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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Rastreio de Cozinha - 83

Tivemos nesta segunda-feira, quatro colegas e eu, que formamos o grupo de TCC, a primeira e única reunião para a apresentação na próxima quinta-feira, 3. Wish me locke! Eu precisarei, assim como os demais. Porque, nas situações extremas, uns jogam nos ombros Dele; outros, como eu, tentam essa entidade inanimada chamada sorte.


Sorte que eu não tive em algumas provas, ao desabrochar das primeiras notas. OK, seria covardia não dividir minhas notas com vocês depois de falar do mesmo assunto dias a fio. Mas, somente vou fazê-lo quando tiver todas as notas. Por enquanto, sei as notas de três disciplinas: Cozinha Contemporânea, Cozinha Ocidental e Confeitaria.


Surpresas??? Não, absolutamente. Porque cada um de nós sabe exatamente onde o sapato lhe aperta os calos ou qual cabo de panela, no caso, queima mais rápido. Melhor ainda, que queimador do fogão faz a água ferver mais rapidamente.

Os dados foram lançados e, de novo estou a tratar tudo como se fosse um jogo de azar. Mas, quero dizer que cada coisa a seu tempo. Finalizadas as provas, o que temos é apenas esta semana pela frente. A última do semestre na faculdade.

Não há muito o que se fazer: conferir faltas, notas, se fechamos ou ficamos para exame ou, medo total, para DP (dependência, e não Delegacia de Polícia que, ainda, não é o caso). 

Teremos, ao contrário do que eu disse antes, apenas mais uma aula de reposição. Será na quarta-feira, de Cozinha Ocidental, que abordará o Magreb (Marrocos e Tunísia). Antes, amanhã, apenas a verificação de nossas respectivas performances nas demais provas - Cozinha Brasileira, Panificação. Depois, talvez na quinta-feira, a nota final de Geografia Aplicada à Gastronomia.


Por fim, a avaliação final do TCC, assunto sobre o qual fiz pairar imensas pedras nas cabeças dos meus colegas de projeto e ameacei com os finais dos tempos para aqueles que não me acompanharem. Sei que agi feito um Antonio Conselheiro à beira da loucura, mas, se você não mostra sinais de que está à beira de um surto psicótico, parece que ninguém te leva a sério.

Eu, particularmente, sei dominar a arte do chicote e fazê-lo estrilar como se fosse um legítimo rabo de dragão. Se tem utilidade deter esse tipo de habilidade? Nem que for para usar na hora de um sexozinho violento, tudo é permitido quando a alma, e muito menos o corpo, não são pequenos (apesar de que alguns pequenos, por aí ...). Quer dizer, se o dono do corpo cuja alma insiste em habitá-lo pensar que nada vale a pena se a alma é pequena, posso ter problemas com chicotes, açoites e outras verdadezinhas obscuras.

Mas, em geral, como quase ninguém entende de Fernando Pessoa, todas as almas acabam por ser maiores e, quer saber?, ninguém se faz de rogado quando há algum jogo em jogo.

Pronto, falei tudo. Sexo, mentiras e DVDtape (acho que agora já posso chamar de BDtape, ou Blu-ray Disc), se preciso for. Porque, que o povo gosta de prevaricação, não tenha dúvida. E quem sou eu para contradizer a massa? Meu negócio é ir a favor do fluxo, não contra. Que, repito, se a plebe não tem pão, lhe dê brioches. Por algo equivalente, a bonitinha francesa viu ficar o colar e ir o pescoço.


Isso tudo que eu escrevo, admito, sem plexo ou nexo, mas, com sexo no meio, é para fugir da realidade que está aí nas entranhas: o TCC, To Co Cru, está aí, pela hora da morte. Cru e a pegar fogo. Uns, feridos de guerra, já arrastam membros decepados antes mesmo de serem atingidos pelos trabucos. Outros, valentes até o primeiro fogo amigo, deitam carreira quando o ar fica mais denso.

É uma pequena guerra e nem sempre há vencedores. Os há, perdedores, até mesmo dos dois lados: uns, avaliadores, que verão, mais uma vez, o apagar de qualquer indício de realização acadêmica aonde se supõe que panelas valem mais do que a fonte do tipo Times New Roman; outros, avaliados, que não sabem para onde dirigir o olhar e, na falta de alternativa, gaguejam meia dúzia de garatujas mironianas em forma de palavras e se calam, tomados de pânico repentino.

No final, entre mortos e feridos, acredito que quedamos todos mortos mesmo e fingimos que não. Só para, em outro ato de covardia, não ter que enfrentar Caronte e sua barca para o inferno. Que está superlotado e, ouvi dizer, ganha até mesmo do metrô no horário de pico (hoje, contei 13 trens entre a estação Brigadeiro e a Santa Cecília. Oh! céus! Oh! vida!).

The book is on the table

Acabei de ler "O Mago", biografia de Paulo Coelho feita por Fernando Morais. Como eu imaginava, e não me desapontei, a vida de Paulo Coelho é muito interessante. E nem vou me somar mais (a partir de agora) à interminável lista dos que se declaram desfavoráveis ao autor de "O Alquimista".


Depois de encerrada a leitura, não tenho mais do que duvidar. Afinal, um escritor que vende mais de 100 milhões de cópias de livros, em mais de 160 países, não se encontra em qualquer esquina. E não é possível que tantos estejam enganados em lugares tão distintos por tanto tempo (mais de 20 anos). Dou a mão à palmatória e encerro minha própria celeuma com o autor.

Paulo Coelho faz parte do time dos autores que são "best sellers planetários" como Stephen King (O Iluminado e mais uma centena), Michael Crichton (O Parque dos Dinossauros), John Grisham (A Firma) e Tom Clancy (Jogos Patrióticos).

Paulo Coelho mantém alguns sites na internet, sendo que um deles - o Pirate Coelho trata de dar ao leitor o livro por meio virtual. Paulo Coelho não acredita que a internet seja uma ameaça ao livro de papel (eu tampouco). Os outros sites são o oficial, o blog e o MySpace.

Mas, o assunto que me traz a este post é outro. Ou melhor, são outros. Há dois novos livros sobre a minha mesa (e cama, sofá, pia, banheiro etc.): "O Livro das Citações", de Eduardo Giannetti (Cia. das Letras, São Paulo, 2008, R$ 39,20, 457 páginas) e "Eu Sou Um Gato", de Natsume Soseki (Estação Liberdade, São Paulo, 2008, R$ 62, 486 páginas).

