pequena morte, e depois acabou. Pode não ter mais. De qualquer forma, você sempre tem a você mesmo(a). Feliz dia do orgasmo! Só por curiosidade: você já teve o seu hoje?

quinta-feira, 30 de julho de 2009

L'homme graisse: de patinho feio a foie gras

Você sabe o que é foie gras (fígado de ganso)? Reformulo: você entende o conceito do foie gras ou de como se obtém o gordíssimo e caro fígado de ganso? Eu, além de compreender o processo, o absorvi de tal sorte que sou eu o ganso da vez. Quer dizer, l'homme graisse ou, em chucras palavras, o homem gordo.

Pior: sou o homem do fígado gordo, o que vem a ser, portanto, algo como l'homme foie gras ou, ainda, em definição oportunista, l'homme foie gras de canard (que seria algo como 'o homem de fígado gordo de pato'). Mas está confuso, assim.


Eu hei de melhorar. Vamos lá: o meu fígado está recoberto por uma camada de gordura, o que equivale dizer que, nesses tenros (e gulosos) anos primaveris, outonais e agora invernais, construí, calmamente, uma capa de gordura que recobre o meu próprio fígado.

Claro que não fiz isso conscientemente (um pouquinho, talvez, já que ouvi, até agora, três vezes a fatídica frase: "Você é o que você come"). Bem, a hora não é muito apropriada para dizer se cheguei a essa estranha evolução de homem para ganso de forma consciente ou não. Também não vou entrar em detalhes, né!



O que se apresenta é, inexoravelmente, um paradoxo: devo eu transpor o macio reino das penas e, de patinho feio (eu era magrelo, ai que raiva!), passar a ganso gordo ou, afinal, a pato, daqueles que andam a bombolear o corpão como se paquidermes de penas fossem? Mais um pouco e me vejo servido em pomposa mesa de jantar francês. Por Napoleão que nunca aspirei a virar fígado gordo!!!

Você percebe que, a despeito do tema do post ser, prioritariamente, saúde, eu fiz que fiz e fiquei quase que apenas na gastronomia? É essa a raiz de todo o mal que me aflige. Fazer de tudo uma transliteração de comida, enfeitar a mesa e bancar o espertinho.


Mas a esperteza perde, no caso. Fui devida e incisivamente orientado a mudar minha postura diante da vida que se segue depois da estapafúrdia informação de que disponho de um fígado de ganso, e não mais de uma víscera humana, como vocês: dieta rigorosa, menos (ou nenhum) cigarro, pouquíssima (deve ser uns 10 mililitros) bebida, distância medida em anos-luz entre o açúcar e eu (por Zeus que maldigo o humano que inventou o doce) e uma vida cheia de comedimentos e sem condimentos.

Credo que meu mundo caiu (antes, o fígado já havia, pelo que entendi, perdido qualquer referência que tivesse em relação à sacrossanta lei da gravidade). Ainda que eu tente afrancesar e gracejar essa capa de gordura que resolveu hospedar-se no meu fígado, explico, exatamente, o que é a gordura no fígado do humano. Chama-se esteatose hepática (tenho pavor do nome 'hepático') e consiste em infiltração de gordura no fígado. A princípio, essas pequenas infiltrações agem como filamentos de água nas paredes: provocam pequenas reações clínicas (arquitetônicas, se for parede) como dor e desconforto abdominal. Para isso, é necessário que se faça um exame ultrassonográfico, que revela, desde logo, as danadas das infiltrações. Eventuais aumentos do fígado também podem indicar a presença de infiltrações.


A causa mais comum da esteatose hepática é a (argh!) obesidade! Alguns sintomas como refluxo, azia, queimação no peito ou semelhantes podem dar uma ideia do que escrevo. Outro detalhe bastante importante: muitos diabéticos têm esteatose (aliás, os sintomas da esteatose podem vir associados aos sintomas da diabete).


E, olha só o que faltava para completar o fulgurante quadro do patinho feito que virou, que pena!, apenas um ganso (ou pato) gordo: pessoas (não que eu me identifique com elas) que fazem uso frequente do álcool também pertencem ao grupo de risco e, por tabela, a esteatose pode evoluir (nesse caso, a evolução poderia dar marcha ré) para hepatite, cirrose e câncer de fígado.

Tanto o diagnóstico quanto o tratamento estão relacionados primeiro ao profissional de saúde (gastroenterologista e endocrinologista) e, depois, ao próprio envolvido e (eventualmente) interessado em sanar o precário estado de carregar fígado encapado.


Suponho que, depois de devidamente informado de tudo isso, serei reduzido ou a um sujeito consciente, inteiramente capaz de absorver o impacto e combater essa 'foieasização' de forma eficaz ou, sobrepujado pelo peso da gordura, me transformarei em pato feio, e não naquele glorioso cisne que plaina sobre as águas, completamente alheio a fígados, gorduras, dietas e cardápios franceses. Mundo cão em terreno de penas, este! Odeio muito tudo isso.

