Ainda no campo da física, um objeto tem determinada cor se, justamente, não absorve os raios correspondentes à frequência dessa cor especificamente. Por exemplo: um objeto é lilás se absorve outras frequências que não a da cor lilás. Parece complicado, a princípio. E é mesmo. O conceito da cor está relacionado aos diferentes comprimentos de onda do espectro eletromagnético.
Sim, é isso mesmo. As mesmas ondas que permitem que você e eu falemos por meio do celular. Na tradução para a prática, essas ondas são por nós percebidas por meio da visão como se fossem uma sensação. O objetivo dessa percepção é diferenciar os objetos do espaço que os cercam com maior precisão. Bonito isso, não é?
E por que eu afirmo que minha vida é branca, atualmente? Porque a cor branca é resultado da sobreposição de todas as cores (descartei o preto, que é a ausência de luz, e luz, thanks, eu a tenho o suficiente).
Mas, se ando a ver o mundo em branco, devo estar com alguma célula desajustada, você pode afirmar. Não exatamente. É indiscutível que, a não ser que sejamos daltônicos, todos vemos e entendemos as cores. Mas a cor não existe fisicamente. E, sim, apenas em representação do cérebro. Os objetos não têm cor, efetivamente. A cor, de fato, corresponde a uma sensação interna provocada por estímulos físicos que, ao final, dão origem à percepção dessa cor para o ser humano.
Ao compreender isso, eliminei as categorias de cor da mente e passei a ver o mundo em branco. Isso corresponde, na prática, a uma mudança visceral: é como se eu estivesse no Polo Norte, cercado por neve, com roupa branca, sem espelhos, com cachorros totalmente brancos a me guiar e o céu, por uma conjunção de fenômenos naturais, estivesse, também, totalmente esbranquiçado. Nem uma outra cor. Apenas o branco. Um branco aterrador. Onipotente.
Culturalmente, as cores, como todas as coisas, têm significados. Sim, atribuídos por nós mesmos, seres humanos, para conciliar o inexistente com nossas próprias sensações. Veja:
- Cinza: remete à elegância, humildade, respeito, reverência, sutileza.
- Vermelho: sabidamente, é a cor da paixão; é também força, energia, amor, liderança, masculinidade, alegria, perigo, fogo, raiva e revolução. Mas, simbolicamente, significa quase que universalmente "pare", stop!
- Azul: passa a ideia de harmonia, confidência, conservadorismo, austeridade, monotonia, dependência, tecnologia (Bluetooth, Blu Ray), liberdade.
- Ciano: é um azul esverdeado (ninguém nunca sabe a cor do ciano, mas, por analogia, sugiro que você se lembre de "ociano") que transmite tranquilidade, paz, sossego, limpeza e frescor.
- Verde: indica natureza, primavera, fertilidade, juventude (verdes anos), desenvolvimento, riqueza, dinheiro (dólar), boa sorte, ciúmes, ganância e esperança.
- Amarelo: é velocidade, concentração, otimismo, alegria, felicidade, idealismo, riqueza, fraqueza (amarelou!).
- Magenta: nojenta, essa cor. Tem esse nome somente para não assumir que é pink, rosa-choque. Significa luxúria, sofisticação, sensualidade, feminilidade, desejo.
- Violeta: cor sóbria, pode representar espiritualidade, criatividade, realeza, resplandecência e também dor (cor popular no luto).
- Laranja: é uma das cores de que eu mais gosto. Remete a energia, criatividade, equilíbrio, entusiasmo e ao lúdico. Tudo de que eu careço na minha vida em branco.
- Preto: dá ideia de poder, modernidade, sofisticação, formalidade, morte, medo, anonimato, raiva, mistério, azar (gato preto). É uma das cores mais fortes da história da pigmentação e dos pixels.
- Castanho: significa sólido, seguro, calmo, natureza, rústico, estabilidade, estagnação, peso (odeio ter olhos e cabelos castanhos e, finalmente, encontrei a relação cor-peso), aspereza.
- Branco: finalmente, o branco que anda a tomar conta da minha vida. Se diz do branco que é a cor da pureza (passo), inocência (passo), reverência (passo), paz (OK), simplicidade (passo), rendição (passo) e esterilidade (!!!).
Encontro, aqui no branco, o resumo do post: esterilidade. Sem as demais cores, tomado pelo branco, sou apenas estéril. De ideias, de desejos, de energia. Ma vie en blanc é asséptica feito o chão de um hospital-modelo.
Recupero a explicação da ausência de cores na minha vida na longínqua infância: ao contrário de uma determinada amiga, eu e outra amiga, menos favorecidos, costumávamos ganhar canetinhas e lápis de cor nas respectivas embalagens básicas, isto é, aquelas que tinham somente quatro canetinhas (cores básicas) ou meia dúzia de lápis. Nossa amiga poderosa tinha acesso a embalagens com 12 canetinhas (!) e 24 lápis de cor (!!). Quando não àquela maravilhosa caixa com 36 lápis (!!!!). Quanto trauma isso nos causou, a mim e à amiga desfavorecida!
Também nunca entendi porque vinha, sempre, um lápis de cor branca. Hoje compreendo que era um sinal de que as cores me escapariam e aquele enorme e sempre novo (porque nunca usado) lápis branco reluzia, pontudo - e apontado -, como um monumento erigido em homenagem a uma perfeita vida em branco.