Quanto ao "Livro das Citações", o autor fez um apanhado literalmente de citações de pessoas de todos os tempos, culturas e do mundo para elaborar o livro. Na minha contagem (eu contei apenas uma vez), são 818 citações, de 390 autores diferentes. De longe, Nietzche é o autor mais citado. Mas, as citações abrangem um campo bastante vasto e podem ir de Leonardo da Vinci ao Dalai Lama, de Alexandre, o Grande a Hitler.

Eu sei que o autor, Giannetti, teve um extenso trabalho para fazer das citações um livro, formado por quatro partes e 36 capítulos. Mas, vou me apropriar dele para criar um espaço aqui no blog (logo ali, à sua direita) para, de semana em semana, publicar uma dessas citacões. Vou escolher aleatoriamente, como se faz com aqueles "momentos de sabedoria". Eu, particularmente, adoro citações. Se a escolha randômica cair numa citação repetida (eu anotarei no livro as já publicadas), pulo para a seguinte.

O outro livro que adquiri, "Eu Sou Um Gato", me atraiu exatamente por conta do título. Porque, eu, eu mesmo, Redneck, sou um gato. OK, OK, me considero um, OK?  Essa é a primeira razão que me levou a pegar o livro da estante. A segunda é que, de novo, sou um gato, agora no sentido do zodíaco, felino, da família leonina. Isso, por si só, deve bastar para que eu me identifique com o livro.

Se ainda não for o suficiente, o que li na última capa me convenceu de vez: "Os humanos têm quatro patas, mas se dão ao luxo de utilizar apenas duas. Poderiam andar mais depressa se usassem todas, mas se contentam apenas com um par, deixando as restantes estupidamente penduradas como bacalhaus postos a secar." Está bem ou você quer mais? Para mim, é óbvio. No livro, um gato, literalmente, faz observações ferinas (e felinas) acerca dos humanos que o rodeiam.

domingo, 29 de junho de 2008

Meu rugido dominical


O chope agora custa R$ 955, a perda do direito de dirigir por um ano e a retenção do veículo. Dois chopes valem uma prisão. Claro que, se o delegado me deixar escolher a cela (e os colegas de), vou na boa. Mas, você já se imaginou preso porque bebeu demais? Nem eu!

Está em vigor desde o último dia 20 a nova lei que torna ilegal o ato de dirigir com uma concentração a partir de dois decigramas de álcool por litro de sangue (dg/l), o que equivale a um copo de chope.
 
Na última sexta, a fim de celebrar o final das minhas provas, fui aos Jardins em danceteria (SoGo, caída e decadente) com amigos. Fui de carro. Tomei quatro gim tônicas. Ou seja, a minha concentração de dg/l deveria estar numa altura equivalente ao Everest. Não satisfeito, saí de lá e fui para outra balada (A Lôca, igualmente chata), onde completei o nível de álcool com mais um gim tônica. (Um parenteses: concluo, em definitivo, que a noite é boa entre terça e quinta. Passou disso, tudo é tomado por um povo nada a ver. Odeio a balada no final de semana).

Bem, claro que, se não cheguei a ficar bêbado de cair (aguento bem a bebida), os meus reflexos não eram nada satisfatórios. Claro também que fiquei apavorado com o fato de ser parado por uma blitze. Que não ocorreu, salvem os anjos dos bêbados, sujos e malvados.

A nova lei seca é das mais rígidas do mundo. Depois de eventos recentes que envolveram casos, no mínimo, pitorescos, para não falar arriscados - uma mulher na contramão na 23 de Maio, um motorista que anda na faixa contrária na Castelo Branco, outra que vem pela faixa de acostamento da Anhanguera etc. - o governo federal decidiu agir com mais rigor.

Em 2005, segundo o Ministério da Saúde, morreram 35.753 pessoas por acidentes de trânsito em todo o País (32.753 em 2002). Houve, em cinco anos, um aumento de 9% no número de vítimas, a despeito da maior fiscalização. As pessoas que se envolveram em acidentes tinham entre 20 e 39 anos, na maior parte. Entre adolescentes, os acidentes de trânsito são a segunda causa principal de mortes. Em 2006, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 123 mil internações, a um custo de R$ 118 milhões, para atender vítimas de atropelamento (41.517 pessoas) e acidentes com motociclistas (34.767 pessoas).

Na ocasião da divulgação desses dados, o ministério alegou que as principais causas dos acidentes estavam relacionadas, pela sequência, ao consumo excessivo de bebida, alta velocidade, não-uso de capacete ou cinto de segurança e infra-estrutura de rodovias e ruas.

O problema da violência no trânsito não é pontualmente brasileiro. No mundo, há mais de 1 milhão de mortes anuais por conta da ousadia que mistura álcool e velocidade.

Assim como eu o fiz na sexta-feira, milhares de outras pessoas agiram da mesma forma. Saíram de casa com o objetivo de beber. E o fizeram. Alguns poucos forma detidos pela polícia nas blitzes que estão sendo feitas. Na minha opinião, mais para consumo da TV do que por cumprimento da lei. Quer apostar quanto que essas blitzes acabam rapidamente?

Ontem, sábado, saí para jantar e tomei exatamente duas garrafas pequenas de cerveja Malzbier. Se fosse alcançado pelo bafômetro, certamente não passaria no teste. Mas, o que quero dizer é que havia muitos carros de polícia na rua e também da CET (região dos Jardins e Paulista).
Como eu disse para uma amiga, trata-se apenas de dar visibilidade à lei seca e também deve ser um reforço (no caso da CET) para a campanha à prefeitura que se avizinha. Há muito tempo não vejo a CET com tanto funcionário na rua perto da meia-noite.

Não sei dizer se a nova lei seca "pegará". Eu admito que na sexta-feira nem me passou pela cabeça que eu pudesse, efetivamente, ser parado em blitz e receber multa e até ser conduzido a uma delegacia. Cheguei a brincar com o assunto, mas, não o levei a sério. Pelo que vi na TV e li no jornal, a maioria das pessoas pensa assim. Sempre achamos que o outro, um ser sobre o qual recaem acusações para apaziguar nossas próprias faltas, é mais irresponsável, perigoso e bebe mais do que nós mesmos.

Enquanto continuarmos assim - eu e os demais - não haverá lei seca que reduza o número de acidentes. Pelo que conheço este País, sempre que uma nova lei começa a ser aplicada, somos, cidadãos "de bem", a favor para consumo externo e totalmente contra intimamente. Até fingimos que as cumprimos, essas leis chatas. Para, depois, nos juntarmos ao grosso da população, de forma maliciosa e com "jeitinho" e quebrar as pernas dessas leis que pretendem cercear o nosso direito de beber feito gambás e matar alguns pedestres ousados que se atreveram a cruzar nossos caminhos.