Voltei!!!


O "já" do "vou ali e já volto" não foi tão breve como eu pensava. Debandei eu, debandaram os(as) leitores(ras). Bem-feito pra mim! Mas, volto ao dia-a-dia e, com isso, à atividade rotineira deste blog.


Para quem não sabe, este blogueiro fez aniversário no último dia 28 (na segunda-feira) e, como leonino, mui me apraz comunicar o fato. Ainda que não tenham sido exatamente primaveras - que estão mais para outonais - celebrei o meu aniversário com a minha família. O que eu não fazia há anos.

Volto já! Sim, desta vez, é já mesmo, ainda hoje, com atualizações.

Prazer em tê-lo(a) aqui novamente!

sábado, 18 de julho de 2009

Vou ali e já volto!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Juliana Paes, uma dalit brasileira

"Em tempo de guerra, a primeira vítima é a verdade", disse o jornalista norte-americano Boake Carter (pseudônimo de Harold Thomas Henry Carter). A mídia, em geral, vive em permanentes guerras com as celebridades ou proto, pseudo e aspirantes a famosos, seja por meio de críticas, perseguições (paparazzos) ou na cobertura oficial ou oficiosa (preferencialmente).


A mídia que cobre a classe artística e os artistas vivem uma ambígua relação de amor e ódio. A primeira fornece ao público, com exagero ou não, aquilo que as pessoas querem: a intimidade dos famosos. A segunda, formada pelas celebridades, morde e assopra: ora está em caso de amor com a mídia, ora entra em confronto.


Se, em tempo de guerra, a vítima é a verdade, eu acrescento que, se a vítima é a verdade, o meio, que é a imprensa, é o primeiro a ser calado. É o que acaba de acontecer com o colunista do jornal Folha de São Paulo José Simão. O jornalista mantém coluna diária na Folha e acaba de ser proibido por um juiz de fazer referências à atriz Juliana Paes (que vive a personagem Maya, de "Caminho das Índias", da Rede Globo), sob pena de ser multado em R$ 10 mil a cada nota em que veicular quaisquer dados sobre a protagonista indiana da novela global.


Juliana moveu duas ações de indenização: uma contra a Folha e outra contra o próprio José Simão, sob a alegação de que o colunista "publica reiteradamente nos meios de comunicação em que atua, sobretudo eletrônicos (internet), textos que têm ultrapassado os limites da ficção experimentada pela personagem e repercutido sobre a honra e moral da atriz e mulher e sua família", conforme detalha parte da ação.


Tudo partiu do fato do colunista ter falado sobre a 'poupança' (bunda, nádegas) de Juliana. Segundo o juiz, no entanto, José Simão teria extrapolado as observações sobre a atriz ao "jogar com a palavra 'casta'" ao dizer que Juliana "não é nada casta" e ofendido, assim, a moral da mulher Juliana Couto Paes, seu marido e família. Ao que Simão responde que "é censura. A pessoa não pode determinar quando e o que falar dela. Isso tolhe totalmente a liberdade de expressão".


Bem, para mim, é bastante semelhante quando o senador José Sarney (e #ForaSarney!) alegou que não podia ser julgado pelo Brasil ou quando aquele outro deputado (Sérgio Moraes - PTB-RS) disse que se lixava para a opinião pública. São, todos os três, casos equivalentes em cerceamento à liberdade de expressão: Juliana, Sarney e Moraes são pessoas públicas e não podem querer ficar acima do comum das pessoas. Não podem e não ficam. Ainda que se aferrem aos cargos (caso de Sarney e Moraes) como imãs presos em geladeiras.


Mas no caso de Juliana Paes, há uma diferença: a atriz ou a mulher, não fica claro, sentiu-se ofendida porque o colunista insiste em chamá-la de 'não casta' e de fazer referências aos seus glúteos, tão familiares ao público quanto o é o rosto da atriz.


O engraçado é que 'casta' designa justamente a divisão de classes sociais da Índia. Casta é também uma pessoa pura, virginal, uma donzela, enfim. E, nesse jogo de palavras, a Juliana atriz vive "Maya", uma indiana de casta superior (e não totalmente casta, já que fez sexo com outro homem antes de se casar com o atual marido), que se relacionou sexualmente exatamente com a única casta que lhe era interditada: o dalit Bahuan (vivido pelo ator Márcio Garcia).


