Contínuo: não há interrupção, é constante e sucessivo.
Intermitente: que apresenta interrupções de intervalos em intervalos.
Telefonia: inventada em 1860 pelo italiano Meucci, e não por Alexander Graham Bell, conforme reconhecido pelo governo norte-americano em 2002.
Banda larga: surgiu entre 1997 e 1998, com o cable modem (da TV a cabo) e, depois, em 1999, com o DSL (das operadoras de telefonia fixa). Até então, o acesso à internet era discado (ou dial up), no que se convenciona chamar de banda estreita (até 56 Kbps), feito a partir da linha comum do telefone fixo.
Banda larga da NET, nome-fantasia Vírtua: sistema híbrido de acesso rápido à internet que une duas tecnologias: cable modem ou cabos coaxiais e fibra óptica.
Agora que expliquei os termos técnicos, vou discorrer sobre o conteúdo que extrapola os significados desses conceitos.
Embora a NET seja, originalmente, uma operadora de TV por assinatura, passou a oferecer, por conta da evolução tecnológica, mais dois serviços adicionais: a telefonia fixa (Net Fone), em conjunto com a rede da Embratel (no padrão IP, ou internet protocol) e a banda larga sobre a rede de cabos da NET, cabo esse pelo qual vem o mesmo sinal da TV por assinatura.
A NET é uma autorizatária, ou seja, está autorizada a prestar serviços de telefonia e de acesso de alta velocidade à internet. Ao contrário de concorrentes como Oi, Telefônica e Embratel, que são concessionárias e estão sujeitas a metas de qualidade contratuais, garantidas quando da assunção das respectivas concessões, em 1998, na privatização do Sistema Telebrás.
Nem por isso, porém, deve deixar de oferecer ao assinante a qualidade de um serviço que se contrata para ser contínuo, e não intermitente. Mas, por incrível que pareça, o serviço de banda larga Vírtua, digital na teoria, funciona mais ou menos da mesma forma que os antigos aparelhos celulares. Explico: você se lembra que todos os celulares tinham luzinhas (LED) que piscavam intermitentemente? Pois é! Mas a rede, bem ou mal, funcionava. Intermitência, no caso, era apenas o sinal da frequência, que conectava (e conecta) o aparelho à estação radiobase.
Pois, atualmente, o Vírtua funciona assim: há um modem, com 6 LEDs que devem, exceto um, ficarem acesos continuamente. O único intermitente é o sinal do link (da internet). Pois de 2 em 2 minutos, se não menos, todos os LEDs apagam-se abruptamente. Isso tem ocorrido com bastante frequência, sem trocadilhos com a rede móvel, e, de ontem para hoje, a intermitência durou mais de 13 horas.
Ao longo do dia de hoje, por exemplo, essa intermitência é contínua, o que prova que as palavras, embora queiram significar coisas bastante distintas, acabam por agregar um só significado a um serviço que, a priori, deveria ser contínuo, e nunca intermitente.
No site da NET, há uma descrição da tecnologia de banda larga que diz o seguinte: "os cable modems escolhidos pela NET para utilização do Vírtua são da Terayon, empresa americana que desenvolveu a tecnologia S-CDMA (Synchronous Code Division Multiple Access). Um dos principais diferenciais dessa tecnologia é sua grande imunidade a ruído, o que confere confiança, robustez e performance de campo comprovada em diversas operações de cabo em todo o mundo". Está lá, ipsis literis, dessa forma.
O que me confere o direito de retrucar: quisera eu que houvessem ruídos, gemidos, gritos ensurdecedores no cabo para que os bits convertessem-se em: 1. sinal da TV paga; 2. sinal contínuo de telefone; 3. sinal de acesso à internet, sem o qual eu sucumbo (se não por adicto que sou, que seja por conta do trabalho, pois que dependo de telefone e de acesso à internet para trabalhar).
É que, aparentemente, por banal que seja a propalada era digital na qual, teoricamente, todos estamos, me parece que equipamentos e sistemas agem como se analógicos fossem porque: 1. a TV desliga sozinha quando perde o sinal; 2. o telefone ficou mudo por tanto tempo que emigrei de um mundo para o outro; e 3. voltei a 1996, quando ainda havia BBS e o acesso era apenas discado.
As 13 agônicas horas que permaneci sem conexão, com um ligeiro intervalo de acesso de 40 minutos, transformaram-se, nesta sexta-feira, em um rosário feito de contas - minuto sim, minuto não, minuto não de novo, a internet sofreu pequenos colapsos. Ou apenas intermitência, e não continuidade.
Hoje, depois de me exasperar com a falta de acesso, liguei para a central de atendimento da NET. Reproduzo a mensagem inicial, antes mesmo de ter a oportunidade de teclar qualquer número: "Eu vejo que você está ligando de um número de telefone cadastrado e também identifico aqui que temos alguns problemas técnicos na sua região, (que está) afetada, sem sinal de internet e telefone. Enfim, estamos fazendo de tudo para resolver os problemas o mais rápido possível, mas a previsão mais recente é que o serviço deve estar normalizado até às 13:30 horas. Isso é tudo o que se sabe no momento, até mesmo na nossa central de atendimento."
Para não incorrer em interpretações equivocadas, ouvi a mensagem algumas vezes e anotei as palavras. O texto foi exatamente esse. A internet realmente voltou, antes da previsão, por volta das 11:30 horas. Mas, durante o resto do dia, permaneceu intermitente, com idas e vindas feito o vento que balança levemente a minha janela.
Um pouco depois disso, recebi uma ligação da NET que, imagino, é de alguma área de controle de qualidade (o prefixo é 51, ou seja, de Porto Alegre e algumas cidades da Grande Porto Alegre). O atendente queria saber se estava tudo bem conforme as minhas solicitações anteriores para a central, feitas por e-mail ou telefone (celular) e me questionava sobre a linha de telefone. Oras, faz mais de 10 dias que eu portei o NET Fone para a Telefônica!
A conclusão a que chego é que a NET não tem controle sobre as linhas. Imagino que se tudo está controlado por um sistema, a operadora tem que saber quem está conectado, quem se desligou e foi para outra operadora e quem não paga as contas. Deixe de pagar a conta e receberá, em poucos dias, um telegrama, tal a rapidez com que fiscalizam o billing (ou faturamento).
Hoje ainda, há pouco, no início da noite, recebo outra ligação da NET. Dessa vez, para saber se o Vírtua está em funcionamento. Isso decorreu, imagino, da minha reclamação com o atendente anterior, para o qual relatei a intermitência do serviço de banda larga.
A Telefônica, operadora para a qual retornei (por enquanto, apenas para o serviço de voz), está proibida de vender acessos de internet Speedy até que apresente uma solução para os contínuos (esses sim, são sempre contínuos) problemas que tem apresentado na banda larga. Sugiro que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), cujo papel é o de fiscalizar e exigir o cumprimento de qualidade no serviço, exerça o mesmo papel junto à NET no que tange à telefonia de voz e de acesso à internet.
Ou estaremos pior do que no passado recente, quando não havia nem telefones fixos no mercado. Pois é assim que eu tenho me sentido na relação com a operadora da qual era cliente de três serviços: holiday and workday on ice (a patinar no gelo, tanto nos feriados quanto nos dias úteis). E digo no gelo justamente porque a campanha da NET incita o assinante a sair da Sibéria, gelada, e ir para a NET. Bem, até o momento, quem está na Sibéria somos eu e a própria NET. Ou apenas eu, porque o mundo não é dos nerds.