Qualquer sociedade sem lei tende à barbárie. Mas, sociedades sem consciência, na qual me incluo, já praticam a barbárie com o simples ato de desprezar esse tipo de lei.

Você pode achar que estou aqui a pregar para aplacar minha própria consciência. OK. Talvez você tenha razão. Mas, eu sei que eu poderia, ao menos, optar por alternativas ao invés de conduzir meu próprio carro. Já ouve ocasiões em que acreditei que o carro havia me conduzido sozinho para casa, e não o contrário. Há algo de errado quando tal ordem dos fatores inverte qualquer perspectiva, inclusive a de enxergar outros motoristas e pedestres.

sábado, 28 de junho de 2008

Pererecas

Desde a criação deste blog, as quatro pererecas que adornam o cabeçalho estão coladas aí em cima. Infelizmente, não consegui identificar até hoje o(a) autor(a) da foto. O significado, para que não sobrem dúvidas, é sobre a inquietação.


Por que ser como todo mundo se você pode ser diferente? Por que se acomodar no galho se a vida ali embaixo pode ser arriscada, mas, também, muito mais emocionante? É por isso que a foto é usada como a logomarca deste blog. Ainda que o Red por detrás do blog aja mais como conformista do que revolucionário, ao menos tenho a esperança de mudar a ordem das coisas ou de instalar, comigo mesmo, algum caos.


Em janeiro, minha cara Andarilha esteve no México, conforme diversos posts que fez a partir de lá. Numa de suas andanças, encontrou um imã de geladeira exatamente desta foto que abre o blog. Claro que a Andarilha trouxe o mimo para mim.

Andarilha, se até hoje eu não havia comentado nada e tampouco agradecido, é porque a portadora do mimo, Patty Diphusa, demorou simplesmente cinco meses (!!!!) para me entregar o presente. Ela vai espernear (mais do que as pererecas), dizer que sempre levava as vermelhinhas quando se encontrava comigo e ainda colocar a culpa em mim. Bem, você conhece a Patty.

O que sei é que era mais fácil eu ter ido ao México buscar as coitadinhas. De qualquer forma, agora, estão aqui, em casa de Red, as redizinhas!


Quando você me disse que havia encontrado o imã, já gostei. Agora, maior foi a surpresa da inscrição no interior do imã: "No tomes la vida tan en serio, al fun y al cabo, no saldrás vivo de ella." Em português: "Não leve a vida tão a sério porque, ao fim e ao cabo, não sairá dela vivo".

Pode parecer um tanto piegas (e alguns que me conhecem vão logo levantar o dedo e se manifestar), mas, há muitos anos, um dos meus mantras preferidos é: "Não leve a vida tão a sério porque ela é muito provisória."


E é o que penso efetivamente. Estamos aqui de empréstimo. A vida é um meio de transporte apenas. Como veio, se vai. Celebrada no nascimento, é chorada na morte. Mas, por que reter tanta possessão se, de fato, não a possuimos, a vida?

Andarilha, fico duplamente feliz: pelas pererecas - umas, conformadas; a outra, inquieta -, e pela frase. Elas, as red frogs, têm muito a ver com este Red que vos escreve aqui.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Rastreio de Cozinha - 82

Acabou!!!!!! E acabou bem, lhe asseguro!!! Tivemos - as quatro turmas, A1, A2, A3 (a minha) e A4 - provas simultaneamente. Duas provas - de Cozinha Contemporânea e de Cozinha Brasileira. E, eu, que não tinha muitas esperanças, pelo menos quanto à prova de Cozinha Brasileira, fiquei bastante surpreso e feliz.


As provas consistiram em uma digressão sobre as subdivisões da Cozinha Contemporânea - criação, vanguarda, fusão (fusion food), releitura, reconstrução, slow food, comfort food, orgânica, cook chill (industrialização da comida) e food design; e, na Cozinha Brasileira, questões dissertativas acerca da existência (ou não) de uma cozinha nacional brasileira em oposição a várias cozinhas regionais (das regiões Norte, Sul, Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste), qual o legado que a disciplina nos deixa para a profissão e mais três questões que envolvem a comida brasileira.

Ambas as provas, na minha opinião, se complementaram, ainda que o mote da partida fosse diferente para cada disciplina. No final, houve confluência, nas minhas provas, entre a cozinha contemporânea e a cozinha brasileira.

Agora, quero registrar que todas as provas deveriam ter essa orientação: buscar saber, individualmente, por meio de avaliação objetiva de cada um, qual é a percepção que nos restou desses quatro meses de ensinamentos.


E não elaborar testes e mais testes com uma ou mais respostas, ou mesmo respostas do tipo "pegadinhas" que, a essa altura, numa faculdade, somente provam o quanto a academia (e professores que usam a prática) está distante da realidade.

Conhecimento é, de fato, o que se absorve e eu, como aluno, somente posso refletir esse conhecimento se puder elaborá-lo do meu jeito, qual seja por meio de texto no qual exponho minhas observações.

Por isso a minha surpresa com a disciplina de Cozinha Brasileira (mas, não com Cozinha Contemporânea). Esperava, diante de algumas altercações e percalços, que a P2, cujo objetivo é testar nosso conhecimento teórico, fosse do tipo múltipla escolha ou decorativa, com uma série de conceitos que seriam "colados" ou "decorados" e esquecidos dentro do vagão do primeiro trem do metrô que me conduzisse de volta para casa.

Com isso, ao contrário do que previa, as duas últimas provas foram, segundo minha avaliação, dignas de nota (por mim, aluno, contrariamente ao que soe acontecer com as provas). Escrevi, para cada prova, uma página frente e verso com minha opinião. Sei que serei lido e isso me basta. A nota é apenas um detalhe a ser registrado na caderneta e uma exigência ministerial.

A prova dissertativa abre a possibilidade de nos dar, aos alunos, voz, que, para mim, é o que realmente as faculdades têm obrigação de fazer: nos dar voz, nos fazer, ao mercado, aos colegas e a todos, ouvir. Porque são muitos os que falam e poucos os que nos permitem que falemos, de fato. E hoje isso ocorreu. Por isso, tenho que me regojizar.

Para celebrar o final da temporada da P2, me esbaldei e caí na balada (escrevo este post no alvorecer da madrugada de sábado, quando a Hora do Angelus (que pode ser às 6, 12 ou 18 horas, escolha o que lhe parecer mais apropriado) já soou e, segundo algumas crenças, o meu próprio anjo já bateu as asas, revoltado porque passei a noite fora, na esbórnia. Sorry, anjo, também sou filho do seu Pai.