Ao entrar com uma ação para que a imprensa se cale e tolher, uma vez mais, a liberdade de imprensa, Juliana Paes torna-se, ela própria (a mulher, e não a atriz), uma dalit: intocável. Não deve ser tocada e nem à sua fictícia personagem pelo jornalista. É uma dalit ao contrário. "Se você me tocar, você pagará por isso", diz, nas entrelinhas, a atriz. Portanto, voltamos, na imprensa, à época do regime militar, quando se intimidava a mídia com a censura velada ou não a qualquer tipo de expressão. Dessa vez, a censura reaparece por meio de um processo de 'dalitização' de uma (?)celebridade global que deve se colocar em casta muito superior à dos demais mortais que a cercam, uma espécie de deusa Lakshmi (ou Laxmi) e, mais uma vez, como deusa, inacessível e, dessa forma, intocável, como ela (a atriz e mulher Juliana Paes) assim o deseja.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Um dia de fúria na cidade

As Erínias, deusas violentas e temíveis que confrontavam os demais deuses e eram temidas inclusive pelo todo-poderoso Zeus, número 1 do Olimpo, descenderam, elas próprias, de um ato trágico e violento: Cronos, o deus grego do tempo, era filho de Urano (Céu) e de Gea (Terra), e irmão dos titãs. Gea pediu ao filho Cronos que cortasse os testículos de Urano, seu pai, com uma foice que ela mesma arranjou para praticar a atrocidade.


Cronos cortou os testículos de Urano e, das gotas de sangue que se esvaíram, nasceram as Erínias que, mais tarde, seriam reconhecidas pelas crueldades. Esse é o mito grego. Os romanos incorporaram muitos mitos e deuses da Grécia. Mas, ao fazê-lo, em muitos casos, renomearam os deuses e os trataram como se fossem criações suas. As Erínias, no mito romano, transformaram-se nas Furias e, para a Roma Antiga, essas deusas, na verdade, designavam os gênios do mal dos infernos latinos. A partir daí, 'furias' passou a indicar também a própria emoção violenta (ou comoção) a que chamamos de 'fúria' e, por consequência, derivou o verbo 'furere' (enfurecer).

A cidade de São Paulo conheceu, nesta quinta-feira, 16, dois atos que configuram, de forma aterrorizante, um dia de fúria: no primeiro, um funcionário, leitor de relógios de consumo elétrico da companhia de eletricidade Eletropaulo, foi atraído para a residência de um morador e, dentro da casa, foi mantido em cárcere privado por dois dias, durante os quais passou por extensas sessões de tortura - ameaça com arma de fogo, choques elétricos (seria cômico se não fosse trágico o uso da energia elétrica) e encenações de atos de violência do morador que ensaiou, inclusive, um assalto no qual o funcionário tomaria parte como protagonista. O funcionário conseguiu fugir do agressor porque, num momento de distração do torturador, gritou por socorro e foi ouvido pelos vizinhos, que chamaram a polícia.


O caso aconteceu na região central de São Paulo e os vizinhos relataram que tudo o que acontecia no bairro de estranho era imediatamente relacionado com esse morador, um homem de 41 anos. Até agora, não estão claros os motivos que levaram o morador a enfurecer-se dessa forma e agredir uma pessoa com a qual ele nunca teve contato.

O outro caso envolveu uma mulher, que é parte integrante da Guarda Civil Metropolitana (GCM). A GCM, como se sabe, é uma espécie de polícia e somente não chega a ser polícia de fato porque, na legislação brasileira, há três espécies de polícia: federal, estadual civil e estadual militar. Os municípios, por lei, não podem montar destacamentos policiais armados. A GCM de São Paulo, assim, não pode portar armas de fogo.


Mas, numa discussão de trânsito entre a guarda da GCM (que estava num veículo da própria GCM) e um outro motorista, a mulher perdeu o controle e seguiu o motorista em perseguição implacável que somente foi contida por bombeiros (também eles policiais militares). A guarda, visivelmente alterada, portava uma arma ilegal e foi acusada de desacato à autoridade (os superiores que a perseguiam). Também nesse caso, não se sabe o que levou a mulher, uma autoridade, a empreender a perseguição furiosa nas ruas da cidade.

A fúria é uma emoção violenta, desencadeada pela exaltação dos ânimos, e pode se originar das mais diversas situações - desde problemas financeiros e transferência da 'culpa' para outras pessoas, como parece ser o caso do morador que torturou o funcionário da elétrica até a briga de trânsito que levou a guarda municipal a perseguir um motorista como se ele fosse um criminoso.


Eu imagino que você, assim como eu, já teve momentos de fúria. Aqueles que, num átimo, turvam nossas vistas e nos transformam em furores da natureza, completamente possuídos pelas Erínias (ou Furias, se romanas). Capazes, inclusive, de atos miseráveis como os das próprias deusas, de extirpar testículos e até mesmo pênis (aka Lorena Bobbit e uma ou outra brasileira que, eventualmente, o faz também, possuída que está pela fúria).

De forma que não parece, mas o mundo está mais povoado de eunucos e castratis do que sonha (e percebe) a nossa vã filosofia. De tempos em tempos, alguns homens padecem da penectomia (ou falectomia), que é a retirada apenas do pênis.