Mas, não é o fim do semestre e o início das esperadas, desejadas, merecidas férias: teremos reposições na próxima semana e o TOCC (Transtorno Obsessivo de Conclusão de Curso). Aguarde que ainda haverá choro e ranger de dentes neste recinto.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Rastreio de Cozinha - 81


A-L-Í-V-I-O!!!! Tenho que grifar assim porque é essa a sensação, de grande, imenso alívio por ter cumprido (ainda que parcialmente) mais uma etapa do Tentativa de Cabar Comgio (TCC, para os íntimos). Foi hoje, quinta-feira, 26.

Para os que me acompanham por aqui, muitas vezes eu ignoro solenemente o TCC. Mas, ao contrário, o TCC é feito mulher de malandro: quanto mais dou porrada e ignoro, mais o projeto me ama, me telefona, pergunta se está tudo bem. Em resumo: ata-me, como um personagem almodovariano que fica em suspenso até que um outro acontecimento mais grave do que o anterior o mova.

Se eu fosse Almodovar, por certo, inventaria um TCC multi-colorido, breguíssimo, de cabelos longos e correntes de ouro e que se apaixonasse por Victoria Abril irremediavelmente. Mas, é muita viagem. Voltemos ao mundo de baixo, descolorido mesmo.

Passa-se que, desde o último final de semana, meu mantra é TCC, TCC, TCC. Nada de "vamos tc?", "quer tc comigo" e outras bobices de chats. Não! Nada disso.

O Tratamento de Caroço Craquento é de outra esfera. Requer uma série de detalhes. Obedece a uma série de regras cartesianas, lá das profundas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Uma hora é caixa alta e baixa. Outra, negrito. Outra ainda, espaço 3 de cabeçalho, espaço 2 à esquerda.

Não tem estética nenhuma. A lógica, já que tudo é tão cartesiano, deveria existir em alguma sequência. Pois não tem lógica alguma. Apenas uma repetição de dogmas estabelecidos, imagino, por sisudas pessoas que não têm o que fazer durantes as fastidiosas horas e matam o tempo com exigências absurdas. Um ano vale a fonte Arial. No outro, a Times New Roman. Who cares? Me diga! A academia brasileira sofre de um retrógrado barroquismo, na minha opinião.

Sei que o post está um samba do crioulo doido, mas, depois da correria de hoje, tenho todo o direito de esbravejar e blasfemar. Passei o dia todo com o TCC colado no meu pescoço. Eram 17:30 horas e eu estava lá na Pamplona a montar três cópias encadernadas do TCC.

Sim, porque, se hoje foi, finalmente, a entrega de mais uma etapa, não se iluda, meu(minha) caro(a): na próxima quinta-feira, dia 3, estaremos perante a banca, a sofrer os horrores de um TCC em exposição.

Mas, por ora, chega de TCC. Quero tc, apenas. Hoje também tivemos prova de Geografia Aplicada à Gastronomia. Como você deve adivinhar, por conta daquelas três letrinhas abomináveis acima, não tive um mísero segundo para folhear as várias apostilas de França, Itália, Espanha, Portugal, Alemanha, Índia, Tailândia, Japão, China, Brasil, EUA, México, Chile e mais alguma outra que devo ter me esquecido.

Tudo era para a prova de hoje. Ontem, tivemos aula de Geografia. É! E, para os que, como eu, adivinhamos a primeira prova desencanada, dessa temporada, fomos felizes: a prova foi com consulta. E ainda os teve, colegas, quem errou!!! Fazer o quê?

Acho que é a primeira e última prova da P2 na qual recuperarei algum brio, diante de tal performance que ando a cometer.

Pelo sim, pelo não, vou torcer sem cantar vitória. Porque amanhã, para fechar com chave de ouro, teremos as duas últimas provas da temporada: Cozinha Brasileira e Cozinha Contemporânea.

Não sei a sua opinião, mas, cozinhar nunca foi tão difícil! E sem comida, ainda!!!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Rastreio de Cozinha - 80

Ai! Como eu sempre digo, a vida não é justa, amigo(a). E não o afirmo com a intenção de derramar sobre você o caldo (ou a calda, neste caso) dos meus fracassos. Mesmo porque você não tem nada com isso. É apenas uma constatação.


Afinal, com tanta interatividade, ainda não tivemos os benefícios (justiça sempre, independentemente do beneficiário merecê-la) que poderão vir com a clonagem, reprodução assistida, programação dos cromossomos e outros devaneios que ainda não transpuseram o muro da ficção científica.

Nesta quarta-feira, 25, faz exatos quatro meses que começou o meu ano letivo. Ao todo, 80 aulas, o que significa dizer 80 dias úteis (os teve os quais eu não estive presente em corpo; mas, se servir, o fiz à distância, meio ectoplasma, por assim dizer). De onde concluo que completo com algum louvor os 80 dias. São exatos 115 dias corridos desde o agora longínquo dia 25 de fevereiro deste ano.

Bem, como eu aleguei, já em antecipada defesa, que a vida não é justa, explico porque. Hoje tivemos prova de Confeitaria e, ainda ontem, eu, sem ser um visionário ou mago, afirmei que ao contrário da ducilidade que cerca as produções de confeitos, em geral, o dia de hoje seria amargo. E o foi.

A prova constituiu-se de quatro questões e, desta vez, ao contrário de ontem e anteontem, eu me recordo perfeitamente das perguntas (não ipsis literis, que não tenho memória fotográfica):

1) Comente sobre o chocolate fracionado e o chocolate hidrogenado.

O chocolate fracionado é feito com gordura de coco (palmisde) e o chocolate hidrogenado é feito com óleo de soja, ao contrário do chocolate nobre (que é o único chocolate verdadeiro), feito com alto percentual de manteiga de cacau. Ambos, o chocolate fracionado e o hidrogenado, são usados para cobertura.

2) Qual é a diferença entre o merengue francês e o merengue italiano?

O merengue francês não passa por processo de cocção, enquanto o merengue italiano é levado ao fogo.

3) Fale sobre o resfriamento do chocolate (derretimento e banho-maria).

Ao processo de resfriamento e derretimento do chocolate se dá o nome de temperagem. Para o derretimento, o chocolate deve ser levado ao fogo, em banho-maria, à temperatura de 42 ºC. Para o resfriamento, o chocolate deve ser resfriado a 28 ºC-29 ºC. A temperagem somente deve ser feita para os chocolates do tipo nobre e diet.

4) Comente o processo de montagem da Torta Moderna.

A Torta Moderna é composta das seguintes partes:

4.1. Fundo (base) de biscoito.
4.2. Massa Joconda com Patê Cigarette
4.3. Mousse de Manga
4.4. Manga Caramelada
4.5. Mousse de Manga
4.6. Chantilly
4.7. Espelho de Manga
4.8. Cobertura com decoração de chocolate e de caramelo

Os resultados???? Amargo na boca, no estômago e até mesmo uma renitente azia! Acertei a primeira e a terceira questões. Errei a terceira por completo e, das oito partes da Torta Moderna, me lembrei de apenas quatro, das quais, por fim, uma ainda estava errada.

Você acha mesmo que eu mereço um doce ou que devo roubá-lo de alguma criança?

Amanhã, grande dia, entrega do TCC ........................ (os pontinhos significam que estou com calafrios desde já). E prova de Geografia Aplicada À Gastronomia. Pauta: França, Itália, Portugal, Alemanha, Ásia e América Latina (Brasil, México e Chile). Sem doce ou salgado que equilibre o bom andamento dessa vida, o que a torna, de fato, injusta.

O poder do fracasso

Minha querida amiga Alessandra, que vive e trabalha em NY, é uma pessoa que some, desaparece, não emite sinais virtuais ou reais. Parece que atravessa a Central Station para um outro universo de vez em quando. Se, periodicamente, ela não visitasse o Brasil, eu diria que essa bruxinha está na escola de Hogwarts, como professora de magia. De vez em quando, no entanto, dá o ar de sua graça. Desta vez, em e-mail coletivo (marca registrada da criatura), nos enviou o discurso de abertura da cerimônia dos graduandos de Harvard.

Segundo a Ale, muitos alunos torceram o nariz quando descobriram que quem faria o discurso de abertura seria a autora J.K. Rowling (Joanne Kathleen Rowling), da saga de Harry Potter, o bruxinho mais famoso de todos os tempos.

O discurso, que reproduzo abaixo, é longo. Mas, se você tiver tempo, leia. Rowling fala do fracasso e do seu aprendizado na Anistia Internacional, onde trabalhou. Ale, não é que temos entre nós nossos próprios Comensais, não da morte, como diz a autora, mas, da vida?!


"Presidente Faust, membros da Corporação Harvard e da Câmara de Administradores, membros do corpo docente, pais orgulhosos e, acima de tudo, diplomados. A primeira coisa que eu gostaria de dizer é muito obrigado. Não apenas Harvard me deu uma honra extraordinária, mas, as semanas de medo e náusea que eu tenho experimentado em pensar de fazer esse discurso na cerimônia de formatura me fez perder peso. Uma situação com ganho das duas partes! Agora, tudo o que eu tenho a fazer é respirar fundo, dar uma olhada nas bandeiras vermelhas e enganar a mim mesma acreditando que estou na mais educada convenção Potter do mundo. Fazer um discurso de formatura é uma grande responsabilidade; ou assim eu pensava até voltar a minha mente para a minha própria formatura. O orador da cerimônia daquele dia foi a distinta filósofa britânica Baronesa Mary Warnock. Refletir em seu discurso me ajudou enormemente a escrever esse aqui, porque percebi que eu não conseguia lembrar de uma única palavra que ela disse. Essa descoberta libertadora me levou a prosseguir sem qualquer receio de que eu poderia influenciar vocês inadvertidamente a abandonar suas carreiras promissoras no negócio, justiça ou política para as delícias vertiginosas de se tornar um bruxo gay.

Estão vendo? Se tudo o que vocês se lembrarem nos próximos anos for a piada do “bruxo gay”, eu ainda saí à frente da Baronesa Warnock. Objetivos alcançáveis: o primeiro passo para o sucesso pessoal.

Na verdade, eu tenho movido minha mente e meu coração para o que eu deveria dizer hoje a vocês. Perguntei a mim mesma o que desejaria ter ficado sabendo em minha própria formatura, e quais lições importantes eu aprendi nos 21 anos que se passaram entre aquele dia e esse.

Surgiram-me duas respostas. Nesse dia maravilhoso, quando estamos todos reunidos para celebrar seu sucesso acadêmico, eu tomei a decisão de falar com vocês sobre os benefícios de um fracasso. E, como vocês estão no limite do que muitas vezes é chamado de ‘vida real’, eu quero exaltar a importância crucial da imaginação.

Essas podem parecer escolhas quixotescas ou paradoxais, mas, por favor, me ouçam.

Olhar para trás, aos meus 21 anos de idade que eu tinha na formatura, é uma experiência um pouco desconfortável para a de 42 anos na qual ela se tornou. Metade do tempo de minha vida, eu estava notavelmente com um equilíbrio preocupante entre a ambição que eu tinha para mim mesma, e o que aqueles mais próximos esperavam de mim.

Estava convencida de que a única coisa que eu queria fazer, sempre, era escrever romances. No entanto, meus pais, ambos os quais vieram de origens pobres e nenhum dos quais tinham ido à faculdade, tiveram a idéia de que a minha imaginação hiperativa era um loucura pessoal de divertimento e que nunca poderia pagar uma hipoteca, ou garantir uma pensão.

Eles tinham esperanças de que eu teria um grau vocacional; eu queria estudar Literatura Inglesa. Um compromisso que foi alcançado e que, em retrospectiva, não satisfez ninguém, e eu fui estudar Idiomas Modernos. Mal o carro dos meus pais dobrava a esquina no fim da rua e eu descartava Alemão e corria abaixo para os corredores de Clássicos.

Não me lembro de dizer aos meus pais que estava estudando Clássicos; eles podem muito bem ter descoberto pela primeira vez no dia da graduação. De todos os assuntos desse planeta, acho que eles dificilmente poderiam apontar um nome menos útil do que Mitologia Grega, quando isso veio para assegurar as chaves para um banheiro executivo.

Eu gostaria de deixar claro, entre parênteses, que não culpo meus pais pelo seu ponto de vista. Existe uma data de validade em culpar seus pais por colocá-lo na direção errada; o momento que você é velho suficiente para tomar a direção, a responsabilidade recai sobre você. Além disso, eu não posso criticar meus pais por esperarem que eu nunca experimentasse a pobreza. Eles tinham sido pobres, e eu já fui pobre, e concordo completamente com eles de que esta não é uma experiência que enobrece. A pobreza implica em medo, e estresse, e, algumas vezes, depressão; isso significa milhares de pequenas humilhações e dificuldades. Escalar para sair da pobreza por seus próprios esforços é de fato algo para se orgulhar, mas, a pobreza em si é romantizada apenas por tolos.