Esses dois casos de fúria em São Paulo tornaram-se públicos e eu imagino quantos não vêm à tona. Quantos Williams (personagem de Michael Douglas em 'Um Dia de Fúria') e Lorenas não estão à solta por aí, prontos para fazer emergir seus próprios gênios do mal, provavelmente adormecidos em lâmpadas incandescentes?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Liberdade, igualdade, fraternidade

A França celebrou ontem, dia 14 de julho, a Fête Nationale (Festa Nacional), que marca a Revolução Francesa, a Festa da Federação e a Tomada da Bastilha. A Revolução Francesa alterou a França e o mundo, a partir de 1789. Aboliu o Antigo Regime (Ancien Régime) e a autoridade do clero e da nobreza, contaminada pelos princípios do Iluminismo.


Com a Revolução Francesa, o mundo ocidental abre-se à Idade Contemporânea, ou seja, a nossa própria época. Entre outros grandes feitos, a Revolução Francesa aboliu a servidão e o feudalismo e proclamou os princípios universais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Ontem, a França comemorou a data com uma festa em tudo condizente com Paris, a cidade-luz: desfile militar, esquadrilha da fumaça sobre o Arco do Triunfo, comemoração dos 120 anos da Torre Eiffel, a estampa glamourosa da primeira-dama, Carla Bruni, e milhares de pessoas na rua.


A França colonizou (como a Inglaterra, Bélgica, Holanda, Espanha, Portugal e outros países europeus) algumas dezenas de países atualmente independentes: Marrocos, Argélia, Tunísia, Senegal. Esses povos nunca mais foram os mesmos, a despeito do que teriam sido sem a mão forte da colônia. O importante é que os ex-colonos vivem às margens da sociedade francesa: não são franceses e tampouco são cidadãos de seus próprios países. Não são, portanto, iguais e tampouco fraternos perante a sociedade francesa. Me lembrei de imediato do filme "Código Desconhecido" quando um argelino cospe na face da personagem de Juliette Binoche.


O ex-colonizado tem ódio do colonizador. E não consegue superar isso (e não sei se isso não ocorre, de certa forma, entre Portugal e Brasil; me recordo também do exemplo clássico de brasileiros deportados a partir da alfândega portuguesa sem ter sequer colocado os pés além das salas policiais).


Apenas para resgatar os três princípios eternizados pela Revolução Francesa, rememoro:

- Liberdade: ausência de submissão e de servidão. Independência. Autonomia.
- Igualdade: ausência de diferenças de direitos e deveres entre as pessoas.
- Fraternidade: não há nada, a princípio, que distingua um homem de outro e, portanto, são fraternos, iguais e livres.


O que me chamou a atenção neste 14 de julho francês foram os focos incendiários provocados por toda a França por jovens, notadamente suburbanos, que aproveitam o dia nacional do país para chamar a atenção quanto à ausência de igualdade e de fraternidade (quiçá de liberdade) das minorias: foram mais de 500 veículos incendiados, superior aos incidentes registrados no ano passado, que passaram dos 350 carros queimados. Pelo menos 250 pessoas foram presas e armou-se uma segurança gigantesca para garantir as paradas militares e a passagem do alto escalão francês pelos Champs-Élysées.


Esses manifestantes são, na maioria, jovens desempregados e de minorias étnicas, ou seja, das mesmas etnias subjugadas pela França quando da colonização dos países citados acima. Depois de toda a festa, procurei nos principais veículos da grande imprensa francesa informações sobre os 'distúrbios' que tentaram chamar a atenção para si. Pesquisei Le Monde, Liberation, Le Figaro, alguns sites franceses e outros meios de informação como as agências noticiosas.

Em vão. Exceto por uma ou outra citação, minúscula, e escassas fotos, a impressão que tive foi que a França - incluída a imprensa, o governo e outros setores - prefere ignorar essas tentativas de tomadas de Bastilhas que se alastram feito rastilhos de pólvora por todo o país. Não há grandes referências sobre o assunto e a polícia, inclusive, prefere não divulgar dados concretos. Quem sabe, ao fazer isso, é como se os apagasse, a esses incêndios.


A França é uma nação contraditória: ao mesmo tempo que prega ideais iluministas, não se acanhou, na companhia de países vizinhos, em colonizar partes da África. Os intelectuais franceses são celebrados em qualquer roda cultural na literatura, no cinema, nas artes plásticas e nos debates acadêmicos. A capital francesa é conhecida como a 'cidade-luz'. Mas, nos subúrbios parisienses e no interior do país, há uma escuridão somente interrompida pelos clarões de carros incendiados.

De quando em quando, a França é abalada por eventos históricos que têm o poder de reverberar em todo o mundo - a própria Revolução Francesa, o Maio de 68 e, mais recentemente, os protestos estudantis de março de 2006. Foram todos eventos de repercussão internacional que tiveram por mérito promover mudanças, na França e no mundo.


Portanto, me questiono que França é essa que celebra suas Bastilhas e encerra, em bastilhas outras, escuras e escondidas, às soturnas, seus próprios medos. Essa França inscreve outras palavras na história contemporânea: prison, inégalité e infraternité.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um pra lá, dois pra cá...