O que eu mais temia para mim na idade de vocês não era a pobreza, mas, o fracasso.

Na sua idade, apesar de uma clara falta de motivação na universidade, onde eu tinha gastado muito tempo escrevendo histórias em bares de café, e pouquíssimo tempo em palestras, eu tinha uma habilidade especial para passar em exames e que, por anos, tinha sido a medida de sucesso na minha vida e nas de meus colegas.

Não sou tola o suficiente para supor que, por serem jovens, talentosos e bem educados, vocês nunca tiveram dificuldades ou mágoas. O talento e a inteligência nunca vacinou ninguém contra o capricho do destino, e por nem um momento eu supus que todos aqui têm se beneficiado de uma existência de privilégios serenos e contentamento.

No entanto, o fato de vocês estarem se graduando em Harvard sugere que não estão muito bem familiarizados com o fracasso. Vocês poderão ser conduzidos por um receio de fracasso tão grande quanto um desejo pelo sucesso. De fato, sua concepção de fracasso pode não estar muito longe da idéia de sucesso de uma pessoa comum, tão alto que vocês já voaram academicamente.

No fim das contas, todos nós temos de decidir por nós mesmos aquilo que constitui o fracasso, mas, o mundo é bastante ávido para lhe dar um conjunto de critérios, se você deixá-lo. Por isso acho justo dizer que por qualquer medida convencional, meros sete anos após o dia da minha formatura, eu tinha fracassado em escala épica. Um casamento de excepcionalmente curta duração, e eu estava sem emprego, mãe solteira, e tão pobre quanto é possível ser na Grã-Bretanha moderna sem ser uma desalojada. Os receios que meus pais tinham tido para mim, e que eu tinha tido para mim, ambos tinham vindo para passar, e por cada padrão normal, eu era a maior fracassada que eu conhecia.

Agora, eu não vim para ficar aqui e lhes dizer que o insucesso é divertido. Esse período da minha vida foi bem obscuro, e eu não tinha idéia de que ia acontecer aquilo que a imprensa tem, desde então, descrito como uma espécie de fim de conto de fadas. Eu não tinha idéia do comprimento do túnel, e por muito tempo, qualquer luz em seu fim era mais uma esperança do que realidade.

Então, por que eu falo sobre os benefícios do fracasso? Simplesmente porque fracasso significa se despir do não-essencial. Eu parei de fingir a mim mesma que eu era qualquer outra que não eu, e comecei a orientar toda a minha energia em terminar o único trabalho que importava para mim. Se eu realmente tivesse alcançado sucesso em qualquer outra coisa, poderia nunca ter encontrado determinação para ter sucesso naquela área na qual eu verdadeiramente acreditava que pertencia. Eu estava em liberdade, porque o meu maior receio já tinha sido realizado, e ainda estava viva, e ainda tinha uma filha a quem adorava, e tinha uma velha máquina de escrever e uma grande idéia. O fundo de pedra do poço se tornou a base sólida sobre a qual reconstruí a minha vida.

Talvez vocês nunca falhem na escala que falhei, mas, alguns fracassos na vida são inevitáveis. É impossível viver sem falhar em algo, ao menos que você viva de forma tão cautelosa que você poderia não ter vivido de forma alguma - nesse caso, você falha por omissão.

O fracasso me deu uma segurança interna que eu nunca tinha atingido passando em exames. O fracasso me ensinou coisas sobre mim que eu não poderia ter aprendido de nenhuma outra forma. Descobri que tinha uma forte vontade e mais disciplina que suspeitava; também descobri que tinha amigos cujo valor estava realmente acima de rubis.

O conhecimento que você adquire sábia e fortemente a partir de uma derrota significa que você está, sempre depois, seguro em sua capacidade de sobreviver. Vocês nunca vão conhecer verdadeiramente a si mesmos, ou a força de seus relacionamentos, até que ambos tenham sido testados em adversidade. Esse conhecimento é um verdadeiro dom para todos os que venceram penosamente, e tem valido mais para mim do que qualquer qualificação que já ganhei.

Se me fosse dada uma máquina do tempo ou um Vira-Tempo, eu diria a mim aos 21 anos que a felicidade pessoal reside em saber que a vida não é uma lista de verificação de aquisições ou realizações. As suas qualificações, seu currículo, não são sua vida, embora você vá conhecer muitas pessoas da minha idade e mais velhas que confundem as duas coisas. A vida é difícil e complicada, e além do controle total de qualquer um, e a humildade de saber isso irá te capacitar a sobreviver às suas subidas e descidas.

Vocês poderiam pensar que escolhi meu segundo tema, a importância da imaginação, devido ao seu papel na reconstrução de minha vida, mas não é inteiramente por isso. Ainda que eu defenda o valor de contar histórias para dormir até meu último suspiro, tenho aprendido a valorizar a imaginação em um sentido muito mais amplo. A imaginação não é apenas a única capacidade humana para prever aquilo que não é, e, por conseguinte, a fonte de todas as invenções e inovações. Na sua argumentável mais transformadora e capacidade reveladora, é o poder que nos permite simpatizar com seres humanos cujas experiências nós nunca compartilhamos.

Uma das maiores experiências da minha vida precedeu Harry Potter, apesar dela entregar muito do que eu escrevi nesses livros em seguida. Essa revelação veio na forma de um dos meus primeiros empregos diurnos. Embora estivesse inclinada a escrever histórias durante minha hora de almoço, paguei o aluguel, nos meus vinte e poucos anos, trabalhando no departamento de investigação na sede da Anistia Internacional, em Londres.

Lá, em meu pequeno escritório, li cartas rabiscadas rapidamente contrabandeadas dos regimes totalitários por homens e mulheres que arriscam serem presos para informar ao mundo exterior do que estava acontecendo a eles. Eu vi fotografias daqueles que tinham desaparecido sem deixar rastro, enviadas à Anistia pelas suas famílias e amigos desesperados. Eu li os testemunhos das vítimas de tortura, descrições de testemunhas oculares dos julgamentos e execuções sumárias, de seqüestros e estupros.

Muitos dos meus colegas de trabalho eram ex-presos políticos, pessoas que tinham sido deslocadas de suas casas, ou fugiram para o exílio, porque eles tiveram a temeridade de pensar independente de seu governo. Os visitantes do nosso escritório incluíam aqueles que tinham vindo para dar informações, ou tentar e descobrir o que havia acontecido àqueles que eles tinham sido forçados a deixar para trás.

Nunca vou esquecer o africano vítima de tortura, um jovem não mais velho do que eu era naquela época, que tinha se tornado mentalmente doente depois de tudo que ele tinha sofrido em sua terra natal. Ele tremia incontroladamente enquanto falava para uma câmera de vídeo sobre a brutalidade exercida contra ele. Ele era alguns centímetros mais alto que eu, e parecia tão frágil quanto uma criança. Foi-me dada a tarefa de escoltá-lo à estação de metrô mais tarde, e esse homem cuja vida foi destroçada pela crueldade pegou a minha mão com sensível cortesia e me desejou um futuro de felicidade.

E, enquanto eu viver, vou lembrar de caminhar por um corredor vazio e, de repente, ouvir por detrás de uma porta fechada, um grito de pânico e horror como nunca ouvi antes. A porta se abriu, e a pesquisadora enfiou sua cabeça e me disse para correr e fazer uma bebida quente para o jovem homem sentado com ela. Ela tinha acabado de lhe dar a notícia de que, em retaliação por sua própria sinceridade contra o regime de seu país, sua mãe havia sido presa e executada.

Todos os dias da minha semana de trabalho no início dos 20 anos eu era lembrada do quão incrivelmente sortuda era por viver em um país com um governo democraticamente eleito, onde um representante legal e um julgamento público eram os direitos de todos.

Todos os dias, via mais provas sobre como os males da humanidade vão infligir sobre os seus companheiros, para obter ou manter o poder. Comecei a ter pesadelos, literalmente pesadelos, acerca de algumas das coisas que vi, ouvi e li.

E, ainda assim, aprendi mais sobre a bondade humana na Anistia Internacional que eu nunca havia sabido antes.

A Anistia mobiliza milhares de pessoas que nunca foram torturadas ou presas por suas crenças a agir em nome daqueles que já foram. O poder da empatia humana, que conduziu à ação coletiva, salva vidas e liberta prisioneiros. As pessoas comuns, cujo bem-estar pessoal e segurança estão assegurados, juntam-se a um grande número para salvar pessoas que eles não conhecem e nunca vão conhecer. Minha pequena participação nesse processo foi uma das experiências mais inspiradoras da minha vida.

Diferente de qualquer outra criatura nesse planeta, os seres humanos podem aprender e compreender sem terem experimentado. Eles podem pensar em si mesmos na mente de outras pessoas, se imaginar no lugar de outras pessoas.

Evidentemente, esse é um poder, como a minha marca de magia fictícia, que é moralmente neutro. Podemos usar a habilidade tanto para manipular, ou controlar, como simplesmente para compreender ou simpatizar.

E muitos preferem não exercer suas imaginações de forma alguma. Eles optam por permanecer confortavelmente dentro dos limites de sua própria experiência, nunca se preocupando em perguntar como seria ter nascido diferente do que são. Eles podem se recusar a ouvir os gritos ou espreitar dentro das grades; eles podem fechar suas mentes e corações para qualquer sofrimento que não os toque pessoalmente; eles podem se recusar a saber.

Eu poderia ser tentada a invejar pessoas que conseguem viver dessa maneira, exceto por achar que eles não tem menos pesadelos que eu. Escolher viver em espaços estreitos pode levar a uma forma de agorafobia (medo de lugares abertos), e que traz isso aos seus próprios pavores. Eu acho que o intencionalmente sem imaginação vê mais monstros. Muitas vezes eles têm mais medo.

Além disso, aqueles que optam por não se simpatizar podem ser os verdadeiros monstros. Sem nunca cometer um ato claro de maldade à gente, nós colaboramos com isso através da nossa própria apatia.

Uma das muitas coisas que aprendi no fim do corredor de Clássicos no qual me aventurei aos 18 anos, em busca de algo que eu não poderia definir, foi isso, escrito pelo autor grego Plutarco: O que nós alcançamos internamente mudará a realidade exterior.

Essa é uma afirmação surpreendente e ainda comprovada milhares de vezes todos os dias da nossa vida. Ela exprime, em parte, a nossa inadiável ligação com o mundo exterior, o fato de que nós tocamos as vidas de outras pessoas simplesmente por existirmos.

Mas, o quanto vocês estão, diplomados de 2008 de Harvard, provavelmente tocando as vidas de outras pessoas? Sua inteligência, sua capacidade para o trabalho duro, a educação que vocês ganharam e receberam, dão a vocês status e responsabilidades únicos. Até a sua nacionalidade os destaca. A grande maioria de vocês pertence à única superpotência remanescente do mundo. A maneira que você vota, a maneira que vive, a maneira que protesta, a pressão pela qual você passa para sustentar seu próprio governo, tem um impacto muito além de suas fronteiras. Esse é o seu privilégio e o seu fardo.

Se você escolher usar seu status e influência para levantar sua voz em nome daqueles que não têm voz; se você optar por se identificar não apenas com os poderosos, mas com a impotência; se você manter a capacidade de imaginar a si mesmo na vida daqueles que não têm as suas vantagens, então não vão ser apenas as suas orgulhosas famílias que vão celebrar a sua existência, mas milhares e milhões de pessoas cuja realidade você tem ajudado a transformar para melhor. Nós não precisamos de magia para mudar o mundo, nós já carregamos todo o poder que precisamos dentro de nós mesmos: nós temos o poder de imaginar melhor.

Estou quase terminando. Tenho uma última expectativa para vocês, que é algo que já tinha aos 21. Os amigos com quem me sentei no dia da formatura têm sido os meus amigos para a vida. Eles são os padrinhos dos meus filhos, as pessoas a quem eu tenho sido capaz de recorrer em momentos de dificuldades, os amigos que têm a gentileza de não me processar quando usei seus nomes para os Comensais da Morte. Na nossa formatura, fomos ligados por uma enorme afeição, pelas nossas experiências compartilhadas de um tempo que nunca poderia voltar e, é claro, pelo conhecimento que temos guardado em certas evidências fotográficas que seriam extremamente valiosas se alguns de nós concorresse a Primeiro-Ministro.

Portanto, hoje posso lhes desejar nada melhor do que amizades parecidas. E amanhã, mesmo se vocês não lembrarem uma única palavra minha, espero que se lembrem aquelas de Seneca, outro desses antigos romanos que conheci quando fugi para o corredor de Clássicos, em fuga de uma carreira promissora, em busca da antiga sabedoria:

Conforme um conto, assim é a vida: não o quão longa ela é, mas o quão boa, é o que importa.

Desejo a todos vidas muito boas.

Muito obrigado."