Será que eles dançam no escuro (como dançavam os personagens de "Dancer in the Dark", de Lars von Trier) ou reúnem-se em festa dançante? Me ocorre que, se juntos, devem estar a elaborar coreografias originalíssimas, a se divertir em passos ousados, engraçados, audaciosos.

Pois que dancemos todos, então, porque, por vezes, me parece, o mundo é um grande salão, se não de festas, no mínimo um salão em que se flutua e se equilibra sobre ágeis ou não tão ágeis pés. E melhor dança quem o ritmo não perde e não se perde ao ritmo do tempo.









segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ato número 1, parágrafo 2º., artigo ix

Acabei de ler uma informação sobre etiqueta na internet, de forma geral. O autor lista algumas coisas que podem e outras que não devem ser feitas por meio de serviços como o Twitter ou até mesmo pelo telefone móvel.

As regras de etiqueta são antigas. É um conjunto de regras (convenções) que, teoricamente, deve nortear as relações entre as pessoas. Um leitor, anônimo (e sempre o são, nesses casos), me critica por um post já antigo no qual eu falava sobre a nudez e lança mão justamente dessa palavra, convenção, para que eu me coloque no devido lugar que me cabe na sociedade, se é que eu caibo nela.


Por princípio, acredito que convenções e regras existem para, em alguns casos, serem quebradas. As convenções, então, me soam ainda pior, já que alguém, um dia, criou um conjunto de regras e as nomeou como "convenções". Portanto, convencionou-se que, a partir de determinado momento no tempo, as coisas eram assim e não assado.

Claro que existem parâmetros a serem seguidos porque, se não o fossem, seríamos, os humanos, equivalentes a um bando de bichos desregrados, soltos, primitivos. Mas atachar em mim alguns rótulos de convenções não me apetece, de forma alguma. Tudo pode ser uma convenção: desde uma reunião de condomínio na qual se convenciona que os moradores não podem jogar lixo dentro do elevador até a convenção formal de que temos que nos postar respeitosamente quando a rainha da Inglaterra passa com a caravana.


E, dentro dessas categorias de trejeitos, comportamentos, atitudes e gestos, há duas macro-regras de etiquetas: uma, a etiqueta à mesa; a outra, a etiqueta de internet (ou de aparatos ou gadgets como celulares e MP3), que é a netiqueta. E, como as noções de cada ser variam muito, é praticamente impossível que se façam etiquetas padrões. Geralmente, há um comportamento médio aceito por todos, baseados em cortesia e educação. É um código não-escrito (embora os haja, escritos, aos montes, em livros e dicas de como se comportar nas mais inusitadas situações).

Há outros campos abrangidos pela etiqueta: a moda, a forma como se segura um copo, como se sentar diante das pessoas, quem servir primeiro, a quem se dirigir para questionar algo. São centenas de pequenas regras que, se vistas no conjunto, me parecem escadarias de teatros antigos, com milhares de degraus a serem superados até que se atinja o topo.


Mas as etiquetas estão atreladas a fatores culturais, inclusos os de tradições de cada povo e, assim, o que é um código no Brasil, não o é na Finlândia, por exemplo. Andar de mãos dadas, em alguns países, é um atentado ao pudor. Em outros, o estranho é quando dois homens não andam de mãos dadas. E, de volta à crítica do leitor anônimo, andar pelado em alguns lugares é ofensivo e em outros, como recentemente na Inglaterra, o ideal é que se trabalhe nu às sextas-ferias. São códigos, convenções.

E, assim como você e eu, na média, estamos amparados por convenções, quando as quebramos, ou sugerimos alguma quebra, somos logo repreendidos por querer escapar desse cerco moral. Esses códigos me remetem a outros, aqueles códigos éticos de máfias italianas, de detentos em presidiários e ainda outros relacionados ao mundo do crime segundo os quais você pode ser condenado à morte se ousar quebrá-los. É algo bastante leviano, do meu ponto de vista, porque, por princípio, você pode matar seu rival, mas não pode, em alguns casos, mostrar os pés descalços (caso de algumas prisões, quando na presença de familiares de outros presos).


Então, o que é convenção? Que etiqueta adotar? E há que se adotá-la? Por que, assim que aparece algo novo (como a internet), uma das primeiras providências que se toma é formalizar um conjunto de regras para se movimentar nesse ambiente? No Twitter, novíssimo fenômeno, não raro eu me deparo com uma série de comentários que me dizem e aos demais como nos comportarmos: isso pode, isso não pode!

O que sei, e pratico, é que há um princípio de bom senso que norteia tudo. O legal é quando conseguimos distinguir a expressão (que, a priori, deve ser livre, ao menos aqui no texto do blog) do fato. A isso se 'convenciona' chamar de respeitar as diferenças.

domingo, 12 de julho de 2009

Meu rugido dominical


Geralmente, sou bastante organizado - com papéis, documentos, contas, livros, arquivos digitais, senhas e com minha casa. Se estou arrumado por dentro, tanto mais ajeito tudo à minha volta. Tenho alguns métodos, vícios, talvez, de quem vive mais para si ou dentro de si.


Por outro lado, outros setores da minha vida são completamente desgrenhados. Giram às avessas - horários certos, convencionais para o mundo 'comercial', não funcionam para mim. Jamais, e faz anos, consigo dormir antes da meia-noite. A não ser em situações completamente inusitadas do tipo daquelas em que se passa a noite em claro.

Tendo a me organizar em função dos deadlines que me são impostos pelo meu trabalho. Como freelancer, tenho grande flexibilidade de horários e sou extremamente rigoroso em obedecer prazos e, se possível, precedê-los. Isso é uma regra minha.

Mas, entre o prazo final e o desenvolvimento do trabalho, acontece de tudo. E toda a sensação de organização, de controle, se me escapa por entre os dedos tal qual água. Vaza mesmo. Inexorável feito a areia da ampulheta, vejo a liquidez do tempo e dos meus planos se evaporar feito bolha de sabão. Estouram no ar e quando me dou conta, tudo não passou de abstrações.

Por que sempre que planejamos tudo sai diferente? Por que as programações insistem em se fazer substituir por imprevistos? Claro que eu sei e entendo que tudo, ou quase tudo, depende de circunstâncias com as quais eu não posso lidar. Por exemplo: não dá para prever que haverá algum tipo de problema técnico que fará com que eu fique sem conexão de internet ou sem eletricidade. Isso pode acontecer e acontece.

Mas, a princípio, trabalha-se com o concreto: tenho os meios, contorno os obstáculos conhecidos e sempre deixo alguma margem para cobrir justamente os imprevistos. No entanto, isso não é suficiente. E aí vejo a lei da causa e efeito sustentada pela filosofia, física e direito entrar em ação. Sem me esquecer que existem correntes que desprezam totalmente essa lei e também que o conceito, em si, é defendido por algumas doutrinas religiosas, como o espiritismo e o budismo, identifico, quase sempre, causa e efeito para os transtornos que se opõem à minha tão organizada agenda.

Um dos enfoques sob os quais se explica a causalidade determina que causa e efeito é a relação entre um ser humano e o ato que praticou voluntariamente e pelo qual é responsável. Por essa via, se eu praticar um ato, bom ou ruim, terei o retorno, bom ou ruim, na mesma proporção. Bem, isso se aplica para coisas práticas: me alimento (causa) e sacio a fome (efeito); ingiro veneno (causa) e morro (efeito). Nem tudo é assim no reino dos humanos, porém. Me alimento e continuo com fome, por exemplo, e ingiro veneno e sou levado ao hospital para fazer uma lavagem estomacal. Quer dizer, nem sempre o efeito é previsível, fechado em si mesmo. A causa pode proceder da mesma origem mas o efeito pode ter variáveis conforme a intensidade da causa.

Pessoalmente, não acredito na relação causa-efeito. Para ficar no nível mais prático: trabalho (causa) e não acho que ganho o suficiente (efeito). Aposto toda semana na loteria (causa) e não ganho (efeito). Quer dizer, são situações excepcionais e exagero sobre os fatos. Mas, em resumo, é isso: nem toda causa gerará o efeito desejado. E voltamos, portanto, ao planejamento e consequente execução, que, como eu disse acima, nunca se concatenam da forma que eu gostaria.

Vou citar outro exemplo bem particular: na última quinta-feira, 9, foi feriado no Estado de São Paulo. Não viajei como gostaria de ter feito e me planejei, desde a semana anterior, para trabalhar num job que pretendo concluir o mais rápido possível. OK, estou dentro do prazo. Mas já trabalho com antecedência porque, creio, trabalhamos, quase todos, no presente e miramos o futuro, próximo ou mais a médio prazo. É assim: para eu atingir o objetivo B, tenho que finalizar o A.

Claro que ficou tudo apenas no nível dos planos: como alguns(mas) leitores(as) do blog devem ter percebido, padeci de dor atroz nos últimos dias. De quarta-feira a sábado, não fiz nada a não ser publicar o post diário deste blog e resignar-me às pílulas, inúmeras que, por fim, deram cabo da, na sequência, dor de cabeça, cefaleia e enxaqueca. Sim, foram praticamente três dias completos com dor. Sem possibilidade de pensar.

Quando escrevo meus artigos profissionais, não funciona como aqui, no blog, cujos textos me fluem facilmente. Não. As matérias jornalísticas têm outro ritmo e originam-se a partir de informações apuradas de entrevistas. Logicamente, tenho que dar forma às dezenas de informações de diferentes fontes e fazer desse conteúdo um artigo que se situe dentro do contexto de uma pauta e da linha editorial do veículo no qual será publicado.

De forma que não consegui pensar. Não consegui ler. Tudo o que fiz foi olhar para a tela da TV, através da tela. Se tentasse ler algum livro, a dor me incomodava. O brilho da tela de computador me machucava.