Rastreio de Cozinha - 79

Nesta terça-feira, 24, não houve nenhuma confusão quanto a horários de provas. Mas, tampouco houve facilitacões. A prova foi de Panificação e, se alguém duvida que gastronomia isenta um ser humano de entender de uma vez por todas de matemática, pode tirar o cavalinho da chuva.


Assim como o meu amigo Ferran (o Adrià) entende de química para fazer flutuar comida feito espuma, em panificação (e em todas as demais disciplinas) há que se entender de matemática e de regra de 3 para fazer as fichas técnicas.

Pois a prova dos 9 foi exatamente a prova: duas questões de matemática, de cálculo de rendimento de pão. Esse tipo de cálculo é feito para saber quantos pães serão produzidos com uma determinada receita. Como abomino a matemática e os conceitos abstratos dessa ciência me parecem inatingíveis, claro que, muito provavelmente, não acertei fazer os cálculos. Aliás, segundo meus próprios cálculos, acertei dois terços dessa conta, o que não quer dizer muita coisa.

(Este é o fungo Saccharomyces cerevisiae, mas, pelos íntimos, gosta de ser chamado de saprótrofo unicelular)

Hoje foi o dia dos erros: me lembro do que errei, ao contrário de ontem. Errei a Reação de Maillard (reação do açúcar com proteínas; respondi açúcar com gordura); errei o percentual da casca do grão do trigo (14,5%, e não 10,5%, como respondi); errei sobre a presença do açúcar no leite (lactose, e não sacarose); errei sobre os níveis de calor pelos quais a gordura entra em ebulição e atinge o ponto de fumaça (entre 35,5 ºC-39,5 ºC, e não entre 50 ºC-55 ºC).

Como você pode perceber, números, em definitivo, não são o meu forte. Em compensação, descobri que a leitura de uma apostila no metrô lotado pode ser altamente reveladora, ainda mais quando cercado por 556 olhos que lêem junto comigo pela absoluta falta de espaço para que os colegas de enlatado possam olhar para outros alvos mais interessantes: lembrei qual era o fungo do fermento porque li isso no metrô, entre uma encoxada e uma engulida de cabelos alheios: o maldito fungo chama-se Saccharomyces cerevisiae que, conforme a apostila de panificação, trata-se de um ser saprótrofo unicelular.

Talvez por relacionar a convivência forçada no metrô a um universo unicelular, onde todos os anônimos somos, por instantes, íntimos, lembrei até mesmo em que ponto da apostila estava escrito o nome do bichinho (rodapé). É incrível a habilidade da mente em divagar, não é?

Amanhã (hoje) tem Confeitaria que, a despeito de ser a parte doce de toda a história, tende a se revelar mais amarga do que os chocolates que são base de suas produções. Nhãnnnn!!!!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Rastreio de Cozinha - 78

Esta segunda-feira, 23, abriu oficialmente a semana das provas finais do semestre (as temidas P2). Claro que, como imaginávamos, nada nos foi facilitado. A prova estava prevista para começar, no máximo, às 19 horas. Começou às 20:30 horas. Coisas de faculdade altamente planejada.


Saí de casa atrasado, tomei o metrô lotado e, entre a estação Brigadeiro e a Paraíso, fui de "sardinha" que, pior do que o modo "lagartixa", consiste em ficar encurralado entre passageiros e o vidro da porta. No modo "lagartixa" você gruda onde dá, inclusive no teto. No modo "sardinha", você é acondicionado entre os demais "peixes" sem ao menos algum KY gel, ops!, um oleozinho. Alguns ratos devem ter guinchado diante da passagem da minha face amassada no vidro. Não havia espaço sequer para levantar a apostila à altura dos olhos e lê-la.

Devido a problemas com meus computadores, impressora e roteador, um técnico passou das 14 às 18 horas em casa para arrumar tudo. Agora, ao menos, tenho uma mini-rede Wi-Fi em casa, com tudo conectado: dois desktops, um notebook, uma impressora e o iPhone que, dentro da minha casa, funciona na rede Wi-Fi. Mas, por conta disso, me atrasei e, pela primeira vez, porcamente (não que eu me importe, óinc! óinc!), saí sem sequer tomar banho.

Para chegar lá e descobrir que teríamos que esperar duas horas. Claro que, nessa hora, há dispersão porque você não consegue se concentrar para estudar. E tampouco eu acho que em uma hora dá para assimilar alguma coisa.

A prova foi de Cozinha Internacional Ocidental. Tivemos, nesses quatro meses, aulas práticas do México, França, Itália, Espanha, Portugal, Alemanha, Países Nórdicos (Finlândia, Noruega, Dinamarca e Suécia), Grécia e Líbano. E uma apostila imensa com todas essas cozinhas.

A prova não foi fácil, ao contrário do que o professor nos fez crer nas vésperas. Alguns exemplos de questões das quais me lembro e que acertei: as mais famosas regiões produtoras do legítimo champagne (resposta: Reims e Épernay); maiores regiões portuguesas produtoras de azeite (Trás os Montes, Douro, Beira Alta, Beira Baixa, Pinhel e Castelo Rodrigo); ilha que se tornou entreposto importante e produtora de cana-de-açúcar e de vinhos (Madeira); vinho de mosto de cepa branca (Riesling). Foram dez questões ao todo, desse nível. Somente a parte de conteúdo da apostila (exceto as fichas técnicas) tem 143 páginas.

Como você pode ver, não é nada fácil. Pra finalizar, claro que houve dispersão da classe enquanto aguardávamos a prova. Nesse meio tempo, fomos à padaria, não muito perto, para comer alguma coisa e tomar café. Uns 15 minutos depois, um dos celulares tocou e alguém avisou que a prova já havia começado (eram 20:30 horas). Saímos (cinco pessoas) e voltamos para a faculdade. Fizemos (a maioria) a prova em 15, 20 minutos (quando você não sabe nada, é melhor ir embora logo que a cabeça dói menos).

Os que ficaram, na esperança, talvez, de que alguma luz divina iluminasse a prova ou de que alguma cola miraculosa pousasse sobre as mesas (eram duas provas diferentes e muito rigor na fiscalização; parecia um exame final de admissão militar), foram devidamente enxotados da classe exatamente às 21 horas porque uma outra turma e prova aconteceriam naquele exato espaço.

Eu, graças à minha pressa de não me prender a questiúnculas (da prova), já havia saído. Esta faculdade é ou não um primor de organização? E isso porque somos, supostamente, veteranos (estamos no segundo e último ano). Respeito? Para que, afinal? Um horror! E amanhã tem mais!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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