Pois, questiono então: eu liguei algum dispositivo interno (causa) que deu origem à dor (efeito)? Até onde me recordo, não fiz nada diferente de todos os dias - alimentação, horários, temperatura etc., ou seja, ações rotineiras. Mas um grande obstáculo se colocou no caminho dos meus planos contra a minha vontade. Não pude controlar a situação.

E é assim que funciona, na verdade, a vida. Claro que existem milhares de pequenas atitudes que podemos tomar, iniciativas, cuidados, responsabilidades etc. etc. Mas sempre haverá o imponderável para nos desviar daquele que era o objetivo principal e nos colocar em outra circunstância. Por vezes, isso me desanima, me frustra. Por outras, vejo como possibilidades de olhar para o fato, em si, com outro foco.

Também não sou do tipo que acredita na condição de "era para ser". Não, não acho que tudo está fechado, que nada não pode ser mudado. Por isso mesmo existe o livre-arbítrio, ainda que sempre haverá alguém que nos diga: "eu avisei", quando o barco vira. Não sei você, mas eu prefiro pagar para ver. Quanto à causa e efeito, bem. Lá no fundo, provavelmente, eu posso... não digo que o fiz... mas posso ter elaborado uma reação do organismo à minha falta de vontade de escrever meus artigos profissionais. Vai saber. Deixo isso com o "era para ser", embora, repito, não acredite nessa condição. Sou safo, vou brigar para quê?

sábado, 11 de julho de 2009

Rir é o melhor remédio?

"Muito riso, pouco riso" ou "riso pronto, miolo tonto", rezam os ditados, rigorosos, sisudos eles, os que os elaboraram, sem deixar margem para o humor e com total desconhecimento dos efeitos do riso, da risada, do sorriso e da gargalhada.

Sempre houve um lado a tentar flexibilizar a vida e o outro a pressioná-la, isso é fato. A conter, intervir, reprimir. E o outro lado, a abrandar, a avacalhar e, sobretudo, a rir e, inclusive, de si mesmo e dos tantos que andam a correr contra o riso solto como se crime fosse praticá-lo. Pois que já foi, sim, um dia, crime rir, punível de morte para quem o fizesse defronte a majestades totalmente risíveis, de tão incultas. E já foi também pecado rir em dias santos como se tivéssemos, nós que aqui vivos estamos, que morrer junto com todos aqueles santos mortos que se esbanjam desde medievais eras.


Uma gargalhada instantânea, desatada sem mais nem porque, à toa, franca, pode mover 400 músculos do corpo, ativar o sistema imunológico e oxigenar os tecidos. Um outro ditado, de origem chinesa, observa: "Para sentir-se saudável, deve-se rir pelo menos 30 vezes por dia".

Mas, sorrir ou rir do quê? Rir-se sozinho? Forçar o riso e perder o siso? Enlouquecer na busca da gargalhada, elevada a salvadora? Rir ou não rir, eis a questão. Será que Shakespeare era vestuto ou afável? Que se ria com facilidade? Creio que, para escrever aqueles cânones todos, Shakespeare, certamente, sabia rir e, principalmente, rir de si mesmo.


Estudos científicos afirmam que, até os 6 anos de idade, rimos à razão média de 300 vezes ao dia, em diversas modalidades do riso: um entreabir de lábios, um leve esgarçar da boca, um sorriso, um riso fino, um riso alto, uma risadinha, uma risada contínua e, enfim, uma gargalhada que se converte, em alguns, pouco a pouco, em soluços que, se não abafadas, transformam-se, quase, em choro. Que ironia!

Depois dos 6 anos, limitados por todas as barreiras possíveis, tornamo-nos mais sérios. O riso é reprimido e, quase sempre, suprimido. Fica na expectativa de acontecer e, quando ocorre inesperadamente, é apontado e o autor, sem controle, é coroado com uma chuva de olhares recriminadores, sob os quais, inebriado, põe-se a gargalhar até que alguém, comovido ou incomodado, o retire do recinto, se assim o exigir a situação.


Um ser humano médio, seja lá o que for esse 'médio', pode rir entre 15 a 100 vezes por dia. Entenda-se que, na prática, a maior parte ri, efetivamente, cerca de 17 vezes ao dia (ainda conforme fontes científicas). De forma que, descontadas entre 6 e 8 horas de sono, sobram entre 18 e 16 horas do dia para rir e, ao que parece, cada hora tem uma risada garantida.

Mas, como se trata da média, existem os extremos: os que riem 100 vezes são mais felizes e a maior parte de nós, certamente, os odiamos por esbanjar tanto riso e pouco siso. E os odiamos silenciosamente, de forma repressora, com aquele sorrisinho de condescendência que tenta, a todo custo, calar a risada daquele que ri tanto. De vez em quando, também, uns de nó somos contagiados pela risada desse proprietário de uma centena de risadas.


No outro extremo, existem aqueles que mantiveram todos os sisos e nenhum riso. Esses nunca riem, nem sorriem e, se gargalharem, deixarão aos demais estupefatos, chocados, sérios, numa aparente contradição de um fato gerador de riso. São pessoas que, com olhares sóbrios, calam o nascente sorriso nas bocas alheias e, ciosos de sua própria seriedade, demarcam os limites entre riso, sorriso e gargalhada a ferro e fogo. Na maior parte das vezes, diante de pessoas assim, tendemos a nos comportar de forma algo desconfortável: remexemo-nos, inquietos, coçamo-nos e aos cabelos, passamos a língua pelos lábios e emitimos todos os sinais de bichos enjaulados, atraídos que estamos pelo magnetismo feroz que emana daquele ceifador de sorrisos.


O engraçado é que se dá um estranho fato, observado sempre nessas condições e que pode servir muito bem de tese científica para quem é do ramo: assim que tal pessoa vira as costas, os que ficam, quase que inevitavelmente, põem-se a sorrir e alguns, até, libertos, riem frouxamente. Outros baixam totalmente a guarda e é possível ouvir até mesmo um princípio de gargalhada. São risos abafados, libertadores.

Embora se estude o riso com afinco e sem dele se sorrir muito, não há muita explicação para os diversos níveis da risada. A tese científica apenas diz que o riso é uma resposta fisiológica a um estímulo neurológico que se converte em uma reação na forma de gestos e sons (guturais, vagos, finos, estridentes, altos, baixos, abafados, atravessados, é toda uma sinfonia sem maestro a lhe orquestrar uma execução que lhe dê, afinal, ares musicais). Ao rirmos (e depende da intensidade do sorriso), contraímos 15 músculos da face. Nessa ocasião, a laringe fecha até a metade e a respiração torna-se irregular (como no sexo). Por isso, há aqueles de nós que engasgamos ou ficamos vermelhos de tanto rir, por exemplo.


As convulsões espasmódicas no diafragma que se seguem ao riso provocam a contração dos músculos do abdômen (a popular dor na barriga de tanto rir). Os sons que emitimos (também a depender da intensidade do riso) formam, espante-se!, vogais de sílabas curtas, separadas por intervalos de 210 milisegundos (pergunte a Cronos do que se trata).

Por fim, em gargalhadas extremas, vertemos lágrimas e já não sabemos se estamos a chorar de rir ou a rir porque podemos chegar ao choro ao não fazê-lo. Ri-se, de forma geral, de tudo: do ridículo, próprio e do alheio; de piadas, engraçadas ou não; de situações que culminam em vexames, de preferência com outros, e não com você; rimos de absurdos, de sustos, de casos extremos, quando nervosos, quando felizes.


Há os que riem, como eu, quando tristes. Em velório, por exemplo, sou tomado de uma irrefreável vontade de sorrir, rir e gargalhar e sinto o rosto afoguear de tanto reter a risada. Sei que não é de bom tom, mas o meu riso não conhece leis de comportamento. Já fui expulso da sala de aula por rir demais e tive que deixar salas de reunião de trabalho pelo riso involuntário que de mim se apoderou. Não, não chega a ser um problema na minha vida, pessoal ou profissional.

Mesmo porque, com o passar dos anos, tenho notado a estranha tendência de me rir menos. Há dias em que não rio. Talvez apenas esboce sorrisos. As gargalhadas me são cada vez mais raras. Estou na categoria de adultos que riem pouco e temo que chegue ao dia em que não mais rirei. Que o riso me seja breve mas não me deixe. Não quero me converter em um sorumbático dom casmurro, a não rir mais. E, principalmente, não rir de si próprio. Pois que a ausência dessa capacidade converte a pessoa, rapidamente, em sombra pálida. Falta de cores de um sorriso, de um riso. OK, eu abro mão da fluência da gargalhada incontida. Mas não do riso franco, do risinho social, do sorriso de compreensão, do olhar que sorri.


Quero, ao menos, estampar na face o riso eterno de uma Mona Lisa que, por certo, está a se rir e aos outros, incapaz de se manter séria diante de tão engraçada humanidade que a assiste e ao seu sorriso. Ou então ser um sorriso misterioso, a vaguear por aí, feito o sorriso do gato de Cheshire, engraçadíssimo por ser inusitado. Rir é, sim, o melhor remédio.

Autor e redes sociais | About author & social media

Autor | Author

Minha foto
Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

De onde você vem? | From where are you?

Aniversário do blog | Blogoversary

Get your own free Blogoversary button!

Faça do ócio um ofício | Leisure craft

Está no seu momento de descanso né? Entao clique aqui!

NetworkedBlogs | NetworkedBlogs

Siga-me no Twitter | Twitter me

Quem passou hoje? | Who visited today?

O mundo não é o bastante | World is not enough

Chegadas e partidas | Arrivals and departures

Por uma Second Life menos ordinária © 2008 Template by Dicas Blogger Supplied by Best Blogger Templates

TOPO